segunda-feira, 16 de abril de 2018

Prejuízos do uso compulsivo da internet para jovens

Os benefícios de uso das tecnologias de informação e comunicação, especialmente da internet, vêm acompanhados de prejuízos para a saúde física, psíquica, para a cognição, para as questões de relacionamento familiar e de segurança do usuário, principalmente em se tratando de crianças e adolescentes. Porque, quando são estimulados a utilizar dispositivos tecnológicos e a adentrar no mundo virtual sem o devido acompanhamento do mundo adulto, riscos e prejuízos podem ser produzidos.

(Foto: Daniel Castellano)


A proteção e a garantia de direitos das crianças e dos adolescentes na era digital é uma das principais preocupações da Rede de Proteção, porque na atualidade é crescente o número de ‘usuários compulsivos da internet na infância e na adolescência’.
Sendo as crianças e adolescentes prioridade absoluta de proteção, segundo as normativas internacionais e nacionais, é emergente desenvolver ações de prevenção ao uso compulsivo da internet, já constatado como transtorno de impulso enquanto dependência comportamental.
Prejuízos são agravados, sem precedentes, para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente que usam a internet de forma desmedida em tempo, conteúdo e forma de acesso. Principalmente quando esse uso ocorre em detrimento a atividades como brincadeiras ao ar livre, práticas esportivas, contatos com animais de estimação, atividades manuais, lúdicas e artísticas, que possam efetivamente apreender interações e conteúdos educativos.
Resultados de inúmeras pesquisas científicas em universidades de todo o mundo têm evidenciado a relação entre o uso compulsivo da internet, igualmente ao uso compulsivo de jogos eletrônicos e de redes sociais, com diversas implicações humanas: o déficit de atenção, a dificuldade de concentração, a diminuição da capacidade de memorização, o isolamento, a precocidade no desenvolvimento da sexualidade na infância, entre outras implicações de grande potencial, porque estão suscetíveis de ocorrer em todos os tempos, espaços, faixas etárias e condições sociais, econômicas e culturais.
Cuidados diversos em relação ao uso da internet são essenciais para preservar a integridade da criança e do adolescente.  E para isso, o controle parental é determinante e foi estabelecido no Art. 29º da Lei Nº 12.965 de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da internet), que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil.
Recorre-se ainda ao que diz o Parágrafo único do Art. 29 deste dispositivo doutrinário que, “cabe ao poder público, em conjunto com os provedores de conexão e de aplicações de internet e a sociedade civil, promover a educação e fornecer informações sobre o uso dos programas de computador, bem como para a definição de boas práticas para a inclusão digital de crianças e adolescentes”. E o Art 7º, inciso XII, prescreve que “acessibilidade da internet deve ocorrer consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei”.
Portanto, reafirma-se que a família, a escola, o Estado e toda a sociedade têm o dever de garantir a proteção integral das crianças e dos adolescentes também na era digital, considerando principalmente a fase especial de desenvolvimento biopsicossocial em que se encontram.
Você Sabia?
O problema de uso compulsivo da internet mobilizou a Associação Psiquiátrica Americana (APA) para sua averiguação. Na quinta revisão do Manual Diagnóstico de Desordens Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM), lançado em 2013 pela APA, o DSM-V incluiu critérios para diagnosticar um subtipo de uso compulsivo da internet, ‘a internet gaming disorder’ (vício em jogo eletrônico).
São nove os critérios para a internet gaming disorder que têm semelhanças significativas com os critérios utilizados para o diagnóstico de outras formas de dependência, conforme estabelecidos no DSM V (2013). 
São eles:
1 – Preocupação com jogos da Internet. (O indivíduo pensa sobre a atividade do jogo anterior ou antecipa jogar o próximo jogo);
2 – Os sintomas de abstinência quando o jogo da Internet é retirado. (Estes sintomas são geralmente descritos como irritabilidade, ansiedade ou tristeza);
3 – Tolerância – a necessidade de gastar cada vez mais tempo envolvido em jogos de Internet;
4 – Tentativas frustradas de controlar a participação em jogos na Internet;
5 – Perda de interesse em passatempos anteriores e entretenimento, com exceção de jogos de Internet;
6 – Continuação do uso excessivo de jogos na Internet, apesar de conhecer os problemas psicossociais;
7 – Engana familiares, terapeutas ou outros a respeito da quantidade de tempo de jogos na Internet;
8 – Uso de jogos na Internet para escapar ou aliviar humor negativo (por exemplo, sentimentos de impotência, culpa, ansiedade);
9 – Tem posto em risco ou perdido uma oportunidade de relacionamento significativo, educação ou carreira profissional por causa da participação em jogos na Internet.
O DSM-V também especifica diferentes graus de gravidade dainternet gaming disorder, leve, moderada ou grave, dependendo do grau de perturbação das atividades normais. Indivíduos com transtorno leve de jogos na internet podem apresentar menos sintomas e menos interrupção de suas vidas, enquanto indivíduos com transtorno grave terão mais horas no computador e perdas severas de oportunidades de relacionamentos, de carreira ou de educação.
*Cineiva Tono é Doutora em Tecnologia, Mestre em Educação, Membro da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB/PR e Presidente do Instituto Tecnologia e Dignidade Humana. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.



Uso das novas tecnologias em sala de aula

Em um mundo tecnológico, integrar novas tecnologias à sala de aula ainda é pouco frequente e um desafio para docentes. Em muitos casos, a formação não considera essas tecnologias, e se restringe ao teórico, ou seja, o professor precisa buscar esse conhecimento em outros espaços. Isso nem sempre funciona, pois frequentar cursos de poucas horas nem sempre garante ao professor segurança e domínio dessas tecnologias.




Embora alguns ainda se sintam inseguros e despreparados, muitos educadores já perceberam o potencial dessas ferramentas e procuram levar novidades para a sala de aula, seja com uma atividade prática no computador, com videogame, tablets e até mesmo com o celular.
O fato é que o uso dessas tecnologias pode aproximar alunos e professores, além de ser útil na exploração dos conteúdos de forma mais interativa. O aluno passa de mero receptor, que só observa e nem sempre compreende, para um sujeito mais ativo e participativo. O ideal seria testar as novas tecnologias e identificar quais se enquadram na realidade da escola e dos alunos. Uma das dificuldades é a falta de infraestrutura de algumas escolas e a falta de formação de qualidade para os professores quanto ao uso dessas novas tecnologias.
A tecnologia também auxilia o professor na busca por conteúdos a serem trabalhados. O Google, por exemplo, criou um espaço próprio para a educação, o Google Play for Education – que será lançado no segundo semestre, sendo a versão em português ainda sem data de lançamento. A finalidade é auxiliar professores que buscam atividades educacionais com tecnologia. O programa faz uma peneira por disciplina e série para sugerir aplicativos educacionais específicos para tablets. O professor pode, por exemplo, criar um grupo da sala em que todos os alunos poderão acessar o aplicativo, facilitando a participação.
Hoje, com todos os avanços, existe a necessidade de adequação, de abertura para o novo, a fim de tornar as aulas mais atraentes, participativas e eficientes. A ideia não é abandonar o quadro negro, mas usar das novas tecnologias em sala de aula.

Família e escola: Quais são os papéis?

Conceituar o papel de cada uma destas instituições importantes da sociedade, família e escola, eu diria que é quase impossível. Tornaram-se hoje grandes fontes de problemas. A família perdeu seu núcleo pai-mãe-filho, tornando-se um amontoado de pessoas vivendo sob o mesmo teto ou até em tetos diferentes, tentando educar o filho com suas visões de mundo, para assim encaminhá-los à escola.

Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo


Por outro lado, a escola inconformada com o que tem recebido das famílias se põe no papel de responsável em educar e ensinar o pedagógico e, em inúmeras vezes, perde seu principal foco: a formação pedagógica desse indivíduo.
A inversão dos papéis da escola e da família junto à sociedade é muito nítida, por exemplo, antes de um processo alfabetizador, a escola precisa integrar esse aluno, advindo de uma família que o criou até então como centro do universo. Essa não deveria ser apenas responsabilidade da escola, devendo ter sido trabalhada pela família.
Perde-se muito tempo dando possibilidade para que essa criança entenda que precisa se colocar no lugar do outro, que respeite seus colegas como deseja ser respeitado, tarefa simples que deveria ter sido feita pela família. O papel educador é responsabilidade da família, para que o papel pedagógico possa ser exercido pela escola com boa qualidade.
O caminho e a parceria entre família e escola é fundamental. Ambas precisam se acolher, se entender e se ajudar para o bem comum desse indivíduo, preparado como pessoa para viver em sociedade. Porém, sempre cabe à família educar e estar alerta, pois o contrato com a escola pode ser rescindido, mas o contrato de pai, mãe e filho é para a vida toda. Portanto, é muito importante exercer os papéis com sabedoria e responsabilidade de todos.
>> Esther Cristina Pereira, Diretora de Ensino Fundamental do Sinepe/PR (Sindicato das Escolas Particulares do Paraná)

A importância de alfabetizar desde cedo

 | Josué Teixeira


Muitos pais se preocupam em saber se existe ou não uma idade ideal para a alfabetização e como isso afeta o rendimento de seus filhos na escola. Pedagogos e especialistas da área divergem quanto à questão do tempo certo para iniciar esse processo de aprendizado. Alguns dizem que a idade certa é por volta dos 7 ou 8 anos, pois as crianças menores são pequenas e não têm maturidade. Outros, por sua vez, acreditam que começar o processo de alfabetização antes dessa idade facilita todo o processo, contanto que se empregue um método eficaz.
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Na Finlândia, por exemplo, pesquisadores realizaram uma investigação ao longo de 18 anos acompanhando três grupos de crianças que corriam o risco de se tornarem disléxicas. Os pesquisadores observaram o seguinte: no grupo de crianças que se tornaram disléxicas aos 7 anos, todas apresentavam, dos 3 anos e meio aos 5 anos, um baixo desempenho em atividades de consciência fonológica. As crianças do grupo que não atingiu sucesso em leitura aos 7 anos também tinham um baixo desempenho em atividades de consciência fonológica.
A alfabetização pode ser bastante prazerosa para os pequenos
Já aquelas que tiveram um alto desempenho em leitura aos 7 anos eram as mesmas que, entre os 3 anos e meio e os 5 anos, apresentaram um alto desempenho em atividades de consciência fonológica, conhecimento de letras, memória fonológica, linguagem receptiva, linguagem expressiva e assim sucessivamente. Nesse caso, é possível perceber a diferença que houve no grupo de crianças que tiveram estímulos mais cedo.
Na escola onde leciono, alterei o programa de pré-alfabetização a fim de preparar as crianças para o momento da alfabetização e, consequentemente, aumentarem o desempenho em leitura e escrita nos anos seguintes.
Há quem acredite que a alfabetização é um processo torturante, em que a criança é obrigada a fazer cópias e aprender combinações de sons. Contudo, a alfabetização pode ser bastante prazerosa para os pequenos. No âmbito das abordagens fônicas, por exemplo, podem ser aplicadas diversas atividades extremamente lúdicas e divertidas.
Ao aprender e adquirir habilidades, a criança começa a ficar mais empolgada. Além disso, os pais ficam mais contentes com as pequenas conquistas do filho, pois não imaginavam que o pequeno fosse capaz de fazer tantas coisas com apenas 3 ou 4 anos.
Portanto, não é preciso esperar tanto para estimular os filhos a ler e escrever. O processo pode ser iniciado mais cedo mediante a leitura em voz alta e a aplicação de jogos e brincadeiras muito simples, que promovem a aquisição de habilidades fundamentais no processo de alfabetização. A realização de tais atividades pode ser uma forma de divertimento para as crianças, além de proporcionar-lhes uma melhora da memória fonológica.
Quando a criança aprende a ler e adquire fluência na leitura, naturalmente seu desejo por esta tende a aumentar cada vez mais. Por isso, ao procurar uma escola para seu filho, busque uma que atenda às demandas dele e leve em consideração suas capacidades. Não deixe que a escola o desestimule ou faça-lhe perder o gosto pela leitura.
Carlos Nadalim é coordenador pedagógico e organizador do blog “Como Educar seus Filhos”.


Um triste recuo para a educação infantil em Curitiba

 | Henry Milleo/Arquivo Gazeta do Povo


O Conselho Municipal de Educação de Curitiba aprovou, em 22 de fevereiro de 2018, uma deliberação que anuncia um enorme retrocesso para a educação infantil pública na capital. O texto aprovado flexibiliza a regra de ingresso de profissionais para atuarem na educação infantil dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) da rede pública. Na prática, significa que poderão atuar nos CMEIs pessoas sem ao menos a formação mínima hoje exigida, o ensino médio Normal (conhecido como “Magistério”).
O direito à educação infantil como parte da educação básica é um avanço da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional aprovada em 1996 – direito conquistado, portanto, já há 22 anos. Mas ainda temos muitas crianças de zero a 3 anos (na idade da etapa da creche) e de 4 e 5 anos (na idade da etapa da pré-escola) que não alcançaram este direito.
O Plano Nacional de Educação (PNE) de 2014 estabelece que o país deveria, até 2016, matricular na pré-escola 100% das crianças de 4 e 5 anos. Em 2016, Curitiba alcançou a meta de universalizar o atendimento da pré-escola. De acordo com dados do Inep divulgados no mesmo período, a capital paranaense tornou-se também a primeira colocada entre as capitais no atendimento de crianças de zero a 5 anos em tempo integral, atingindo a marca de 86%; o segundo lugar, Rio de Janeiro, atendeu 44% das crianças nesta faixa etária. No caso das creches, a meta nacional é de 50% do atendimento até 2024; dados disponíveis no sistema do MEC informam que em Curitiba o atendimento é de 44%.
Estamos falando da primeira etapa da educação básica, que exige uma intencionalidade pedagógica
O problema da matrícula é, certamente, o primeiro desafio para o direito à educação. Mas é fundamental pensar que educação queremos para as crianças. O mesmo PNE, que precisa ser lido com suas metas articuladas, estabelece a necessidade de que todos os profissionais da educação tenham licenciatura para trabalhar na educação básica.
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O Plano de Carreira de Professores da Educação Infantil em Curitiba, implantado em 2015 (Lei 14.580/2014), apresentou para aproximadamente 4,4 mil profissionais uma nova projeção da carreira. Entre os principais benefícios destaca-se a transformação da carreira de “educador” para “professor de educação infantil”, em consonância com a LDB, como também a possibilidade de alcançar o topo da carreira com 25 anos de serviço e aumentos salariais diferenciados, estimulando a formação inicial e continuada dos profissionais. Para tanto, reforçou-se neste plano (no artigo 2.º, § 1) a necessidade de que os profissionais que atuam na docência nas turmas de educação infantil da cidade tenham a formação mínima estabelecida na LDB – ensino médio, modalidade normal (magistério) – e avancem na formação com licenciatura em Pedagogia.
Desde 2014, em parceria com o Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná, a prefeitura de Curitiba, por meio da Secretaria Municipal de Educação, trabalhou pela busca da garantia de cursos de Pedagogia para os profissionais que ainda não tinham esta possibilidade e atuam na educação infantil da rede municipal. A concretização desta oportunidade se deu em 2016, e perdura até o momento. Foram abertas vagas no curso de Pedagogia (semipresencial/modalidade a distância) institucionalizado pela UFPR em convênio com a prefeitura, como também em curso ofertado pelo Polo UAB/Capes, garantindo o direito de formação para professores e professoras da educação infantil de Curitiba. Nada mais justo, uma vez que estes profissionais precisam ser valorizados.
Precisamos lembrar que estamos falando da primeira etapa da educação básica, desenvolvida em um espaço formal, que exige uma intencionalidade pedagógica, que implica planejar e mediar experiências que ampliem os repertórios culturais e de conhecimentos das crianças, o que exige conhecimentos que só aqueles que passam por um processo de formação específico para atuar na docência têm.Tratar as crianças como sujeitos de direitos, cidadãos da capital, exige que tais parâmetros de atendimento sejam garantidos.
Todos os profissionais que atuam no âmbito de uma sala de aula atuam na docência. Em qualquer relação pedagógica, sempre o docente cuida e educa. São elementos indissociáveis – e quanto menor a criança, mais esta relação indissociável se faz necessária. O que garante esta possibilidade é a formação adequada do adulto que entra no espaço educativo. Flexibilizar a regra de ingresso de profissionais para atuarem na educação infantil é retroceder no respeito aos cidadãos e cidadãs curitibanos que têm menos de 5 anos. Não faz sentido uma cidade que tem uma história de atendimento de qualidade na sua rede de ensino economizar na vida das crianças. É preciso que o Conselho Municipal de Educação reveja a posição, é urgente e necessário que a Secretaria Municipal de Educação de Curitiba reconsidere o apoio a esta decisão e que se afirme o compromisso com a qualidade da educação municipal.
Andréa Barbosa Gouveia é professora da UFPR e presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped). Ângela Maria Scalabrin Coutinho é professora da UFPR e membro do Grupo Gestor do Fórum de Educação Infantil do Paraná (Feipar/Mieib). Roberlayne de Oliveira Borges Roballo é professora da UFPR e ex-secretária de Educação de Curitiba.