sexta-feira, 25 de outubro de 2013

“É possível educar todas as crianças de escola pública em alto nível”

Diretora de rede nos EUA participa de encontro sobre boas experiências no ensino público em São Paulo e diz: a tecnologia livra os professores de tarefas para dar atenção ao aluno

Uma escola com salas sem paredes como as de empresas de tecnologia e em que os professores não dão aulas consegue preparar todos os seus alunos para entrar e ficar quatro anos na faculdade. Ou melhor, um grupo de quatro escolas chamadas de Summit, na California, Estados Unidos, que cumpre a sua missão a risca: desde 2003, quando a primeira unidade foi criada, 96% de todos os seus estudantes foram selecionados para cursar pelo menos uma graduação.

A diretora executiva da rede de instituições e cofundadodora da primeira Summit, em Redwood, esteve em São Paulo para participar  do Transformar 2013 , um encontro sobre experiências concretas de transformação e sucesso em escolas públicas pelo mundo. Ontem, Tavenner conversou com o iG no hotel Maksud Plaza e explicou como consegue atingir esse objetivo. Entre as receitas, está o desenvolvimento de um plano de aprendizado personalizado para cada estudante, que é acompanhado diariamente por um mentor em todo o período do ensino médio, e um currículo totalmente conectado com a realidade.


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Dianne Tavenner, diretora executiva e cofundadodora das
escolas Summit, nos EUA


A melhor notícia é que o modelo é mais fácil de replicar em grande escala do que o tradicional, segundo a educadora. Com a ajuda da tecnologia, os professores são liberados de várias tarefas e podem se dedicar mais aos alunos. Na Califórnia, ela já está fazendo isso na rede de escolas charter (que funcionam com verba do governo e de doações) Summit. Este ano, duas novas unidades serão abertas, e o plano é fazer o mesmo nos próximos 10 anos, até que todos os alunos do Vale do Silício recebam educação de alto nível. Atualmente, 47% terminam o ensino médio sem a base necessária para o ensino superior.

O que faz uma escola Summit ser especial?
Dianne Tavenner: O mais importante é que nós preparamos todos os nossos alunos para a faculdade e carreira. Isso não é algo que todas as escolas fazem nos Estados Unidos e, possivelmente, aqui também não. Nós acreditamos nisso e levamos a sério esse objetivo. Para isso acontecer, desenvolvemos uma série de ações, mas essa é a nossa missão. E nós já provamos que é é possível educar todas as crianças de escola pública em alto nível. Isso é importante, porque muitas pessoas antes pensavam que fosse impossível. E nós, junto com outros educadores nos Estados Unidos, provamos o contrário.

E como vocês fazem isso?
Tavenner: Nós começamos criando um plano de estudo personalizado para cada estudante, de modo que ele define logo que chega à escola um objetivo para sua carreira, que universidade quer fazer, que vida quer ter. A partir disso, nós desenvolvemos um plano personalizado para que ele alcance o objetivo. Depois trabalhamos para que a escola forneça todo o suporte necessário para manter o estudante nesse caminho. Esse é o ponto de partida. O segundo aspecto é que todos os estudantes têm um mentor, que permanece o mesmo durante todo o período escolar. Esse mentor ajuda a pensar nos objetivos e reavaliá-los quando for preciso, observa todos os dias se o plano está sendo cumprido e de que forma, conversa com a família, discute dúvidas e ajuda em crises. Em terceiro, vem o jeito que ensinamos, o nosso currículo é muito autêntico e realista. Nós trazemos tecnologia para a escola, as crianças trabalham colaborativamente em projetos nos quais têm que resolver problemas reais, não é nada chato. Dessa forma, as crianças ficam motivadas porque se dão conta de que estão aprendendo coisas que vão ser úteis para ela. Por último, durante dois meses do ano letivo, em janeiro e junho, os estudantes ficam fora da escola e trabalham na comunidade, fazem estágios, têm experiências relacionadas a seus interesses ou paixões, que podem ser fotografia ou jornalismo, por exemplo. Como avaliação desse período, eles têm que desenvolver algo que possam compartilhar ou apresentar. Então, se é algo relacionado à fotografia, fazem uma exposição. Se é teatro, uma peça. Se fazem um estágio, devem fazer uma apresentação sobre o trabalho realizado. Tudo sempre conectado com a realidade.

Que práticas inovadoras são aplicadas nas escolas Summit?
Tavenner: Nós usamos muita tecnologia. Por exemplo, a tecnologia serve para saber exatamente o que cada aluno sabe e não sabe em todos os momentos. Cada estudante tem o seu mapa pessoal de conhecimento e objetivos. Em vez de promover aulas em que não importa quem sabe, mas que todos ouvem a mesma coisa e têm que participar das mesmas atividades, cada aluno vai aprender o que precisa aprender. Fazemos isso com uma ferramenta que chamamos de playlist – como a dos tocadores de música digital. Nessa lista está tudo o que o aluno precisa aprender e ele vai escolhendo como gostaria de fazer. Quando ele sente que já está pronto para seguir em frente, faz uma avaliação. Se ele realmente já aprendeu, ótimo, vai adiante.

Eles podem escolher o jeito, mas não o que precisam aprender, certo?
Tavenner: Eles podem realizar algumas escolhas quando desenvolvem o plano de aprendizado inicial, mas tem coisas que todos precisam saber para chegar a uma universidade. Para chegar a esses conhecimentos, eles escolhem como querem aprender e não precisam passar pelo que já sabem.

A senhora acredita que tecnologia é essencial nas escolas?
Tavenner: A tecnologia proporciona que se desenvolva uma educação melhor, se for usada do jeito certo. Mas mais importante que isso é que faz parte do mundo e da vida. É um erro fazer com que os estudantes deixem a tecnologia do lado de fora da escola. Isso não vai prepará-los para o mundo.

Esse modelo de escola pode ser replicado para grandes redes de ensino, como a do ensino médio brasileiro?
Tavenner: Esse modelo é mais fácil de replicar em grande escala que o tradicional. Tenho convicção sobre isso. No modelo antigo, cada professor tem que fazer o seu próprio planejamento anual, preparar cada aula, corrigir todas as provas. Nesse modelo, construímos uma plataforma que tem tudo isso pronto, que é acessada pelos estudantes diretamente. Agora, os professores apenas ajudam e dão suporte aos alunos. Eles não precisam ter todo o trabalho de preparação, ficam mais focados no que fazem de fato.

Ainda existem aulas, como as que eu tive na escola?
Tavenner: Quase nunca. As aulas são em espaços grandes e abertos, em que os alunos se dividem em grupos para desenvolver projetos. Mas não tem mais uma grade de horário que começa com matemática, passa para ciência e depois história. Não é mais assim.

E como eles aprendem matemática, por exemplo?
Tavenner: De duas maneiras. Uma é online. Eles aprendem muito online, com suporte de um tutor. A outra forma é fazendo projetos, nos quais aplicam a matemática que estão aprendendo naquele momento. Por exemplo, um projeto poderia ser descobrir como se projeta um prédio em um espaço determinado, usando os conhecimentos de matemática. Claro que o professor participa desse processo, mas ele não vai ficar na frente de uma turma falando e explicando, enquanto os alunos tomam notas.

São necessários mais professores para esse modelo funcionar do que em escolas tradicionais?
Tavenner: Provavelmente o mesmo número.

Como são escolhidos e treinados os professores?
Tavenner: Nós selecionamos professores que são apaixonados pelo que fazemos e que acreditam na nossa missão. Mas também investimos muito para desenvolvê-los depois. Eles recebem 40 dias de formação todos os anos. Quando os estudantes estão fora da escola, nos projetos na comunidade, os professores ficam aprendendo e crescendo. É bom para todos.

Vocês têm dificuldades para encontrar bons professores, preparados para aplicar um modelo inovador de educação?
Tavenner: Temos vários candidatos sempre. Eu não acredito em escassez de bons professores. Algumas pessoas nos EUA acreditam nisso, mas eu não concordo. Todo o professor que eu conheço quer fazer o bem para seus alunos. Mas quando o professor entra em uma escola ou sistema de ensino que não funciona e que faz com não seja bem sucedido, mesmo trabalhando muito, começa a ficar desmotivado. Se ele tiver a oportunidade de trabalhar em uma escola que o valorize como profissional e na qual consiga fazer um bom trabalho, sempre gosta.

Os salários das escolas Summit são mais altos que a média?
Tavenner: São salários competitivos.

E que equipamentos os alunos têm disponíveis?
Tavenner: Nós damos um laptop para cada estudante e conexão de internet. Naturalmente, todos eles levam seus celulares para a escola. E os professores também têm laptop.

E as salas de aula, como são?
Tavenner: Grandes, com poucas paredes, têm apenas algumas divisórias. Se parecem com as salas de trabalho de empresas de tecnologia.

O custo de uma escola Summit é superior ao de uma escola pública tradicional americana?
Tavenner: É o mesmo. Às vezes é um pouco menos. As escolas charter (geridas pelo setor público e privado, como as Summit ) recebem um pouco menos de dinheiro do governo que as regulares. Ou seja, a manutenção não é mais cara que a das tradicionais. Usamos o dinheiro de forma diferente, mas não é mais.

Por que as doações são necessárias?
Tavenner: Nós precisamos das doações para começar. Não temos dinheiro para construir o prédio, instalar a tecnologia. Não temos nada. As escolas charter só começam a receber dinheiro do governo quando os alunos começam a aprender. Precisamos do capital inicial.

A missão das escolas Summit é preparar os alunos para a universidade.
Existem movimentos nos EUA que defendem que fazer um curso superior não é o único jeito de obter sucesso .
O que você pensa sobre esse posicionamento?
Tavenner: Existe, mesmo, um pequeno debate sobre essa questão. Mas a maioria das pessoas que defendem isso são pessoas que foram para a universidade e tiveram sucesso. Você não ouve pessoas pobres dizendo isso, você não ouve mães de jovens que querem ir para a universidade dizendo isso. Então eu não acho que essa seja uma boa discussão. De qualquer forma, nenhum estudante vai ser prejudicado por ser preparado para a universidade. Se depois ele escolher não ir, já terá aprendido muitos valores e conhecimentos importantes para a carreira e a vida. Eu acho que o nosso trabalho no sistema público de ensino deve ser o de preparar o aluno para a universidade para que ele tenha condição de escolher. Se ele preferir não ir para a faculdade, tudo bem

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-04-04/e-possivel-educar-todas-as-criancas-de-escola-publica-em-alto-nivel.html

Cada dólar investido em tecnologia educacional exige nove em treinamento

Professor de Educação e Ciência da Computação de Stanford diz que compra de equipamentos é medida popular, mas muitas vezes gera desperdício

A compra de computadores e, mais recentemente, tablets por governos é uma forma de desperdício de dinheiro. A afirmação que pode parecer de algum avesso à tecnologia, pelo contrário, é do professor da Escola de Educação e do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Stanford, Paulo Blikstein. “Para cada dólar investido em tecnologia é preciso nove dólares para treinar para o uso”, diz.
 
Especialistas de Stanford reunidos em São Paulo para um seminário da Fundação Lemann falaram  dos caminhos para melhorar as escolas e promover a igualdade de oportunidades. Os principais investimentos apontados foram a formação de professores e gestores.
 
NYT
Para melhorar ensino, professores precisam ser treinados para
usar tecnologia
Blikstein, brasileiro que dirige o Transformative Learning Technologies, departamento que desenvolve tecnologias educacionais em Stanford, afirmou que os governos em geral fazem planos que possam mostrar resultados durante o tempo de mandato do eleito e por isso a compra de materiais é um recurso muito usado. “Em vez de gastar no equipamento e na formação que seria necessária, só a primeira parte é feita por várias vezes. Então a gente gasta metade do necessário durante anos e nunca o suficiente para obter a mudança”, comentou.
 
Colega da Faculdade de Educação, David Plank, defendeu o estudo dos resultados dos investimentos atuais na educação brasileira. “É preciso olhar para o aprendizado do aluno e para aquilo que realmente resultou em uma melhora, não adianta espalhar os recursos aleatoriamente”, disse.
           
Membro da Academia Internacional de Educação, Martin Carnoy, voltou-se ao básico. “Se eu tivesse que apontar apenas um investimento seguro, eu diria o professor. Todos os estudos apontam que a melhor formação dos educadores é que faz a diferença.”

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-08-15/cada-dolar-investido-em-tecnologia-educacional-exige-nove-em-treinamento.html

 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Conheça os conceitos que vão mudar a escola e o aprendizado

Em evento em São Paulo na semana passada, exemplos de modelos de ensino inovadores dos Estados Unidos mostram como será a educação do futuro

“Na sala de aula, cada um é diferente e aprende de forma diferente”. A afirmação feita por Joel Rose, cofundador e diretor executivo da New Classrooms Innovation Partners, em evento em São Paulo na semana passada sobre novos modelos para o ensino público, é senso comum entre professores e o desafio principal de quem pensa e trabalha pela educação do futuro. No Transformar 2013, que reuniu mais de 800 pessoas, entre educadores, gestores e empreendedores, exemplos concretos norte-americanos de escolas inovadoras – e bem sucedidas – mostram que já é possível personalizar a aprendizagem e como não há apenas um modelo para fazer isso.
Conheça conceitos que vão transformar as escolas (e onde foram aplicados):

Personalização – Entender as necessidades de cada estudante é o diferencial da School of One, uma plataforma criada para escolas de Nova York por Rose e Christopher Rush e que tem a tecnologia como principal aliada para a tarefa. Baseado em uma avaliação feita no início do ano, o sistema elabora um mapa de habilidades e plano de estudos individual. Mas, para isso, utiliza experiências de outros alunos. Um enorme repositório de lições está disponível e o banco de dados prevê que tipo de atividade é mais adequado ao perfil de cada um. “A melhor maneira de aprender pode ser com aulas online, em grupos ou estudando sozinho. O nosso algorítimo usa as experiências já aplicadas para identificar isso”, explicou Rose. Uma receita parecida é usada no grupo de escolas Summit, na Califórnia , na qual os estudantes também passam por uma avaliação no início do ensino médio, para elaborar um plano de estudos de acordo com seus objetivos de carreira. A tecnologia, novamente, é usada para avaliar em todos os momentos o que cada aluno já aprendeu e se já está pronto para aprender mais. “Cada um segue no seu ritmo”, contou a diretora executiva da rede, Dianne Tavenner.
           

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Salas de escolas orientadas pela New Classrooms proporcionam
que cada um aprenda do seu jeito



Plataforma adaptativa
– Para proporcionar o ensino personalizado, existem plataformas tecnológicas de ensino online que ajudam a elaborar e entregar os conteúdos necessários para os diferentes tipos de alunos. José Ferreira, fundador da Knewton, ferramenta que fornece lições de matemática, diz que o volume gigante de informações – maior que o do Facebook – que sua base de dados oferece revoluciona o ensino. A plataforma mostra ao professor com agilidade o que os estudantes aprendem, quando erram, no que tem dificuldades e como aprendem e ajuda a elaborar aulas
           
Ensino híbrido – A sala de aula já não tem mais um professor falando em frente ao quadro negro e alunos sentados em carteiras organizadas em fileiras iguais nas oito escolas públicas gerenciadas pela ONG New Classrooms, de Joel Rose. Para que cada um possa aprender do seu jeito, também é realizada uma mudança física e os alunos sentam nas mais variadas formas: sozinhos, em grupos pequenos ou grandes, em frente a computadores ou usando material impresso. No espaço reorganizado, fazem atividades distintas, algumas online e outras, não. Para que esse modelo híbrido funcione, o papel do professor também muda para o de mentor. Segundo Tavenner, das escolas Summit, os docentes acompanham as atividades realizadas em um espaço grande, sem paredes, e orientam os alunos de várias formas: resolvendo dúvidas, questionando, provocando debates, orientando atividades e projetos.

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Na escola Quest to Learn, em Nova York, alunos aprendem jogando


Engajamento – O interesse das crianças é o ponto de partida para o aprendizado na escola de ensino fundamental Quest to Learn, em Nova York. Apoiada pelo Instituto of Play, um estúdio de design sem fins lucrativos liderado por Brian Waniewski, a escola constrói o engajamento dos alunos por meio de jogos. Segundo Waniwski, a lógica dos videogames é apropriada para o aprendizado porque proporciona um ambiente com regras, nas quais há etapas a serem vencidas, mas que tolera erros. E mais: oferece feedback constante. Para usar esses elementos, o Instituto of Play tem profissionais especializados em criar jogos educativos que dão suporte aos professores e incentiva também os alunos a inventarem os seus próprios. Outra forma de promover o engajamento é conectar o ensino com a realidade. Essa é a aposta de Melissa Agudelo, reitora de admissões do grupo de 11 escolas High Tech High, de São Diego. “Os alunos precisam ver sentido no que aprendem”, diz. Nas escolas, há muitas atividades práticas, os alunos saem da sala de aula e têm experiências na comunidade e precisam resolver problemas reais.
            
Educação por projetos – O fim da grade de disciplinas separadas é uma das experiências das escolas High Tech High para tornar o aprendizado mais relevante aos alunos. Segundo Agudelo, os estudantes não são divididos por série, nível de habilidade e aprendem vários conteúdos integrados. Para isso, os professores estimulam alunos a desenvolverem projetos, solucionar problemas, nos quais precisam usar vários tipos de conhecimento. Nesse caso, professores de áreas diferentes se envolvem com os mesmos projetos.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-04-10/conheca-os-conceitos-que-vao-mudar-a-escola-e-o-aprendizado.html

Integrar educação e tecnologia é novo nicho para startups no Brasil

Empresas que oferecem soluções para a melhoria do ensino no País crescem rápido e já atingem milhões de pessoas. Pesquisa mostra que há espaço para novas iniciativas

No lugar de quadro negro, caderno e livro novas ferramentas como videoaulas e games educativos ocupam espaço no ambiente educacional, seja nas escolas ou fora delas. Ao mesmo tempo em que professores e estudantes incorporam inovações tecnológicas ao seu dia a dia, surge também um novo mercado, que integra educação e tecnologia. Uma tendência mundial já há alguns anos, a área de atuação batizada de EdTech nos Estados Unidos se concretiza agora no Brasil com o surgimento de startups dispostas a contribuir para a melhoria do ensino no País e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro.
“O Brasil tem um atraso educacional enorme e queremos atuar para resolver esse problema. Mas temos um modelo de negócio para isso. É uma oportunidade de ouro”, diz Carlos Souza, fundador do Veduca , plataforma de vídeos online com cursos das melhores universidades do mundo.
Essas novas empresas utilizam ferramentas já testadas em outros mercados e países, como vídeos e fóruns, mas se diferenciam por adaptá-las e reinventá-las para suprir as carências educacionais do Brasil. O Veduca, por exemplo, oferece aulas gratuitas de ensino superior, um modelo de sucesso experimentado nos Estados Unidos pelo Edx (plataforma online do MIT e Harvard) e Coursera (de outras universidades top), mas faz isso em português. A Evobooks desenvolve livros-aplicativos para serem usados em sala de aula, mas que não dependem de acesso à internet, uma dificuldade grande nas escolas brasileiras.

E elas crescem muito rápido. Fundadas por jovens de até 40 anos, a maioria surgiu há no máximo dois anos, mas juntas já conseguem atingir milhões de pessoas que querem aprender. “Para esse mercado se consolidar, é necessário uma conjunção de fatores. A infraestrutura brasileira não é boa, mas melhorou muito nesses últimos dois anos. Os meios de pagamento também. Teve ainda o crescimento do ecossistema de startups, com mais investidores e mais gente querendo trabalhar. Além disso, a popularização do e-commerce, com os sites de compras coletivas, fez com que as pessoas se acostumassem a comprar coisas pela internet. Olhando para trás, dá para ver que isso aconteceu”, disse Marco Fisbhen, CEO do Descomplica , site surgido em março de 2011 que tem disponível mais de 3.500 videoaulas, a maioria para quem está se preparando para o Enem, e recebeu 535 mil visitas apenas em maio.
Reprodução
Videoaulas, como as da Khan Academy, estão entre as
ferramentas mais populares que usam tecnologia educacional
De olho nesse mercado, surgiram também fundos dispostos a botar dinheiro em produtos relacionados à educação. Para se desenvolverem, as startups contam com aceleradoras e investidores brasileiros e estrangeiros. Por exemplo, o Veduca e o Easyaula , portal de cursos presenciais e online de preparação ao mercado de trabalho, receberam em fevereiro investimento da Macmillan Digital Education, braço de negócios digitais da editora responsável por publicações como Nature e Scientific American. Desde fevereiro, a Macmillan abriu um escritório no Brasil e mapeia outras oportunidades de negócio no País.

Para conhecer melhor o impacto das empresas de EdTech brasileiras, o iG publica uma série de reportagens que vai mostrar como surgiram e evoluíram o Descomplica , o Veduca , a Evobooks , e o Easy Aula  exemplos bem-sucedidos de startups educacionais, mas que atuam em diferentes campos (ensino formal e informal) a partir de ferramentas diversas (vídeos, games, aplicativos, conteúdos para celular, fóruns).
 
Mais oportunidades

 Além desses casos reconhecidos, a boa notícia para empreendedores e pessoas preocupadas com educação é que há ainda muito espaço para atuar na área. Pelo menos essa é a conclusão do estudo               , divulgado na segunda-feira pelo Instituto Inspirare e pela Potência Ventures. O levantamento realizado pela consultoria Prospectiva identifica oportunidades para o desenvolvimento de produtos e serviços que contribuam para o ensino oferecido à população de baixa renda.
A pesquisa analisou o contexto educacional em seis Estados – Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo –, que são responsáveis por metade do orçamento público da educação do País, cerca de R$ 100 bilhões, e levantou 190 organizações, majoritariamente startups, que desenvolvem produtos ou oferecem serviços educacionais voltados ao ensino básico, técnico e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) das classes C, D e E.
Formação de professores em todas as etapas do ensino básico, avaliação para o ensino fundamental, oferta de cursos para o ensino técnico e criação de objetos educacionais, como jogos e softwares, para o fundamental 2, são algumas das áreas onde existe demanda, mas poucas ou nenhuma empresa atuando.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-06-26/integrar-educacao-e-tecnologia-e-novo-nicho-para-startups-no-brasil.html

Alunos preferem jogo que é bateria de testes educacionais a Facebook

Com pontos e medalhas, exercícios passam por jogo e ganham atenção em aula de escola pública de São Paulo

Um texto ou figura, uma pergunta e as alternativas para resposta. Na prática, o jogo educacional Ludz segue o padrão mais tradicional de qualquer exercício escolar, no entanto, alunos do 5º ano da Escola Estadual Henrique Dumont Villares, em São Paulo, dizem gostar do teste online tanto quanto de educação física e, quem tem internet em casa, conta que prefere usar o tempo livre para responder mais questões a entrar em redes sociais.
                         
Aluna da Escola Estadual Henrique Dumont Villares responde
a testes online em aula e até em casa

Ao acompanhar uma aula, a diferença parece estar em elementos simples que fazem com que a atividade se pareça a um vídeo-game. “Tô lendo rápido porque daqui a pouco aparece a velha do tempo”, explica Arthur Sabbadini, de 10 anos, se referindo a um desenho que aparece antes do tempo limite para responder expirar. Ele também faz questão de clicar em um botão que pode gerar uma dica, eliminar uma alternativa errada ou apenas gerar um desenho de um estudante com um comentário sem utilidade para achar a resposta. “É o colega”, explica Arthur. “Às vezes ele dá uma dica, mas às vezes só fala qualquer coisa.”
           
A colega Thamires Almeida, da mesma idade, conta que prefere “jogar Ludz” a entrar em redes sociais. “Eu não vejo nada de desafio no Facebook, prefiro fazer coisas que sejam divertidas e me deixem mais preparada”, comentou. A rapidez com que a menina encontrava as respostas para os problemas matemáticos de sequência chamou atenção até da diretora, Sonia Sprenger, que estava na sala para acompanhar a reportagem. “Você tem que ler aqui e contar as bolinhas da figura...”, comentava a educadora devagar com o dedo na tela quando a menina assinalou a resposta C, a correta. “Olha só, como pode? Em sala ela não vai tão bem assim no mesmo tipo de exercício”, comentou a diretora com a professora da sala.
 
Para a coordenadora pedagógica Maria Rita Silveira, o casamento entre tecnologia e educação “é perfeito”. Ela procura softwares livres na internet e organiza atividades para as salas que ainda não contam com o programa pago, comprado apenas por 40 escolas na rede estadual paulista cujos padrinhos empresários da ONG Parceiros da Educação adquiriram. “Agora que temos internet e estamos aprendendo melhor como organizar os alunos nestas atividades, a gente explora isso. Não é fácil sem um direcionamento, mas aqui temos professores que são verdadeiros desbravadores”, diz.
           
A aula com o Ludz ocorre duas vezes por semana para cada turma, uma para responder testes de matemática e outra para língua portuguesa. Uma estagiária, também paga pela ONG, dá as instruções. A professora da sala acompanha apenas para chamar atenção de alunos que perdem o foco e observar possíveis dificuldades. Arthur, por exemplo, não sabia o que signifiva “verbete” em um dos problemas que leu e “réu” em outro, mas não pediu ajuda a ninguém. Acertou uma questão pelo contexto e errou outra e segue sem saber. “O conteúdo é parecido com o da sala, mas o bom é que aqui eles lêem muito mais”, comenta a professora da turma, Sonia Haquihara, que tem 26 anos de magistério. “Nunca parou de aparecer novidade, essa é mais uma que a gente vai incorporando.”

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-08-18/alunos-preferem-jogo-que-e-bateria-de-testes-educacionais-a-facebook.html