sexta-feira, 2 de junho de 2017

Como saber se um professor é ruim?


O vínculo positivo com o aprendizado é cultivado principalmente pela relação entre o aluno e o professor, desde os primeiros anos de escola. Porém, no dia a dia, essa ligação pode ser abalada por algumas atitudes que ficam, na maioria das vezes, na conta do educador.
Mas é importante não tachar simplesmente um professor de “ruim” quando ele perde a mão em algum ponto. Sob pressão, salários baixos e acúmulo de tarefas burocráticas, a profissão é repleta de estigmas. “E, contraditoriamente, exige profissionais pacientes, inteligentes e que tenham respostas para tudo”, observa Thalita Tomé, coordenadora pedagógica do programa Ensina Mais Turma da Mônica.
Além disso, a constante inquietação e autocrítica são características importantes para todo bom professor, que vai se preocupar diariamente com a melhor forma de ensinar. Algumas escorregadas comportamentais, porém, podem atrapalhar essa dinâmica. E todos saem perdendo.
“O objetivo do professor é mais do que ensinar bem, é ensinar o estudante a aprender. Atitudes contrárias, que não facilitam a relação com o aluno e o conhecimento, vou ter problemas com a aprendizagem. É preciso cuidar muito dessa relação vincular”, afirma Evelise Portilho, especialista em psicologia da educação e professora de Pedagogia da PUCPR.
Veja abaixo alguns sinais de que o professor precisa rever suas práticas (o interessante é que alguns valem também para o aluno que anda merecendo nota baixa).

1) Questões burocráticas vêm antes do conteúdo das aulas 
Neste item, o sistema é determinante, já que costuma envolver o educador em inúmeras tarefas burocráticas. Além das pilhas de provas e trabalhos por corrigir, muitas aulas em diferentes escolas para completar o orçamento, o professor precisa preencher documentos que tomam um tempo precioso que poderia ser aplicado em preparar as aulas com mais calma ou em formação. Planejamento cuidadoso pode ajudar a equacionar o problema de falta de tempo. “Quando a turma não está correspondendo às expectativas, vale pensar: será que é o conteúdo ou é a forma com que eu estou passando para os alunos?”, sugere Cíntia Cargnin Cavalheiro Ribas, coordenadora do curso de pedagogia da Opet.

2) Falta de planejamento 
O professor se perde na falta de planejamento e chega para as aulas sem muito repertório. Não leu o conteúdo a fundo, não preparou a aula e vai tentar improvisar em cima da hora. As atividades também brotam na pressão da necessidade de avaliar o aluno, mas sem método ou propósito claros. Segundo Evelise Portilho, indícios de que o professor está um tanto perdido podem ser percebidos por material enviado por ele para casa. “As instituições que formam o corpo docente no Brasil não trabalham organização e planejamento. É preciso que o professor busque essas ferramentas para conseguir ter uma rotina mais tranquila”, avalia Thalita.

 3) Diálogo dificultado com alunos e pais 
Comunicação entre o educador e a família de seus estudantes é primordial. Se o educador coloca muitas barreiras para esse diálogo, mau sinal. Quando, além disso, a comunicação também for truncada, ou pior, desestimulada durante as aulas, o ambiente de aprendizado também fica comprometido. Que aluno vai se sentir confortável para sanar dúvidas ou pedir referências a respeito de um assunto pelo qual se interessa? A recomendação é insistir no contato e se, mesmo assim, o professor for avesso ao diálogo, pedir que a direção ou coordenação pedagógica faça esta mediação. Ficar atento à política da escola antes da matrícula também é indicado. “Há instituições mais fechadas, em que os professores são proibidos de conversar na porta da escola, por exemplo. Às vezes o problema é da instituição”, diz Cíntia.

4) Conteúdo desatualizado 
Por mais jovens que os alunos sejam, eles conseguem perceber, nos gestos do professor, seu domínio (ou falta de) sobre o conteúdo que está ensinando. “As emoções são expressas no físico e as crianças conseguem dizer quando um professor não está bem ou está pouco à vontade. Isso interfere bastante na disposição deles”, diz a professora da PUCPR.

5) Atitude combativa com os alunos 
O professor tem uma atitude mais agressiva e não abre espaço para interrupções ou dúvidas. O que ele expõe é lei e o aluno fica acuado diante da postura enérgica do mestre. “Ansiedade, em alguma medida, é interessante para o aprendizado porque obriga a ser proativo. Mas quando o medo é muito grande, paralisa”, avalia Evelise. De acordo com a professora, ao contrário do que se acredita, estudos têm mostrado que professores jovens tendem a ser mais autoritários do que os mais experientes. “Quando há uma insegurança no manejo da profissão, essa postura arredia busca evitar a exposição de eventuais falhas”, afirma.

 6) Jogar a responsabilidade da aprendizagem para a família 
Os pais devem observar as devolutivas do professor para avaliar se ele não está colocando nas mãos da família a responsabilidade da aprendizagem da criança. “Há casos em que o profissional relata dificuldade do aluno. Mas, após testes, fica provado que, na verdade, não houve adequação metodológica em sala de aula”, exemplifica Cíntia.

7) Não levar em conta diferentes tipos de aprendizagem 
Ter em mente as particularidades de cada aluno é praxe do professor e é preciso buscar estratégias metodológicas que atendam a essa diversidade dentro de uma sala de aula. “É preciso estar aberto a mudanças e isso só se consegue com atualização. Como professora, percebo que preciso disso quando minhas expectativas não estão sendo atingidas. Os alunos estão agitados demais e eu não consigo fazer o meu trabalho ”, afirma Cíntia.

FONTE:http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/como-saber-se-um-professor-e-ruim-eb3a6iy9lfdnthtvwt4qvn05g


De que maneira os professores podem ensinar melhor?

Erros e acertos em sala de aula não precisam ser guardados a sete chaves. Expor a própria aula para a avaliação de colegas e, em alguns casos, da família dos alunos, pode ser a solução para melhorar a performance como educador. O sistema de mentoria, pelo qual o desempenho dos professores é acompanhada de perto pelas instituições, não é realidade para a ampla maioria da rede de ensino no Brasil (veja exemplos abaixo ), mas pode ser uma etapa valiosa para a formação continuada dos mestres.
A figura do pedagogo, que, no dia a dia das escolas é disputadíssima, seria responsável, a princípio, por orientar os professores. Na realidade do ensino municipal de Curitiba, por exemplo, os professores têm 1/3 de sua carga horária semanal reservada para planejamento de aulas. “Mas eles acabam não tendo essa prática de de discutir com os colegas, com um planejamento coletivo, em que se falasse de soluções comuns”, afirma Verônica Branco, professora de prática de ensino do setor de Educação da UFPR. 
Nesse contexto, até mesmo a participação dos pais nas aulas não seria descartada. “Isso teria que ser planejado com a pedagoga da escola, mas é possível. Se o professor é bom, tem um planejamento que não vai ser atrapalhado pelo acesso da família”, diz Verônica Branco. 
Coordenador do GEPEC (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada) da Unicamp, o professor Guilherme do Val Toledo Prado acredita que a abordagem é válida, mas reforça que é preciso haver uma preparação para esse acompanhamento sistemático do trabalho do professor. “Quem tem que dar o tom dessa parceria são os interessados no processo, que são os professores e os alunos. Um médico não seria acompanhado pela família em uma cirurgia se não fosse avisado e preparado para isso”, compara. “Essa participação tem que ser construída sem penalização, sem um clima de fiscalização. Mas pode ser uma boa abordagem. Um pai dentro da escola vai ver, por exemplo, que o professor trabalha com 40 alunos, dos quais quatro têm necessidades especiais. E talvez conclua que esse educador precisa de ajuda em sala de aula”, diz. 
Na opinião de Ricardo Antunes de Sá, professor do setor de Educação da UFPR, esse “acompanhamento” de colegas ou comunidade só deveria ser feito a pedido do educador. “Eu acho que na instituição privada o professor poderia se submeter a uma ‘mentoria’. Na escola pública isso seria muito mais difícil e enfrentaria profunda resistência. Para mim, o caminho ou a estratégia de formação continuada do professor precisa ter uma dimensão institucional”, acredita. 

Aprender a ensinar 

Com a absorção das teorias construtivistas no sistema de ensino, o papel do professor como principal figura do cenário do aprendizado foi revisto. A ‘habilidade’ do educador deixou de ser o único fator para explicar uma experiência bem-sucedida dentro da sala de aula e a figura do estudante é, neste contexto, bem menos passiva na construção do próprio conhecimento. Mesmo assim, ainda que para os recém-formados,  a antiga mentalidade ainda permeia essa formação. 
“Aprender a ensinar” passa também por uma intensa busca por aperfeiçoamento. Ricardo Antunes de Sá, professor do setor de Educação da UFPR, não acredita que ser ‘observado’ pelos colegas seja necessário para isso, mas o estudo coletivo precisa ser estimulado. “As escolas devem ter um programa de formação e qualificação profissional permanente. Sem dúvida que o professor precisa de suporte, de apoio e de incentivo permanente por parte das mantenedoras (públicas e privadas). Isso deveria ser uma ‘lei’ para todas as instituições de ensino”, afirma. 

Experiências 

O sistema de mentoria já é aplicado no Colégio Sesi desde 2005. O professor que entra na rede passa por uma formação sobre a metodologia e também por uma prova que avalia a força dos conteúdos que vai ensinar. Caso seja detectada alguma fragilidade, o professor passa por um treinamento que vai reforçar os currículos que vão garantir que ele tenha o domínio do conteúdo. 
Em sala de aula, uma pedagoga vai acompanhar esse desempenho semestralmente. “Há um checklist que vai verificar o domínio do professor, a relação dele com os alunos, o trabalho dele nas equipes, a condução de plano de aula dele. Ao final, o professor terá uma nota e um feedback sobre os pontos fortes e o que precisa ser aperfeiçoado”, diz Lilian Luitz, gerente de educação básica e continuada do Sesi no Paraná. 
Os professores também são avaliados pelos alunos da rede (que atende ensino fundamental e médio), que vão atribuir notas que serão confrontadas com a do pedagogo. Somadas as notas, o Sesi saberá em que pontos precisa apoiar e fortalecer o educador. A hora permanência, em que é feito o planejamento, tem momentos de estudo em grupo e individual, com o pedagogo. Palestras e formações pontuais, como recentemente foram feitas sobre o jogo Baleia Azul, bullying e depressão também fazem parte desse apoio. 
De acordo com Luitz, isso já se tornou uma cultura na rede. “A entrada do pedagogo em sala é uma prática, ele acaba se habituando e a abordagem é muito construtivista”, afirma a gerente. 

Outro exemplo de acompanhamento é o feito pelo Colégio Militar de Curitiba (CMC), que conta com corpo docente composto por 46% de professores militares. Em nota, o CMC explicou que a coordenação pedagógica assiste às aulas e preenche uma ficha que avalia a prática do professor. “Os pontos fortes são enaltecidos e as oportunidades de melhoria são discutidas, a fim de aprimorar sua prática”.

Dormir bem para aprender: pesquisa mostra que sono ruim atrapalha aprendizado


Não é de hoje que educadores e neurocientistas têm batido nessa tecla: dormir bem é imprescindível para um bom desempenho escolar. Horas reduzidas de sono não só afetam a capacidade de concentração, influenciam o humor e alteram a disposição: elas também prejudicam a consolidação do que é aprendido em sala de aula. Um novo estudo da Universidade de Zurique, na Suíça, traz mais detalhes sobre essa relação.
Em parceria com Nicole Wenderoth, docente do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, o professor Reto Huber conduziu um experimento que manipulou o sono de seis mulheres e sete homens. "Desenvolvemos um método que nos permite reduzir a profundidade do sono em uma determinada parte do cérebro e, portanto, provar a conexão causal entre sono profundo e eficiência de aprendizagem", afirma Huber em artigo publicado pela revista Science no último dia 23. 
No estudo, as cobaias tiveram que aprender três tarefas motoras diferentes ao longo de alguns dias. A atividade cerebral foi monitorada por eletroencefalograma durante o sono. No primeiro dia, todos dormiram sem interrupções. No dia seguinte, sem que os participantes do experimento soubessem, houve estimulação sonora direcionada para o córtex motor, responsável pelo aprendizado das tarefas ensinadas na experiência.

A pesquisa suíça conseguiu demonstrar os efeitos de um sono de má qualidade: a manipulação do sono teve como consequência o aumento dos erros nas tarefas propostas e o enfraquecimento da aprendizagem. "Na região fortemente estimulada do cérebro, a eficiência de aprendizagem estava saturada e não podia mais ser alterada, o que inibiu a aprendizagem de habilidades motoras", detalha Nicole Wenderoth. Com o método, os pesquisadores pretendem avançar também em outros estudos, como o da epilepsia.
A falta de sono compromete o desempenho escolar, entre tantas atividades, porque não dá chance para um “relaxamento” para as sinapses – ligações entre os neurônios – que são estimuladas intensamente enquanto estamos acordados. Grosso modo, precisamos de uma fase de recuperação, em repouso completo, para que novas informações sejam fixadas pelo cérebro. “É importante dormir bem antes de aprender para estarmos de prontidão a novos estímulos. Mas também é pelo sono que consolidamos a memória recente, daí a importância do sono profundo após uma aula”, diz o neurocientista Fernando Louzada, professor do Departamento de Fisiologia da UFPR.

Sem bocejo 
Não é lenda: as necessidades de sono variam de idade para idade, de pessoa para pessoa. “Por isso passamos a falar em uma faixa desejada de horas de sono e não uma duração específica”, explica Fernando Louzada (veja abaixo o número recomendado de acordo com a fase da vida).
 Na adolescência, adormecer cedo e assim evitar o cansaço extremo na manhã seguinte fica mesmo mais difícil – e não é apenas questão de se privar voluntariamente do sono por atividades excessivas ou pelas muitas horas dispensadas a aparelhos eletrônicos. “As mudanças no organismo durante a puberdade tornam o sono mais complicado. O adolescente não consegue antecipar a hora de deitar”, conta o professor da UFPR.

Adaptações nas escolas propostas pela neurociência 
Sesta para crianças 
Algumas crianças não precisam de sono diurno, enquanto outras sim. Por isso, é recomendado que se insira dois espaços dentro da escola: um para cochilo depois do almoço e outro para atividades lúdicas ou de leitura para quem não sentir sono.

Reconhecer ritmo dos adolescentes 
Paradoxalmente, enquanto os adolescentes naturalmente passem a atrasar o sono, muitos começam a estudar de manhã e saem da cama antes de cumprir suas necessidades de sono. É fortemente recomendado que as escolas mudem o horário de início das aulas para mais tarde para essa faixa etária.

Horários flexíveis 
Para atender matutinos e vespertinos, aulas começariam e acabariam duas horas mais cedo para um grupo de alunos. Por exemplo, considerando-se uma carga horária de cinco horas (corresponde à realidade brasileira), aqueles com tendências matutinas iriam à escola das 7h às 12h; vespertinos, das 9h às 15h. A proposta é baseada em uma década de estudos do Laboratório de Cronobiologia Humana da UFPR.

Tempo de sono por idade 

Até 3 meses
RECOMENDADO: 14 a 17 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 10 horas

4 a 11 meses 
RECOMENDADO: 12 a 15 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 9 horas

1 a 2 anos 
RECOMENDADO: 11 a 14 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 8 horas

3 a 5 anos 
RECOMENDADO: 10 a 13 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 7 horas

6 a 13 anos 
RECOMENDADO: 9 a 11 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 6 horas

14 a 17 anos 
RECOMENDADO: 8 a 10 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 6 horas

18 a 25 anos
RECOMENDADO: 7 a 9 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 5 horas

26 a 64 anos
RECOMENDADO: 7 a 9 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 5 horas

Acima de 65 anos 
RECOMENDADO: 7 a 9 horas
PREJUDICIAL: abaixo de 4 horas

Fonte: Fernando Louzada, professor do Departamento de Fisiologia da UFPR.
FONTE:http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/dormir-bem-para-aprender-pesquisa-mostra-que-sono-ruim-atrapalha-aprendizado-6cv0m31txcm9io46ugg4pclgj