quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Como homenagem aos educadores, movimento cria a hashtag #obrigadoprofessor

A ideia é estimular que todos aproveitem a data para reconhecer e valorizar o trabalho desses profissionais no dia a dia


Para homenagear os professores nesta quinta-feira (15), quando é comemorado o seu dia, o movimento Todos pela Educação convida os internautas a agradecer aos profissionais nas redes sociais, com a hashtag #obrigadoprofessor.
O slogan da campanha é “Se tem uma lição de casa que o Brasil precisa fazer, é valorizar o bom professor”. Segundo o movimento, a ideia é estimular que todos reconheçam e valorizem o trabalho desses profissionais no dia a dia e que aproveitem a data para homenagear um ou mais professores que tenham marcado a trajetória pessoal
Para que o país ofereça uma educação de qualidade a todas as crianças e jovens, o Todos Pela Educação definiu cinco atitudes que podem ser tomadas por toda a população para acompanhar de perto a educação e ajudar no aprendizado.
Valorizar o professor, profissional central no processo de ensino, o aprendizado e o conhecimento é a atitude 1 do movimento.



A MELHOR SALA DE AULA


O mundo aí fora é, de fato, a melhor sala de aula que existe. Ele contém todos os elementos que o processo ensino-aprendizagem precisa para explorar e explicar todas as áreas do conhecimento. Afinal, não há melhor laboratório para ciências naturais do que o ambiente aberto. Podemos sim aprender ótica vendo um arco-íris, estudar reações químicas na atmosfera ou estudar biologia observando os animais e as plantas como eles efetivamente são.
Claro que há e sempre haverá espaço para as salas de aulas, sejam elas presenciais ou a distância, enquanto locais para sistematização, exploração de modelagens e cristalização dos conhecimentos adquiridos. Porém, se educação puder ser conjugada com atividades no mundo exterior, certamente, ela será mais enriquecedora e estimulante aos olhos dos educandos.
No ensino superior, uma experiência recente levou a abordagem acima às últimas consequências e tem sido acompanhada como um caso de extremo sucesso. Trata-se da Universidade Minerva, em São Francisco-USA, no Vale do Silício. Criada em 2012, ela não tem um campus tradicional, não dispondo de salas de aula, bibliotecas ou laboratórios. Ela adotou as ruas como seus campi e o fez, até aqui, com muita pertinência. Os estudantes compartilham dormitórios da instituição e as aulas, especialmente ao longo do primeiro ano comum, são videoconferências desenhadas pelos melhores tutores disponíveis na atualidade. Refiro-me a nomes como Larry Summers, ex-reitor da Universidade Harvard e ex-secretário do Tesouro americano, Bem Nelson, grande executivo com passagens pela HP, Snapfish e Disney, o conhecido neurocientista Stephen Kosslyn, uma das maiores autoridades do mundo em psicologia cognitiva, entre outros. Em suma, o desenho da trajetória desses alunos ao longo de quatro anos de graduação é fruto da contribuição de pessoas altamente capazes de interpretar o mundo contemporâneo.
Nos três anos seguintes ao primeiro ano em São Francisco, todos os alunos devem passar seis meses em seis cidades diferentes do mundo (Berlim, Buenos Aires, Seoul, Bangalore, Londres e Istambul) cumprindo o desenho previsto nos respectivos percursos, os quais foram desenhados, bem como serão acompanhados, por seus mestres. Os custos para os alunos são muito acessíveis, comparados com instituições similares, e incluem todas as despesas com acomodações e alimentação. Difícil para o aluno é ser selecionado, dado que a concorrência é altíssima, bem maior do que Harvard, Yale, MIT, Stanford etc. Obviamente que os primeiros formandos da Minerva serão disputados pelo mercado por seus diferenciais impressionantes, a começar pela experiência internacional sem precedentes no ensino superior clássico. Vale a pena acompanhar, de olhos bem abertos, esta experiência (https://www.minerva.kgi.edu/).
No Brasil, temos experiências igualmente interessantes na educação não formal. Por exemplo, o “Rolé Carioca”, iniciado por professores de história da Universidade Estácio de Sá, desenvolve passeios históricos ao ar livre por bairros do Rio, contribuindo com que os participantes se situem histórica e geograficamente de forma muito enriquecedora. Eu mesmo, novato no Rio, tenho sido aplicado aluno destas atividades que reúnem dezenas, centenas, às vezes até milhares, de animados participantes.  Há uma ênfase na descrição comentada dos conjuntos arquitetônicos, associados de forma muito criativa aos bens imateriais do ambiente, tais como personagens, acontecimento, cheiros e sabores. Para quem quiser saber mais, acessar https://www.facebook.com/RoleCarioca.  Soube que vem aí algo do tipo “Rolé Brasilis” ou mesmo “Rolé Mundo”. A conferir.
Em suma, aprender é sempre bom. Se puder ser em contato com o mundo externo fica muito mais prazeroso e eficiente.

O PAÍS DO FUTURO ESTÁ APAIXONADO PELO SEU PASSADO


Se há uma sensação coletiva que se possa chamar de generalizada neste momento no Brasil é a de que, mais uma vez, o almejado futuro não se materializou. Ou seja, o sonhado desenvolvimento econômico, social, ambiental e cultural sustentável dá espaço ao sabor de frustração e ficamos, os mais otimistas, no aguardo de um novo ciclo, cuja data de inauguração não foi sequer anunciada.
Sabemos crescer, mas não sabemos fazê-lo de forma sustentável. Temos uma riqueza natural e humana reconhecida mundialmente, mas ela parece periodicamente perder para nossas fragilidades. Identificar as complexas causas das recorrentes derrotas é tarefa hercúlea e fruto de muita controvérsia. Tal cenário, onde a esperança parece adormecida, é acompanhado de modesta inspiração para produção cultural.
Um destacável reflexo de nossa pobreza cultural contemporânea são nossos olhos voltados ao passado como nunca. A ausência de aderência ao presente e a falta de perspectiva de futuro próximo nos faz estimular no mundo da cultura um evidente apego sem precedentes pelo passado.
No campo da música, jamais se ouviu com tanto vigor os artistas das décadas de 60 e 70. Mesmo entre os mais jovens, muitos findam por estabelecer entre seus ídolos aqueles mesmos que foram de seus pais, refletindo possivelmente que temos uma geração tímida de novos artistas.
No teatro, particularmente os musicais, exatamente onde o Brasil mais avançou, é sintomático que quase todos os grandes sucessos dos últimos anos estejam dedicados a recuperar a vida de artistas antigos, a exemplo de Tim Maia, Elis Regina, Cazuza, Chacrinha, Simonal, Raul Seixas, Cássia Eller, Imperial e tantos outros. Isso tudo talvez reflita um país desgostoso com seu presente, sem claras perspectivas para seu futuro e buscando no seu passado recente motivos para continuar a crer na sua história.
No cinema mesmo com novidades pontuais de valor na praça, a revalorização recente de personagens antigos como José Mojica Marins, o famoso Zé do Caixão, é sintoma claro da possível ausência de produção atual mais significativa, em profundo contraste com a pujança da vizinha Argentina nesta área. Neste caso específico, evidenciando que nem sempre as crises econômicas estejam irremediavelmente associadas à pobreza de produção cultural, mas no Brasil, infelizmente, amargamos a possibilidade de estarmos vivendo todas elas simultaneamente.
Ainda que não seja o objetivo deste breve texto apontar possíveis causas, dado que por serem múltiplas e complexas qualquer simplificação estaria errada ou insuficiente, não há como não perceber que falhamos, ao menos parcialmente, na educação. Nesta área tivemos sim sucessos, inegáveis por sinal, como universalizar a educação fundamental, ampliar de forma significativa o acesso ao ensino superior ou a construção eficiente de um respeitável sistema nacional de pós-graduação.
Por outro lado, claramente falhamos em conjugar qualidade e quantidade. Quando universalizamos ou ampliamos de forma significativa, o fizemos com rebaixamento de qualidade. Quando ofertamos qualidade, o fizemos para poucos, muito poucos. A inovação que deixamos de criar foi ofertar qualidade para muitos. Esta sim, a meu ver, se não é a única, é a principal razão da sensação de fracasso que nos move a olhar para trás e de forma saudosista pedir mais uma chance de sermos, mais uma vez, o país do futuro.
Eppur si muove e voltaremos ao tema com mais detalhes posteriormente.

POR QUE NÓS PROFESSORES AVALIAMOS OS ALUNOS ?


Avaliar certamente tem a ver com aprovar ou não os educandos, mas esse não deve ser o único motivo, talvez nem o principal. Tão ou mais importante que medir o quanto sabem nossos alunos é tentar obter dados que permitam conferir e repensar permanentemente as abordagens educacionais adotadas. Se possível, ao avaliarmos, conhecê-los melhor e porque os conhecemos e os reconhecemos individualmente sermos capazes de traçar percursos de aprendizagem adequados.
Nas abordagens mais comuns boa parte das avaliações se dá via questões ou tarefas que pretendem responder se o aluno sabe ou não sabe. Sendo assim, em geral, importa quase exclusivamente se as repostas às questões estão certas ou erradas. Normalmente, as respostas erradas, além de indesejáveis, são, em geral, inúteis do ponto de vista consequências futuras no próprio processo em curso. O fruto da avaliação, nesta perspectiva mais simplista, não vai além de um atestado que pretende informar se o estudante domina ou não aquele conteúdo específico.
Para os professores mais comprometidos as respostas erradas têm a mesma relevância que as certas. Se as respostas certas atestam algum domínio do conteúdo, as erradas permitem identificar eventuais lacunas, possíveis conceitos equivocados, ritmos adequados de aprendizagem, dificuldades em interpretar texto, falta de foco e concentração, ausência de atitudes e iniciativas etc.
Na verdade, não somente respostas às questões importam, elas se somam a um conjunto enorme de atos, comportamentos, velocidades, reações e capacidades de enfrentar desafios, de forma isolada ou em equipe, que no global evidenciam habilidades e competências muitas vezes difíceis, ou mesmo impossíveis, de serem identificadas somente via testes padrão. As provas tradicionais somente enxergam, quando bem feitas, se as informações foram ou não assimiladas. As demandas do presente, e especialmente do futuro, vão muito além da informação pura e simples e tendem a não ter esse elemento como parâmetro central. Avaliar não ficou mais simples, ficou muito mais complexo.
A título de exemplo, optaria, preliminarmente, por uma comparação com jazz. Observe uma banda de jazz e perceba: (i) que o público sabe identificar diferenças entre uma banda que tem qualidade de outra com menor valor; e (ii) se todos os componentes tocarem solo, também saberão, razoavelmente, identificar quem toca bem e quem não toca tão bem. Insisto nesta comparação, mais uma vez, para destacar que avaliar implica em estimular, sempre que possível, o trabalho em grupo, ressaltando o quão essencial é criar em equipe, mas que tal processo também demanda, em geral, individualizar, permitindo perceber no grupo o que cada um efetivamente fez ou deixou de fazer.
Assim, nas boas “performances” de jazz, ao longo da apresentação coletiva, cada instrumentista é convocado a tocar separadamente. Neste caso, é esperado que o solo contivesse todos os compassos da música, evitando os chamados “riffs”, frases curtas e repetidas de poucas notas. Mesmo assim, talentosos músicos saberão tocar “riffs” com habilidade e competência, alterando suas notas e seus tempos.
Da diversidade e da pluralidade nascem equipes fantásticas, em que, talvez, nenhum deles, individualmente, seja tão diferenciado. Às vezes, o mais discreto e não necessariamente o mais habilidoso instrumentista pode ser, por outras razões, a mola propulsora do grupo. Há, por outro lado, casos de junção de bons músicos sem que os resultados esperados tenham emergido. Há casos desastrosos em que a banda não funciona coletivamente e nem individualmente e o som final sugere mudanças ou reprovações.
Nestes dias próximos do Dia do Professor celebremos aqueles docentes que avaliam para aprovar ou reprovar, mas que vão além. Eles o fazem para conhecer melhor os educandos e ao conhecê-los poder traçar trajetórias específicas que reflitam os caminhos mais adequados de um processo de aprendizagem que demanda ser, cada vez mais, personalizado, ainda que conjugado com grande escala. Parabéns especiais a esses professores que viabilizam quantidade e qualidade e que entendem que todos aprendem, todos aprendem sempre, mas cada qual aprende na sua maneira única.

FONTE :http://reitoronline.ig.com.br/

"Brasil tem boas práticas na educação, mas tem de compartilhá-las pelo País"


Especialista defende que Brasil crie ambiente de colaboração entre escolas e incentive aprendizado baseado em problemas reais, que torne o ensino mais eficiente e próximo ao aluno


Em tempos de crise econômica e austeridade, é ainda mais importante para o Brasil criar um ambiente em que a educação avance e que boas práticas existentes possam ser compartilhadas, diz o especialista britânico David Albury, que participa de projetos educacionais em diferentes partes do país.
Albury é professor visitante de Estudos de Inovação no King's College, em Londres, diretor da Global Education Leaders' Partnership (comunidade de líderes e consultores em educação) e presta consultoria a redes de ensino em 13 países.

Na cidade gaúcha de Viamão (RS), ele participa de um plano na rede municipal a partir da metodologia chamada de problem-based learning (ensino baseado em problemas), em que questões relevantes aos alunos e suas comunidades são o ponto de partida para o aprendizado prático e para a busca de soluções pelos próprios estudantes.
Albury esteve em São Paulo recentemente para participar do seminário "Liderança e Inovação na Educação", da Fundação Santillana. Ele conversou com a BBC Brasil por telefone.

BBC Brasil - Como é o projeto do qual o senhor participa em Viamão (RS)?
David Albury - Pela (metodologia de) "ensino baseado em problemas", os estudantes participam de projetos e os usam para adquirir conhecimento. Os projetos levantam questões (relativas à comunidade), e os estudantes apresentam ao restante da escola o resultado das pesquisas.
Os estudantes ficam realmente motivados e ganham mais aptidão a aprender, pesquisar, desenvolver habilidades.

BBC Brasil - Como melhorar o desempenho dos estudantes brasileiros, atualmente muito mal posicionados em rankings internacionais de educação?
Albury - De fato é um grande problema: como dar a todos os estudantes do país as habilidades e os conhecimentos que eles precisam para serem bem-sucedidos e prosperarem no século 21.
A primeira coisa é dar condições e apoio para que as escolas e professores desenvolvam boas práticas de ensino, usando exemplos do Brasil e de outras partes do mundo.
É preciso fazer com que as escolas trabalhem juntas de modo que sintam que estão colaborando com um ensino do século 21. Se você cria esse ambiente nas instâncias municipais, estaduais e federal, acho que o (cenário do) país é promissor.
Há centenas de exemplos de inovação de grandes escolas, mas é preciso criar as condições para que essas práticas sejam compartilhadas.

BBC Brasil - Que boas práticas viu no país?
Albury - Fiquei impressionado em especial com uma escola de Viamão em que os estudantes, em grupos, estão realizando projetos nas comunidades ao redor (por exemplo, com reciclagem e arte nas aulas). Dá para ver pelo seu envolvimento que eles estão aprendendo a pesquisar e a resolver problemas.
Há outros projetos em andamento pelo país, como o Escola Digital (plataforma gratuita com videoaulas, jogos e outros recursos de apoio à educação), que ajuda muitas escolas no Brasil a desenvolver recursos digitais e usar tecnologia.

BBC Brasil - Como disseminar mais essas práticas? Uma boa escola pode ajudar uma que não vá tão bem?
Albury - Muito do meu trabalho é ajudar grupos (de determinadas escolas) a se juntarem e compartilharem (seu trabalho), reunindo os professores e elaborando workshops que resultem na criação, em conjunto, de práticas de trabalho com os estudantes.
Espero conseguir também trazer processos e redes de contato do redor do mundo para ajudá-los nesse processo colaborativo e a pesquisar com os próprios estudantes o que eles acham relevante em sua educação.

BBC Brasil - O país ainda tem uma enorme desigualdade na educação. Como combater isso?
Albury - Mesmo nas escolas (que trabalham) em circunstâncias muito difíceis, mesmo nas escolas cujas crianças vêm de famílias muito pobres, é possível criar um ambiente fantástico de aprendizado, que envolva o estudante e o permita desenvolver habilidades básicas.
Claro que é algo de longo prazo, mas o que temos de fazer é juntar a energia e paixão dessas escolas e desses professores.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2015-10-12/brasil-tem-boas-praticas-na-educacao-mas-tem-de-compartilha-las-pelo-pais.html

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Professor publica tese de doutorado em forma de quadrinhos nos EUA

Nada como ver a tese de doutorado publicada pela editora da Universidade de Harvard, uma das mais tradicionais do mundo, não? Para o norte-americano Nick Sousanis, o feito teve um gostinho ainda mais especial: todo o trabalho foi feito em formato de história em quadrinhos
                                                      Nick Sousanis desenhou e escreveu a tese "Unflattening"
                             Nick Sousanis desenhou e escreveu a tese "Unflattening" 


Intitulado "Unflattening", Sousanis, que agora tem pós-doutorado em HQs pela Universidade de Calgary, no Canadá, defendeu em sua tese a importância do pensamento visual no processo do ensino e da aprendizagem. "As imagens podem falar coisas fora do alcance da linguagem [escrita] e os quadrinhos têm o potencial de ampliar as possibilidades de comunicação. As imagens são, enquanto as palavras são", explicou. 
O pesquisador não quis revelar a nota que tirou na tese, mas contou que foi o trabalho mais longo que já fez. "Eu passei! Eu tenho o meu doutorado [agora]", pensou ao ser aprovado. "Fui com minha esposa e filha de três semanas de idade para um passeio no Central Park logo em seguida! Foi um bom dia!", brincou.
Sousanis decidiu fugir dos padrões acadêmicos antes mesmo de ser aprovado no doutorado em educação pela Universidade de Columbia. Em 2008, ele aproveitou alguns quadrinhos educacionais que havia feito e entregou para a instituição de ensino como parte dos materiais de aplicação à pós-graduação. "Quando me candidatei, expressei minha intenção de fazer o trabalho [de doutorado] em forma de quadrinhos. E acho que eu acertei o momento ao fazer isso. Houve mais recepção aos quadrinhos do que nunca", relembrou.
Em 2011, iniciou o projeto "Unflattening" e tanto os acadêmicos da instituição quanto os produtores de quadrinhos abraçaram a ideia, segundo o ex-aluno. O doutorado foi concluído em 2014 e o livro publicado no começo deste ano. "Precisamos incentivar esse tipo de alfabetização visual e eu acho que os quadrinhos se prestam bem para fazer isso acontecer."
Cortesia Harvard University Press
"Unflattening é o que o leitor decide o que é", definou o autor

"Unflattening"

O nome "Unflattening" (algo como "não nivelado", em tradução livre) surgiu da vontade do autor de representar ideias e histórias em planos além da linguagem escrita. O objetivo foi valorizar o uso da imagem como forma de comunicação e estimular o leitor a refletir sobre diferentes pontos de vistas.
"Unflattening é o que o leitor decide o que é. Eu uso metáforas visuais e verbais para tornar os conceitos mais acessíveis, mas nunca os simplificando. O texto por si só pode ser um fator limitante e imagens são como parte integrante do significado como texto", detalhou.
"Estou emocionado em ver como as pessoas se envolveram profundamente com ele ["Unflattening"] e como ele já está sendo usado em uma variedade de salas de aula."

Paixão desde cedo

Os quadrinhos o fascinam desde quando ele era bebê. Tanto que Batman acabou sendo a primeira palavra que Sousanis falou – seu irmão mais velho lia as histórias em quadrinhos do personagem na época. Já os primeiros traços foram feitos por brincadeira quando criança.
Apesar da paixão, o jovem trilhou outros caminhos em sua vida acadêmica. Sousanis é matemático por formação. Porém, voltou aos quadrinhos quando começou a trabalhar com artes depois de formado. "Voltei aos quadrinhos em pleno vigor mais tarde. Primeiro, ao fazer alguns quadrinhos políticos e, em seguida, alguns quadrinhos educativos sobre arte e jogos", relembrou.
"Eu gostaria de pensar que o desenho um dia será considerado parte de uma alfabetização vital que não apenas para os sete anos, mas que continue a nos nutrir por toda a vida", acrescentou.
Cortesia Harvard University Press
"Eu gostaria de pensar que o desenho um dia será considerado parte de uma alfabetização vital que não apenas para os sete anos, mas que continue a nos nutrir por toda a vida"

Na sala de aula

Sousanis acredita muito no potencial dos quadrinhos na sala de aula. Para ele as HQs oferecem um meio distinto e importante para a organização dos pensamentos. Além disso, ele defende que os quadrinhos são importantes ferramentas de comunicação sobre qualquer assunto e em qualquer campo.
"Os méritos da alfabetização com os quadrinhos para leitores com dificuldades têm sido bem documentados. Talvez em algum momento eles não serão apenas formas 'alternativas' [para usar na sala de aula]", afirmou.

Garoto mexicano de nove anos estuda química na universidade


O pequeno Carlos Santamaría Díaz, de apenas 9 anos, ainda não alcança os pés no chão quando está sentado assistindo às aulas da Unam (Universidade Nacional Autônoma do México). Ele está fazendo o curso de química da instituição e já concluiu dois módulos.
Carlos aprendeu a ler aos três e começou a ter interesse pela disciplina aos cinco. "Ele tem facilidade para processar informação. No maternal, quando lhe mostravam uma letra, ele queria aprender todas", conta o pai, Fábian Santamaría.
Os familiares perceberam que o filho estava avançado na escola quando notaram que ele acabava desenhando nas disciplinas ou simplesmente dormindo. "Desde os cinco anos, ele era capaz de assimilar um livro completo de ciência de nível secundário e aprendeu a tabela periódica em algumas semanas."
Numa viagem para a província de Valência, na Espanha, conheceram uma professora que foi chefe do laboratório local da cidade de Alboraya. Ela teria dito aos pais que Carlos perdia o interesse pela escola, não por causa dos professores do primário, mas sim porque o filho tinha uma mente de cientista.
Foi então que o pai resolveu inscrevê-lo na Unam. O vestibular foi uma entrevista com o doutor em ciências químicas Eduardo Rodriguez de San Miguel, que levou apenas 15 minutos para aceitar o menino na faculdade. "Fiquei impressionado. Perguntei aspectos genéricos para ver do que ele era capaz. Não é que seja um gênio que sabe tudo, mas ele foca muito no que gosta", contou o pesquisador.
Os pais tiraram Carlos da escola tradicional e ele começará a estudar o quarto ano do ensino fundamental por meio de um programa da Espanha. Metade da nota será de exercícios trimestrais e o restante será analisado por meio de uma avaliação na embaixada espanhola. Dessa forma, ele poderá continuar a graduação na Unam.
Para concluir o restante dos anos escolares, o pai pensa em colocá-lo num curso do Instituto Nacional para a Educação de Adultos.

Futebol e matemática: A geometria do pênalti

No campo de futebol, dentro da grande área, há uma marca a 11 metros do ponto médio da linha do gol, para que seja feita a cobrança de uma falta chamada "pênalti". O goleiro fica sobre essa linha, entre duas traves que são paralelas, com uma distância entre elas de 7,32 metros, e sob uma terceira trave, cuja borda fica a 2,44 metros do solo.

Com essas informações, para realizar uma análise geométrica utilizaremos a cor azul para as traves verticais, a cor laranja para a trave que fica sobre a cabeça do goleiro e a cor vermelha para representar a distância de 11 metros da marca do pênalti até a linha do gol:






A cobrança usual do pênalti é feita por meio de um tiro direto, e uma das consequências é que a trajetória da bola, em função da distância e da velocidade, pode ser considerada, em grande parte das experiências, uma linha reta. Assim, faremos a visualização da vista lateral desses chutes, pontilhando as trajetórias das bolas em direção ao gol:



No esquema dessa vista lateral, identificamos vários triângulos retângulos, nos quais a linha vermelha e a trave azul são os catetos, enquanto que a linha pontilhada é a hipotenusa. Das três medidas, somente o cateto de cor vermelha é constante, com valor igual a 11 metros, enquanto que as outras duas mudam de valor conforme o ângulo formado entre a linha pontilhada e a linha vermelha.

Para organizar o nosso estudo, representaremos esse ângulo pela letra G; a medida da altura que a bola passa pela trave por y (cor azul); e o comprimento da linha pontilhada por x:





As relações matemáticas entre essas medidas, sejam elas constantes ou variáveis, podem ser exploradas a partir das definições do cosseno, do seno e da tangente, tendo como referência o ângulo G. No entanto, se quisermos descobrir o valor aproximado de G, para que a bola passe rente à parte inferior da trave que se encontra sobre a cabeça do goleiro, perceberemos que, para essa situação limite, a tangente será o melhor recurso, pois evita o cálculo da hipotenusa:
Com a informação de que o valor máximo de y é 2,44 metros, calculamos o valor da tangente de G e, logo depois, o valor aproximado de G (por meio de uma tabela):
Concluímos que o ângulo G deverá estar no intervalo de 0o (bola rasteira) chegando ao valor máximo aproximado de 13o no plano vertical da vista lateral. Os valores possíveis desses ângulos são interpretados também como as linhas de latitude da bola em direção ao gol. Podemos indicar alguns desses valores no nosso desenho, por meio de linhas também pontilhadas:



Vamos agora analisar essa cobrança de pênalti vista de cima. Dessa posição vemos a trave cor laranja, que fica sobre a cabeça do goleiro, e a linha vermelha, que representa a distância da marca do pênalti até o gol. Novamente identificamos vários triângulos retângulos, só que, dessa vez, em um plano horizontal, e em regiões simétricas, tendo a linha vermelha como eixo.

Para esta nova posição, definiremos como K o ângulo formado entre a linha pontilhada da trajetória da bola e a linha vermelha. Assim, podemos escrever a tangente desse ângulo, não esquecendo que deveremos explorar tanto do lado esquerdo como do lado direito do jogador que está cobrando o pênalti.

Qual será o valor aproximado do ângulo K para o jogador marcar um belo gol rente à trave direita do goleiro? O primeiro passo é interpretar o valor máximo do cateto oposto a K, que, nessa condição também limite, será a metade do tamanho da trave laranja:

7,32 : 2 = 3,66 m

O valor da tangente de K que será a razão do cateto adjacente, igual a 11 metros, pelo valor máximo do cateto oposto, que, como vimos, é igual a 3,66 m. Com mesmo procedimento anterior, calculamos o valor da tg K e, por meio de uma tabela, achamos o valor aproximado de K:






Assim, esse ângulo K poderá ser explorado tanto do lado esquerdo como do lado direito de quem está cobrando o pênalti, no intervalo de 0o a 19o. Essas medidas também são interpretadas como longitude da bola ao ser chutada a gol. Novamente indicaremos parte desses valores por meio de linhas pontilhadas:





Com lápis e papel, agora você pode explorar os conceitos de latitude e longitude, para se divertir com as possíveis posições da bola colocada pelo cobrador do pênalti. Será que em uma latitude de 10o e longitude 17o à direita, o goleiro defende?





Antonio Rodrigues Neto, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação professor de matemática no ensino fundamental e superior, é mestre em educação pela USP e autor do livro "Geometria e Estética: experiências com o jogo de xadrez" pela Editora da UNESP.