quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Reggio Emilia: como uma cidade italiana virou referência de educação

Reggio Emilia: referência na educação | Paolo Picciati

O modelo educacional de Reggio Emilia começou a ganhar destaque mundial em 1991, quando o jornal norte-americano Newsweek apontou uma pré-escola da cidade como uma das dez melhores escolas do mundo. Desde então, escolas da cidade italiana conquistaram a admiração de educadores. 
O diferencial do sistema é pensar nas crianças como indivíduos cheios de potencial e possibilidades para o futuro; já crianças com necessidades especiais e filhos de mães ou pais solteiros têm matrícula prioritária nas escolas da rede, sem precisar passar por processos de seleção. 
“A organização de tempos e espaços é fundamental para acolher as crianças em uma escola. O professor não se limita a ‘ensinar’, mas organiza os espaços escolares para garantir que as crianças vivenciem experiências significativas que precisam ser valorizadas”, afirma o italiano Andrea Pagano, educador formado em Ciência da Educação e em Ciência Pedagógica, pela Università degli Studi di Modena e Reggio Emilia (UNIMORE), em entrevista à Gazeta do Povo
Presente e futuro 
A abordagem incentiva os educadores a considerarem o que são as crianças no presente, e não o que podem se tornar no futuro. Isso se reflete em voltadas para a criação de laços entre as crianças e o aprendizado por meio de projetos adequados ao perfil do aluno, rejeitando modelos de avaliações e exames padronizados. 

O modelo surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando um grupo de mulheres da região percebeu a falta de uma creche e começou a construir uma edificação com as próprias mãos, com pedras e madeira encontradas nas imediações. A transformação da construção improvisada em escola foi consolidada com o envolvimento do pedagogo Loris Malaguzzi, que formulou o modelo educacional com base nas ideias de Jean Piaget, Lev Vygotsky, John Dewey e Maria Montessori. 
A mudança deu certo e hoje a rede de Reggio Emilia conta com 35 pré-escolas, correspondentes a cerca de 40% das escolas públicas do município, que se conectam com mais de 30 redes internacionais de educação para o estabelecimento de colaborações entre pesquisadores e educadores. 
Nas escolas, professores constroem currículos específicos, e os pais dos alunos trabalham como voluntários juntamente com os educadores. Na metodologia adotada por eles, as aulas são construídas ao redor de projetos que integram diversas áreas, como arte, ciência e matemática. 
“Todas as escolas podem proporcionar aos adultos a oportunidade para pensar o espaço como algo diretamente relacionado ao seu trabalho. E, em todas as escolas, os adultos podem ter a coragem de dedicar maior atenção às competências que as crianças já possuem e de serem guiados pelos interesses e modo de olhar o mundo que elas expressam”, diz Pagano. 
Realidade nacional
Para Gisele Mantovani Pinheiro, diretora do colégio curitibano Amplação, que utiliza o método italiano, é possível adequar o modelo a realidade nacional. “Escolas brasileiras que se inspiram na abordagem conseguem ter um olhar mais cuidadoso para uma avaliação que valida competências que as crianças já possuem”, diz. 
Por meio desse fator de observação, o professor passa a criar possibilidades: “Assim é possível fazê-las aprender através da experiência e então focar em avaliações menos sistematizadas”, afirma Gisele.

Cinco países mais pobres que o Brasil com melhores resultados na educação

Alcançar níveis de qualidade educacional é uma tarefa árdua que requer tempo, planejamento e ações integradas. Boas colocações em rankings educacionais, claro, não vem de graça, exigindo investimentos gradativos. Um bom exemplo é a Coreia do Sul, que precisou se reconstruir após um período de guerra entre 1950 e 1953, e dedicou 10% de seu PIB (Produto Interno Bruno) à Educação por uma década. 

Alunos da Binitayan Elementary School, nas Filipinas: índices de alfabetização melhores que no Brasil. | U.S. Air Force

Mas também é fato que apenas dinheiro não traz resultados; abaixo listamos cinco países com poderio financeiro menor que o Brasil, mas que conseguiram índices educacionais próximos ou superiores aos brasileiros. 
Para o levantamento, utilizamos como parâmetro de desenvolvimento econômico o PIB com base na paridade do poder de compra, de acordo com lista da Global Finance (o Brasil ocupa a 84ª posição). Já o parâmetro para educação é o índice de alfabetização da UNESCO de 2015 (o Brasil atingiu 91,8%). Confira: 

Filipinas 

Índice econômico: 121ª posição 
Índice educacional: 96,3% 
A educação básica é pública e se divide em dois ciclos: ensino primário, obrigatório, dos 6 aos 12 anos de idade; e ensino secundário, facultativo, dos 13 aos 17 anos. Além disso, o ensino superior segue o padrão de bacharelados com 4 anos de duração. 
Na educação básica são ensinados três idiomas: inglês, filipino e o dialeto local da região em que a escola está localizada. Outro diferencial é o ensino, desde os primeiros anos, de Makabayan, uma área de aprendizado holístico que integra diversas habilidades e áreas de conhecimento, como economia, política, ética, cultura, estética e ensino vocacional. 

Equador 

Índice econômico: 106ª posição 
Índice educacional: 94,5% 
A educação básica tem 10 anos de duração – 1 ano de pré-escola, 6 anos de escola primária e 3 anos de escola secundária. O ensino primário é obrigatório e gratuito para crianças de 6 a 12 anos. O ensino secundário é dividido em dois ciclos de três anos cada: o ciclo básico é gratuito e obrigatório; e o ciclo diferenciado é facultativo, tem mensalidades e é voltado para habilidades específicas como computação, matemática, ciências e estudos sociais. Além da educação básica, os estudantes tem acesso a educação pós-secundária, que é vocacional e busca formar mão de obra qualificada. 

Colômbia 

Índice econômico: 91ª posição 
Índice educacional: 94,7% 

A partir de um ano de idade, as crianças tem acesso a creches e pré-escolas públicas. Aos 6, ingressam no ensino fundamental, que tem 6 anos de duração, seguido do ensino secundário básico, com 3 anos de duração. No ensino secundário, os estudantes tem 4 anos de educação pública obrigatória e 2 anos de educação vocacional facultativa, que oferece especializações voltadas para áreas técnica, agrícola, artística ou de negócios. Ao final das etapas obrigatórias da educação básica, todos os alunos devem passar por uma prova nacional para ter direito ao diploma. Para ter acesso ao superior eles precisam completar o ensino secundário vocacional. 
Dos países citados neste levantamento, a Colômbia é o único que participa do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) – e também no ranking organizado pela OECD tem resultados melhores que o Brasil. Em “leitura”, 425 contra 407 pontos; “matemática”, 390 contra 377, e também em “ciências”, área em que a Colômbia cresceu 28 pontos desde 2006, segunda maior evolução no período: 416 a 410. 

Bósnia e Herzegovina 

Índice econômico: 107ª posição 
Índice educacional: 98,5% 
A educação básica é gratuita e obrigatória dos 7 aos 15 anos de idade. Essa fase é priorizada pelo governo por ser considerada essencial para a educação cívica das diferentes etnias que vivem no país – depois da guerra, o foco da educação se voltou para a formação multiétnica, com a implementação de programas educacionais que promovem a reintegração das diferentes etnias e culturas do país. 
O idioma ensinado em cada escola varia de acordo com a composição étnica da região, podendo ser a língua croata, sérvia ou bósnia. Tanto o alfabeto latino quanto o alfabeto cirílico são ensinados. 

Bolívia 

Índice econômico: 122ª posição 
Índice educacional: 95,7% 
A fase gratuita e obrigatória é o ensino primário, que tem 7 anos de duração, para crianças de 6 a 13 anos de idade. O ensino secundário, dos 14 aos 17 anos, é facultativo e divide-se em dois anos de ensino tradicional e dois anos de ensino vocacional, ao final do qual é necessário um exame para obtenção do diploma técnico. 
Desde 2006, o governo boliviano começou a instituir uma “reforma educacional descolonizadora”, que busca valorizar questões indígenas e identidades culturais do povo boliviano.