sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

RACISMO EM ESCOLA-Secretaria da Justiça investiga denúncia.

A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania abriu processo administrativo para investigar denúncia de racismo na escola Internacional Anhembi Morumbi, no Brooklin (zona sul).
A estagiária Ester Elisa da Silva Cesário, 19, afirma que a diretora do colégio pediu para ela alisasse os cabelos para trabalhar.
Segundo a secretária Eloisa de Sousa Arruda, a lei prevê para casos como esse multa, suspensão da licença de funcionamento e até mesmo a cassação.
O caso de Ester ocorreu poucos dias após a jovem começar a trabalhar como estagiária de marketing na escola.
Ester é negra, tem cabelo crespo e costuma usá-lo solto, na altura dos ombros.
"Isso apenas demonstra que o racismo ainda existe na nossa sociedade, por mais que se negue", afirma a secretaria.
Segundo ela, o processo administrativo foi aberto assim que o órgão tomou conhecimento do caso por meio de redes sociais.

Jefferson Coppola/Folhapress
Ester Cesário, 19, que acusa chefe de ter mandado que ela alisasse os cabelos crespos para trabalhar
Ester Cesário, 19, que acusa chefe de ter mandado que ela alisasse os cabelo crespos para trabalhar.     

A jovem afirma que, em seu primeiro dia no local, a diretora reclamou de uma flor presa em seu cabelo e pediu que ela o prendesse.
Dias depois, Ester teve a atenção chamada novamente. Dessa vez, conta a estagiária, a mulher foi além: disse que compraria camisas mais longas para que Ester escondesse seus quadris.
Porém, foi apenas quando a diretora lhe pediu para alisar o cabelo que a estagiária decidiu registrar um boletim de ocorrência na na Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).
A multa prevista pela legislação estadual é de até R$ 17.450 mil e até R$ 52.350, em caso de reincidência.
Desde julho de 2010, quando a lei foi que prevê punições administrativas para casos de racismo foi promulgada, 90 denúncias foram encaminhadas para a secretaria.
A escola afirma que ainda não foi notificada sobre a investigação da secretaria e nega "veementemente que tenha havido qualquer ato de racismo envolvendo sua equipe administrativa".
Em nota, o colégio lamenta "profundamente que as instruções sobre vestuário passadas à estagiária de marketing as quais foram elaboradas com base em critérios puramente utilitários tenham sido interpretadas de forma equivocada. 
EMILIO SANT'ANNA


Quando o primeiro cabelo "black power" chegou por aqui, na cabeça de Tony Tornado, 81, logo foi evidente que era parte do movimento de afirmação racial dos negros. Nesta semana, 41 anos depois, o ator ficou "enjoado" ao saber que o penteado ainda causa preconceito.
Tony não queria acreditar quando leu, no Facebook, o caso da estagiária Ester Elisa da Silva Cesário, 19.
Ela afirma ter sido alvo de racismo no colégio Internacional Anhembi Morumbi, no Brooklin, zona sul de São Paulo, onde é estagiária.
Assim como Tony, Ester é negra. Seu cabelo é crespo, bate nos ombros. Ela preserva o volume natural dos cachos.
"A discriminação me afetou de tal forma que eu não consigo mais me olhar no espelho e mexer no meu cabelo. Ela [a diretora] mexeu com meu emocional. Estou triste e choro a todo instante", diz.
Para o professor de direito constitucional da Fundação Getulio Vargas (FGV), Oscar Vilhena Vieira, casos como o de Ester são flagrantes desrespeitos à Constituição.
Segundo ele, o caso pode gerar uma ação cível ou criminal. "Para isso, é preciso que fique demonstrada a intencionalidade da discriminação", explica.

Rodrigo Capote-22.jul.11/Folhapress
Tony Tornado, 81, canta no festival "Black na Cena"; artista conta ter ficado "enjoado" com a história

Para Tony, os 41 anos que se passaram desde que se tornou o primeiro a usar um "black power" não foram suficientes para acabar com o preconceito no país.
"Depois que vi a história, fiquei enjoado, pensando como pode acontecer uma coisa dessas em 2011."

OUTRO LADO
 
O colégio Internacional Anhembi Morumbi afirma, em nota, que a direção da escola e o restante da equipe de funcionários com a qual Ester trabalha nunca teve a intenção de causar qualquer constrangimento.
De acordo com a nota, o colégio possui um modelo de aprendizagem inclusivo, que abriga professores, estudantes e funcionários de várias origens e tradições religiosas.
O uso de uniformes por alunos e funcionários é exigido para que o foco da atenção saia da aparência. A instituição afirma que ainda não foi notificada oficialmente sobre o boletim de ocorrência registrado pela estagiária.
O colégio também afirma que entende que o respeito às diferenças é um assunto sério e, por isso, colocou formalmente esse tema em seu estatuto e na grade curricular.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1018334-ator-diz-estar-enjoado-com-chefe-que-mandou-negra-alisar-o-cabelo.shtml

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