terça-feira, 1 de setembro de 2015

Professor publica tese de doutorado em forma de quadrinhos nos EUA

Nada como ver a tese de doutorado publicada pela editora da Universidade de Harvard, uma das mais tradicionais do mundo, não? Para o norte-americano Nick Sousanis, o feito teve um gostinho ainda mais especial: todo o trabalho foi feito em formato de história em quadrinhos
                                                      Nick Sousanis desenhou e escreveu a tese "Unflattening"
                             Nick Sousanis desenhou e escreveu a tese "Unflattening" 


Intitulado "Unflattening", Sousanis, que agora tem pós-doutorado em HQs pela Universidade de Calgary, no Canadá, defendeu em sua tese a importância do pensamento visual no processo do ensino e da aprendizagem. "As imagens podem falar coisas fora do alcance da linguagem [escrita] e os quadrinhos têm o potencial de ampliar as possibilidades de comunicação. As imagens são, enquanto as palavras são", explicou. 
O pesquisador não quis revelar a nota que tirou na tese, mas contou que foi o trabalho mais longo que já fez. "Eu passei! Eu tenho o meu doutorado [agora]", pensou ao ser aprovado. "Fui com minha esposa e filha de três semanas de idade para um passeio no Central Park logo em seguida! Foi um bom dia!", brincou.
Sousanis decidiu fugir dos padrões acadêmicos antes mesmo de ser aprovado no doutorado em educação pela Universidade de Columbia. Em 2008, ele aproveitou alguns quadrinhos educacionais que havia feito e entregou para a instituição de ensino como parte dos materiais de aplicação à pós-graduação. "Quando me candidatei, expressei minha intenção de fazer o trabalho [de doutorado] em forma de quadrinhos. E acho que eu acertei o momento ao fazer isso. Houve mais recepção aos quadrinhos do que nunca", relembrou.
Em 2011, iniciou o projeto "Unflattening" e tanto os acadêmicos da instituição quanto os produtores de quadrinhos abraçaram a ideia, segundo o ex-aluno. O doutorado foi concluído em 2014 e o livro publicado no começo deste ano. "Precisamos incentivar esse tipo de alfabetização visual e eu acho que os quadrinhos se prestam bem para fazer isso acontecer."
Cortesia Harvard University Press
"Unflattening é o que o leitor decide o que é", definou o autor

"Unflattening"

O nome "Unflattening" (algo como "não nivelado", em tradução livre) surgiu da vontade do autor de representar ideias e histórias em planos além da linguagem escrita. O objetivo foi valorizar o uso da imagem como forma de comunicação e estimular o leitor a refletir sobre diferentes pontos de vistas.
"Unflattening é o que o leitor decide o que é. Eu uso metáforas visuais e verbais para tornar os conceitos mais acessíveis, mas nunca os simplificando. O texto por si só pode ser um fator limitante e imagens são como parte integrante do significado como texto", detalhou.
"Estou emocionado em ver como as pessoas se envolveram profundamente com ele ["Unflattening"] e como ele já está sendo usado em uma variedade de salas de aula."

Paixão desde cedo

Os quadrinhos o fascinam desde quando ele era bebê. Tanto que Batman acabou sendo a primeira palavra que Sousanis falou – seu irmão mais velho lia as histórias em quadrinhos do personagem na época. Já os primeiros traços foram feitos por brincadeira quando criança.
Apesar da paixão, o jovem trilhou outros caminhos em sua vida acadêmica. Sousanis é matemático por formação. Porém, voltou aos quadrinhos quando começou a trabalhar com artes depois de formado. "Voltei aos quadrinhos em pleno vigor mais tarde. Primeiro, ao fazer alguns quadrinhos políticos e, em seguida, alguns quadrinhos educativos sobre arte e jogos", relembrou.
"Eu gostaria de pensar que o desenho um dia será considerado parte de uma alfabetização vital que não apenas para os sete anos, mas que continue a nos nutrir por toda a vida", acrescentou.
Cortesia Harvard University Press
"Eu gostaria de pensar que o desenho um dia será considerado parte de uma alfabetização vital que não apenas para os sete anos, mas que continue a nos nutrir por toda a vida"

Na sala de aula

Sousanis acredita muito no potencial dos quadrinhos na sala de aula. Para ele as HQs oferecem um meio distinto e importante para a organização dos pensamentos. Além disso, ele defende que os quadrinhos são importantes ferramentas de comunicação sobre qualquer assunto e em qualquer campo.
"Os méritos da alfabetização com os quadrinhos para leitores com dificuldades têm sido bem documentados. Talvez em algum momento eles não serão apenas formas 'alternativas' [para usar na sala de aula]", afirmou.

Garoto mexicano de nove anos estuda química na universidade


O pequeno Carlos Santamaría Díaz, de apenas 9 anos, ainda não alcança os pés no chão quando está sentado assistindo às aulas da Unam (Universidade Nacional Autônoma do México). Ele está fazendo o curso de química da instituição e já concluiu dois módulos.
Carlos aprendeu a ler aos três e começou a ter interesse pela disciplina aos cinco. "Ele tem facilidade para processar informação. No maternal, quando lhe mostravam uma letra, ele queria aprender todas", conta o pai, Fábian Santamaría.
Os familiares perceberam que o filho estava avançado na escola quando notaram que ele acabava desenhando nas disciplinas ou simplesmente dormindo. "Desde os cinco anos, ele era capaz de assimilar um livro completo de ciência de nível secundário e aprendeu a tabela periódica em algumas semanas."
Numa viagem para a província de Valência, na Espanha, conheceram uma professora que foi chefe do laboratório local da cidade de Alboraya. Ela teria dito aos pais que Carlos perdia o interesse pela escola, não por causa dos professores do primário, mas sim porque o filho tinha uma mente de cientista.
Foi então que o pai resolveu inscrevê-lo na Unam. O vestibular foi uma entrevista com o doutor em ciências químicas Eduardo Rodriguez de San Miguel, que levou apenas 15 minutos para aceitar o menino na faculdade. "Fiquei impressionado. Perguntei aspectos genéricos para ver do que ele era capaz. Não é que seja um gênio que sabe tudo, mas ele foca muito no que gosta", contou o pesquisador.
Os pais tiraram Carlos da escola tradicional e ele começará a estudar o quarto ano do ensino fundamental por meio de um programa da Espanha. Metade da nota será de exercícios trimestrais e o restante será analisado por meio de uma avaliação na embaixada espanhola. Dessa forma, ele poderá continuar a graduação na Unam.
Para concluir o restante dos anos escolares, o pai pensa em colocá-lo num curso do Instituto Nacional para a Educação de Adultos.

Futebol e matemática: A geometria do pênalti

No campo de futebol, dentro da grande área, há uma marca a 11 metros do ponto médio da linha do gol, para que seja feita a cobrança de uma falta chamada "pênalti". O goleiro fica sobre essa linha, entre duas traves que são paralelas, com uma distância entre elas de 7,32 metros, e sob uma terceira trave, cuja borda fica a 2,44 metros do solo.

Com essas informações, para realizar uma análise geométrica utilizaremos a cor azul para as traves verticais, a cor laranja para a trave que fica sobre a cabeça do goleiro e a cor vermelha para representar a distância de 11 metros da marca do pênalti até a linha do gol:






A cobrança usual do pênalti é feita por meio de um tiro direto, e uma das consequências é que a trajetória da bola, em função da distância e da velocidade, pode ser considerada, em grande parte das experiências, uma linha reta. Assim, faremos a visualização da vista lateral desses chutes, pontilhando as trajetórias das bolas em direção ao gol:



No esquema dessa vista lateral, identificamos vários triângulos retângulos, nos quais a linha vermelha e a trave azul são os catetos, enquanto que a linha pontilhada é a hipotenusa. Das três medidas, somente o cateto de cor vermelha é constante, com valor igual a 11 metros, enquanto que as outras duas mudam de valor conforme o ângulo formado entre a linha pontilhada e a linha vermelha.

Para organizar o nosso estudo, representaremos esse ângulo pela letra G; a medida da altura que a bola passa pela trave por y (cor azul); e o comprimento da linha pontilhada por x:





As relações matemáticas entre essas medidas, sejam elas constantes ou variáveis, podem ser exploradas a partir das definições do cosseno, do seno e da tangente, tendo como referência o ângulo G. No entanto, se quisermos descobrir o valor aproximado de G, para que a bola passe rente à parte inferior da trave que se encontra sobre a cabeça do goleiro, perceberemos que, para essa situação limite, a tangente será o melhor recurso, pois evita o cálculo da hipotenusa:
Com a informação de que o valor máximo de y é 2,44 metros, calculamos o valor da tangente de G e, logo depois, o valor aproximado de G (por meio de uma tabela):
Concluímos que o ângulo G deverá estar no intervalo de 0o (bola rasteira) chegando ao valor máximo aproximado de 13o no plano vertical da vista lateral. Os valores possíveis desses ângulos são interpretados também como as linhas de latitude da bola em direção ao gol. Podemos indicar alguns desses valores no nosso desenho, por meio de linhas também pontilhadas:



Vamos agora analisar essa cobrança de pênalti vista de cima. Dessa posição vemos a trave cor laranja, que fica sobre a cabeça do goleiro, e a linha vermelha, que representa a distância da marca do pênalti até o gol. Novamente identificamos vários triângulos retângulos, só que, dessa vez, em um plano horizontal, e em regiões simétricas, tendo a linha vermelha como eixo.

Para esta nova posição, definiremos como K o ângulo formado entre a linha pontilhada da trajetória da bola e a linha vermelha. Assim, podemos escrever a tangente desse ângulo, não esquecendo que deveremos explorar tanto do lado esquerdo como do lado direito do jogador que está cobrando o pênalti.

Qual será o valor aproximado do ângulo K para o jogador marcar um belo gol rente à trave direita do goleiro? O primeiro passo é interpretar o valor máximo do cateto oposto a K, que, nessa condição também limite, será a metade do tamanho da trave laranja:

7,32 : 2 = 3,66 m

O valor da tangente de K que será a razão do cateto adjacente, igual a 11 metros, pelo valor máximo do cateto oposto, que, como vimos, é igual a 3,66 m. Com mesmo procedimento anterior, calculamos o valor da tg K e, por meio de uma tabela, achamos o valor aproximado de K:






Assim, esse ângulo K poderá ser explorado tanto do lado esquerdo como do lado direito de quem está cobrando o pênalti, no intervalo de 0o a 19o. Essas medidas também são interpretadas como longitude da bola ao ser chutada a gol. Novamente indicaremos parte desses valores por meio de linhas pontilhadas:





Com lápis e papel, agora você pode explorar os conceitos de latitude e longitude, para se divertir com as possíveis posições da bola colocada pelo cobrador do pênalti. Será que em uma latitude de 10o e longitude 17o à direita, o goleiro defende?





Antonio Rodrigues Neto, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação professor de matemática no ensino fundamental e superior, é mestre em educação pela USP e autor do livro "Geometria e Estética: experiências com o jogo de xadrez" pela Editora da UNESP.