quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Jovem Xavante cria canal no YouTube para combater preconceito

"Infelizmente, muitas pessoas acreditam que se um indígena, como eu, usar smartphone, roupas e viver na cidade isso significa que está deixando a sua cultura", afirma Cristian Wariu Tseremey'wa, de 20 anos, em um dos vídeos publicados em seu canal no YouTube.
Desde a infância, Cristian ouve comentários preconceituosos sobre a sua origem. Para desmistificar o assunto, o jovem xavante, com ascendência guarani, criou, há pouco mais de um ano, o canal "Wariu", no qual trata sobre temas relacionados à cultura indígena.
Cristian Wariu

"Há muito tempo, percebo que as pessoas que não fazem parte da nossa cultura têm certo preconceito com os povos indígenas. Quando eu explicava melhor sobre o assunto, elas passavam a nos respeitar mais. Enxerguei o YouTube como uma oportunidade para alcançar mais pessoas e explicar a elas sobre a nossa cultura", diz à BBC News Brasil.
O primeiro vídeo foi publicado em agosto de 2017. Nele, o jovem indígena fala sobre algumas das dúvidas que mais costuma ouvir sobre a sua cultura. "Não aguento mais me perguntarem se ando pelado em casa ou na aldeia", confessa no início do vídeo. Pouco depois, Cristian, que passou a vida morando na cidade e indo com frequência à aldeia, esclarece. "Não, não ando pelado em casa. É muito constrangedor. Mas, na aldeia, vai depender da etnia, porque índio não é um povo só", afirma.
Em seguida, ele ressalta que os indígenas são divididos por etnias, que possuem diferentes culturas. "Há etnias que andam peladas, mas não estão totalmente nuas, sempre há alguma coisinha para cobrir. Há outras que ficam nuas em momentos especiais, como em rituais, mas normalmente usam roupas", declara..
Os vídeos de Cristian são publicados uma ou duas vezes por mês. Ele já abordou temas como os significados de pinturas indígenas, mostrou rituais xavantes e falou sobre algumas das etnias que existem no Brasil. Até o momento, em seu canal há 17 publicações, que totalizam mais de 34 mil visualizações.
A indigenista Maíra Taquiguthi Ribeiro, que atua na Coordenação Regional Xavante da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Barra do Garças (MT), ressalta que os vídeos publicados por Cristian ajudam no combate ao preconceito contra povos indígenas.
"Um vídeo produzido por um jovem indígena, de forma simples, em uma linguagem informal e com informações sobre os povos, tendo suas experiências pessoais como uma das fontes, traz mais proximidade e empatia com o público. As pessoas que assistem entendem melhor a mensagem e conseguem compreender o indígena enquanto pessoa, e não como uma figura folclórica, descolada da realidade", explica à BBC News Brasil.
"Conhecer a realidade dos povos e entender a forma como vivem reforça a legitimidade dos seus direitos à terra, à autodeterminação e à sua especificidade. Provavelmente, daí venha a incompreensão da sociedade não indígena a respeito das questões indígenas: da defasagem dos instrumentos de construção desse conhecimento", acrescenta.

A infância entre a cidade e a aldeia

O pai de Cristian pertence à etnia xavante, enquanto a mãe é Guarani. O jovem se considera, culturalmente, apenas ligado aos ancestrais paternos. "Conforme a linhagem dos xavantes, o filho deve ser considerado apenas da etnia deles, independente do parceiro. Além disso, quando você precisa se identificar como indígena, como na matrícula em uma universidade, precisa mencionar apenas um povo", explica.
Cristian nasceu na região urbana de Campinápolis, em Mato Grosso. Na cidade, passou boa parte da infância e adolescência. "Sempre moramos em áreas próximas à aldeia, para que não ficássemos distantes da nossa cultura. Havia datas em que passava temporadas de até dois meses na aldeia para realizar os rituais", diz. O jovem comenta que participou de todas as cerimônias consideradas importantes para seus ancestrais. "Os xavantes são muito ligados aos rituais. Se eu não fizesse todos, não seria considerado um deles", explica.
O jovem conta que os pais optaram por viver na cidade para que ele e os dois irmãos - Cristian é o mais velho - tivessem mais facilidade no acesso aos estudos. "Meus pais prezam muito pelo ensino", afirma. A mãe dele trabalha como secretária na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e o pai preside a Federação do Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt). "Eles estudaram até o ensino médio, em Brasília, quando se conheceram. Depois não tiveram condições para fazer faculdade."
Durante a infância e a adolescência, Cristian comenta que era comum que professores o questionassem sobre a cultura indígena. "É um tema muito desconhecido. Na escola, queriam saber sobre a vivência do meu povo e questões políticas. Essas dúvidas existem porque os livros falam pouco sobre os indígenas. Focam mais na colonização e esquecem da diversidade cultural que existe. Além disso, também não falam sobre o indígena contemporâneo, por isso as pessoas pensam que continuamos do mesmo jeito, como no passado."
Na escola, o jovem relata que colegas de classe praticavam bullying contra ele, em razão de suas origens. "Diziam que todo índio é preguiçoso, falavam que comemos piolho e também ouvi alguns colegas dizerem que eu nunca deveria ter ido para a cidade", lamenta. Fora do ambiente escolar, ele se recorda de outras situações de discriminação que presenciou quando criança. "Uma vez, minha avó foi chamada de índia nojenta por ter pedido apenas uma banana, por não ter dinheiro para pagar um cacho inteiro."
Para tentar reduzir o preconceito à sua volta, Cristian conta que desde a infância costumava esclarecer sobre a cultura indígena para aqueles que desconheciam o assunto. "Todo esse preconceito me afetava, porque muitos pensavam que éramos canibais ou extremamente violentos. Quem imaginava isso, tinha medo da gente. Então, eu tentava mudar essa situação, contando a verdade sobre o meu povo", diz.

Os vídeos como meio de tentar reduzir preconceito

Na pré-adolescência, Cristian acompanhou o boom dos youtubers. Na época, percebeu que os vídeos publicados na internet seriam uma forma de combater o preconceito contra os indígenas. "Pensei em criar o canal há mais de cinco anos, mas eu tinha poucos recursos. Eu não sabia mexer com audiovisual, nem tinha conhecimento sobre edição", conta.
No ano passado, o Ministério da Cultura lançou um edital para auxiliar produções audiovisuais de jovens vlogueiros em todo o Brasil. Cristian se inscreveu e apresentou um projeto para criar um canal sobre questões indígenas. "Desde que descobri o edital, fui me preparando. Eu não sabia editar, muito menos gravar, mas diante dessa oportunidade, me esforcei para aprender. Como eu sempre tive muita aptidão com meios tecnológicos, não tive tantas dificuldades."
Ele, então, gravou e editou o piloto de um vídeo para o canal. Na gravação, esclareceu as dúvidas que mais escutou durante a vida sobre questões indígenas. "A proposta foi muito bem recebida pelo Ministério da Cultura e isso me deixou muito feliz", conta. O jovem foi um dos selecionados no certame.
Segundo o jovem, o apoio dos pais, que o incentivaram a se inscrever no edital, foi fundamental. "Eles sempre me apoiaram em qualquer coisa que eu fizesse", diz. Cristian relata que outro fator que o ajudou a ser selecionado foi o foco que teve para fazer um bom trabalho para concorrer no edital. "Sempre fui muito focado em tudo o que eu quero. Além disso, desde pequeno tenho aptidão para design gráfico. Tudo isso me ajudou", explica.
Após a seleção do Ministério da Cultura, surgiu o canal "Wariu" - nome que Cristian afirma ter escolhido em homenagem ao bisavô. O jovem xavante é o responsável pelo roteiro, gravação e edição dos vídeos. Ele recebe ajuda de conhecidos e de um revisor ortográfico, que o auxiliam a passar as informações corretas sobre os indígenas nas publicações. Os recursos do edital, ele pontua, são usados, principalmente, em aluguéis de equipamentos e no deslocamento quando faz gravações em áreas indígenas.
Cristian ressalta que seu canal tem o objetivo de abordar etnias distintas e não apenas os xavantes. Em razão disso, visitou outros povos. Sempre que ele chega a uma nova região, costuma ser reconhecido e tem status de celebridade.
"Os indígenas enxergam o meu canal de uma forma muito boa, como uma maneira de representatividade, porque é difícil ver as informações sobre nosso povo serem difundidas assim. Neste ano, visitei oito regiões indígenas de Mato Grosso e pude ver, de perto, que há muitas pessoas que acompanham e admiram o meu trabalho", orgulha-se.
O prazo de vigência do edital se encerra no fim deste ano. Depois, ele revela que continuará publicando os vídeos. "O edital serviu como um apoio inicial. Agora estou mais experiente e sei mexer com edição, conseguirei dar continuidade", conta.
No YouTube, há outros canais de indígenas que falam sobre suas culturas. O de Cristian é o mais popular dentre eles.

Os temas e os comentários

Os assuntos abordados no canal são definidos por Cristian com base nas reações e perguntas do público que o acompanha. Em seu primeiro vídeo, o jovem percebeu que havia muita curiosidade sobre os brincos que usa nas orelhas. Ele, então, fez um vídeo explicando sobre o ritual no qual os jovens xavantes passam a usar o adereço.
"Esse é um dos rituais mais importantes para o xavante. O brinco não é usado apenas para fins estéticos, ele tem a simbologia de um povo que carrega consigo a luta e a sabedoria", explica.
O brinco é colocado para simbolizar que o jovem xavante se tornou adulto. Antes de receber o item, eles são divididos em grupo e começam o ritual em um rio. "Os jovens são ensinados a bater na água com as mãos, sem parar, para que o líquido acerte as orelhas e elas fiquem moles e adormecidas. Ficamos nesse rio por quatro semanas ininterruptas, parando somente para comer e dormir", revela.
Depois de um mês no rio, os adolescentes são levados para a aldeia. Eles ficam à espera de um indígena que fura suas orelhas com um osso de onça-pintada. "Quando furei, não senti dor nenhuma, apenas ouvi os barulhos das orelhas se rompendo." Depois do ritual, o indígena que recebe o brinco passa a ser considerado adulto. "A partir de então, ele passa a ter voz na aldeia e também pode se casar", conta Cristian.
Cristian Wariu
Em outro vídeo, o jovem xavante esclarece sobre um dos temas que considera dos mais relevantes para os indígenas na atualidade: a relação com a tecnologia.
"Com o avanço da tecnologia, não é de surpreender que essa onda tenha chegado aos indígenas. A tecnologia não está tirando nossa cultura, como muitos acreditam. Pelo contrário, é uma grande ferramenta para mostrarmos a nossa realidade, que antes era omitida no Brasil. Ela pode ser usada para compartilhar nosso lado da história, para mostrar nossa cara, para nos organizar em prol dos nossos direitos e mostrar que ainda existimos e resistimos", afirma Cristian.
"Não vou deixar de ser indígena por usar a internet ou o celular. Não vou deixar de ser indígena por falar português. Essas são apenas ferramentas que usamos para compartilhar a nossa cultura, expandir e fortalecer nossas crenças, para que não morram com o tempo. Usando a internet, vou mostrar parte da imensidão da nossa cultura e que podemos usar a tecnologia e manter nossos costumes", acrescenta.
Nos vídeos do jovem, a grande maioria dos comentários são elogiosos e parabenizam Cristian pela iniciativa. "Muito feliz por ver um canal feito por indígena para falar da cultura de seu povo", escreveu uma mulher. "Adorei o canal. Estava procurando a realidade indígena contada por um nativo", pontuou outra.
Muitos dos que assistem aos vídeos também são indígenas e afirmam se sentir representados pela iniciativa de Cristian. "Acabei de conhecer seu canal e já estou amando. Sou indígena e sempre amei minha etnia. Tenho muito orgulho de ser quem sou", escreveu uma jovem.
Em meio aos elogios, existem algumas poucas críticas. O jovem comenta que já leu mensagens afirmando que ele deveria "voltar pro mato" ou "parar de gravar os vídeos, porque a iniciativa não ajuda os indígenas". "Às vezes aparece alguém que não aceita nos ouvir, pois tem uma ideia pré-estabelecida sobre o índio. Claro que não gosto de ler as ofensas, mas sempre lidei bem com isso. Tenho pena por ver pessoas tão limitadas", diz.

Sobre o futuro

Os vídeos que publica no YouTube motivaram Cristian na escolha da profissão. Desde fevereiro, ele cursa Comunicação Organizacional na Universidade de Brasília (UnB). O xavante foi aprovado no vestibular indígena realizado pela unidade de ensino no ano passado.
"Esse vestibular é um meio de o indígena se formar e dar retorno para a sua comunidade. Quando entrei na faculdade, expliquei que escolhi a comunicação porque penso que é um meio ainda escasso entre os povos indígenas, no âmbito acadêmico. Então, posso me formar e contribuir ainda mais para o meu povo", afirma.
Para ele, a comunicação será uma importante aliada dos indígenas a partir do próximo ano. Isso porque o jovem teme que o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), traga retrocessos ao seu povo.
"Sei que temos muita luta pela frente. Acreditamos que as políticas adotadas nos próximos anos afetarão intensamente o meio ambiente e o meu povo. Felizmente, nós, indígenas, resistimos durante esses 500 anos, mesmo após vários ataques, inclusive na ditadura militar, que matou muitos índios e extinguiu vários povos."
Cristian Wariu
"Independente do que acontecer, estaremos lutando para existir e pensando sempre em nossas próximas gerações", declara.

Governo cria código de conduta contra abuso de crianças e adolescentes

O Ministério do Turismo lançou hoje (13) o Código de Conduta do Trade Turístico para o Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes, que servirá de guia a profissionais do setor, como funcionários de hotéis, parques temáticos e de transporte, na identificação e coibição de ocorrências dessa natureza. Segundo Maurício Razi, assessor da pasta, o documento, elaborado em conjunto com o Ministério dos Direitos Humanos, tem como referência parâmetros internacionais, que foram ajustados à realidade brasileira para o fortalecimento da rede de proteção, com ênfase na prevenção dos incidentes.

"O código não é impositivo, é um aspecto ético, moral, para que todo o setor de turismo capacite seus colaboradores, faça o processo de divulgação do enfrentamento, [evidencie] que é crime, sim", destacou.

Razi destaca que considera o abuso sexual de menores de idade um crime subnotificado e que a principal finalidade do código consiste em estimular as pessoas a denunciar formalmente as ocorrências que testemunham, para que as autoridades de segurança possam agir. "O trade [o segmento] turístico tem um papel importantíssimo nesse processo reativo, de indignação. Porque o ministério não vai ter essa capilaridade de chegar a todos os pontos. Mas, se você pegar taxistas, hotéis, meios de hospedagem, agências de viagem, são vários [os agentes] que vão chegar lá na ponta reagindo".

"São 12 compromissos que a portaria traz, compromissos voluntários, de, de repente, você ajudar a prevenir. Você tem a sensibilização de alguém estar chegando em um táxi, com uma criança e um adolescente, estar procurando entrar com ela naquele hotel, e, ao não ter êxito de entrar, pegar aquele táxi, tentar outro meio de hospedagem. Nesse momento, se aquele colaborador, aquele frentista do hotel, da recepção, avisar a alguém, à polícia, você pode evitar uma violência que poderia se estabelecer logo depois daquele ato", acrescentou.

Somente em 2017, foram reportados ao Disque 100, canal de acolhimento de denúncias do governo federal, 20.330 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. Em junho deste ano (2018), o total de registros já chegava a 8.581.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Analfabetismo funcional: novos dados, velhas realidades

Chama atenção a porcentagem de adultos no nível proficiente de alfabetização no Brasil - apenas 12% -, apesar do aumento da taxa de escolaridade

Alfabetização adultos

A edição 2018 do Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional) acaba de ser divulgada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa. Não há boas notícias. O termo “analfabetismo funcional” se aplica aos indivíduos com entre 15 e 64 anos de idade que se situam nos níveis 1 e 2 de uma escala de 5 pontos – seria como tirar menos de 4 numa prova.
Embora sem novidades, alguns aspectos do estudo chamam a atenção. O primeiro é que houve um aumento gigantesco na taxa de escolaridade da população nesses últimos 18 anos, período em que o Inaf vem coletando dados. Apesar disso, continua baixo o nível de pessoas funcionalmente alfabetizadas. Na população total, o nível de analfabetismo funcional se reduziu de 39% para 30% da população entre 2001 e 2018. Nos níveis elementar e intermediário fomos de 48% para 59%, ou seja, cerca de 10% morreram ou deixaram de ser analfabetos funcionais e se encontram no nível elementar de alfabetismo funcional.
Também chama atenção a porcentagem de adultos no nível proficiente – apenas 12% -, e isso não mudou ao longo deste século, apesar do aumento da taxa de escolaridade. Este dado é ainda mais grave do que parece:  apenas 34% das pessoas com nível superior encontram-se nesse nível. Este dado combina com o que sabemos do Pisa – apenas 16% dos brasileiros atingem o nível 3 do Pisa, nível considerado minimamente adequado para o indivíduo fazer qualquer tipo de reflexão a partir de uma leitura.
O nível de escolaridade da força de trabalho continua alarmante. Essencialmente a base do setor produtivo é formada por um exército de Brancaleone: 25% dos trabalhadores são analfabetos funcionais e outros 25% possuem o nível elementar, são capazes apenas de “selecionar uma ou mais unidades de informação observando certas condições, em textos diversos de extensão média realizando pequenas inferências”. Ou seja: são incapazes de ler e compreender um manual de instruções. É mais ou menos o que se passava na Inglaterra no século XVIII.
Os relatórios do Inaf – sempre de altíssima qualidade – podem ser lidos como capítulos adicionais de Cem Anos de Solidão: nada muda em Macondo. As iniciativas para ajudar os adultos não apresentam resultados. E o sistema escolar, embora produza mais diplomados, não produz mais gente capaz de usar a leitura para fazer bom uso dela.
Os que advogam a expansão desenfreada da educação encontram aqui um rico material para reflexão: não adianta expandir sem qualidade. Educação de adultos tal como é oferecida também não produz impacto. O setor produtivo não tem sido capaz de qualificar as pessoas no trabalho. Remediar continua sendo mais caro e menos eficaz do que prevenir. Mas o sistema educacional não tem funcionado como um bom preventivo: 70% dos que já concluíram as séries iniciais são analfabetos funcionais e 33% dos que concluíram as séries finais encontram-se nesse mesmo nível. Olhando no reverso do espelho: apenas 1%, 4% e 12% dos concluintes das séries iniciais, finais e ensino médio, respectivamente, atingem o nível proficiente. Este é o Brasil em que nos encontramos em 2018.

Rosely Sayão: Por que as crianças pequenas têm a fase do egoísmo?

A psicóloga Rosely Sayão explica para os pais como funciona a fase do egoísmo dos filhos na infância e como devem lidar com ele.

No programa desta semana, Rosely Sayão responde a dúvida de Marlene, de Sorocaba, no interior de São Paulo. Ela escreveu para o programa e pediu ajuda com a filha, de cinco anos, que demonstra sintomas de egoísmo. sobre “O que devo fazer nessas situações ?”, indagou a leitora.
Rosely explica que nos dias atuais os pais esqueceram como realmente as crianças pequenas se comportam  e os confundem como “mini-adultos”. “Nos relacionamos com as crianças e temos a expectativa de retorno desse relacionamento de adulto”, afirmou.
Em episódios de egoísmo, Rosely explica que é impossível que crianças entre 3 a 6 anos sejam generosos. “Os filhos nesta idade não têm a capacidade de transmitir um conhecimento cognitivo para uma atitude de autocontrole, como empatia”, pondera. “Tudo que a criança sabe é o que eles querem e o que eles gostam”, completa.
Rosely aconselha os pais a não verem os filhos como egoístas porque seria como um diagnóstico médico.
“Quando olhamos para os filhos e enxergamos apenas um filho egoísta podemos traçar o caminho futuro”.

Escola de madeira no Tocantins vence prêmio internacional de arquitetura

Aldeia Infantil, de Marcelo Rosenbaum e do grupo Aleph Zero, foi eleita melhor construção do mundo


A escola Aldeia das Crianças, unidade da Fundação Brasdesco em Canuanã, no Tocantins, projetada pelos arquitetos Aleph Zero e Rosenbaum, ganha o Prêmio Internacional RIBA 2018 (Leonardo Finotti/.)

Uma escola de madeira na fazenda Canuanã, na área rural de Formoso do Araguaia, a 300 quilômetros de Palmas, em Tocantins, foi eleita a melhor construção do mundo pelo Prêmio Internacional Riba 2018, concedido aos melhores projetos mundiais a cada dois anos.
Parte da Fundação Bradesco, a Aldeia Infantil é assinada por Marcelo Rosenbaum e pelos arquitetos do grupo Aleph Zero. “A melhor construção do mundo precisa nos tirar do lugar comum e nos levar a um lugar de desafios, que nos lembre por que a arquitetura ainda é relevante”, disse Elizabeth Diller, parte do júri do prêmio, sobre a seleção. 
A Aldeia Infantil é uma escola fazendária que serve como um internato para 540 crianças e adolescentes, de 7 a 17 anos, e foi feita com o intuito de lembrar as casas dos alunos. O projeto foi desenvolvido a partir de conversas e visitas às famílias dos estudantes. A preocupação foi manter o ambiente fresco e aconchegante no calor do Norte do Brasil, em torno de 40ºC.
A escola Aldeia das Crianças, unidade da Fundação Brasdesco em Canuanã, no Tocantins (Leonardo Finotti/.)
No local, há espaço para acomodar trabalhadores rurais, funcionários e professores, além de salas de aula, um refeitório e um pequeno hospital. Jardins, salas de diversão e passeios também foram incluídos na arquitetura.
Os prédios têm tetos apoiados em vigas e colunas de madeira laminadas e detalhadas. Há aberturas para três jardins paisagísticos alinhados aos dormitórios. Nos quartos, há painéis nas portas que têm padrão diferente entre um e outro.
Os quartos dispõem de banheiros, chuveiros e uma lavanderia ventilados a partir de alvenaria perfurada, feita à mão. Há, ainda, escadas de madeira e passarelas com sacadas, proporcionando vistas do local e dos pátios.




Prêmio

O júri do Prêmio Internacional Riba 2018 recebeu 20 propostas, e, ao final, ficaram quatro, além da aldeia infantil brasileira concorriam um centro universitário em Budapeste, uma escola de música no subúrbio de Tóquio e um conjunto de prédios em Milão, na Itália.
O Prêmio Internacional Riba 2018 escolhe o projeto que representa a excelência em arquitetura e que proporciona impacto social significativo. A premiação ocorre a cada dois anos e a data é anunciada às vésperas da definição.
Em 2016, o Prêmio Internacional Riba inaugural foi concedido à Grafton Architects por seu extraordinário prédio universitário, a Utec, Universidade de Engenharia e Tecnologia, de Lima, no Peru.
(Com Agência Brasil)

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Prejuízos do uso compulsivo da internet para jovens

Os benefícios de uso das tecnologias de informação e comunicação, especialmente da internet, vêm acompanhados de prejuízos para a saúde física, psíquica, para a cognição, para as questões de relacionamento familiar e de segurança do usuário, principalmente em se tratando de crianças e adolescentes. Porque, quando são estimulados a utilizar dispositivos tecnológicos e a adentrar no mundo virtual sem o devido acompanhamento do mundo adulto, riscos e prejuízos podem ser produzidos.

(Foto: Daniel Castellano)


A proteção e a garantia de direitos das crianças e dos adolescentes na era digital é uma das principais preocupações da Rede de Proteção, porque na atualidade é crescente o número de ‘usuários compulsivos da internet na infância e na adolescência’.
Sendo as crianças e adolescentes prioridade absoluta de proteção, segundo as normativas internacionais e nacionais, é emergente desenvolver ações de prevenção ao uso compulsivo da internet, já constatado como transtorno de impulso enquanto dependência comportamental.
Prejuízos são agravados, sem precedentes, para o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente que usam a internet de forma desmedida em tempo, conteúdo e forma de acesso. Principalmente quando esse uso ocorre em detrimento a atividades como brincadeiras ao ar livre, práticas esportivas, contatos com animais de estimação, atividades manuais, lúdicas e artísticas, que possam efetivamente apreender interações e conteúdos educativos.
Resultados de inúmeras pesquisas científicas em universidades de todo o mundo têm evidenciado a relação entre o uso compulsivo da internet, igualmente ao uso compulsivo de jogos eletrônicos e de redes sociais, com diversas implicações humanas: o déficit de atenção, a dificuldade de concentração, a diminuição da capacidade de memorização, o isolamento, a precocidade no desenvolvimento da sexualidade na infância, entre outras implicações de grande potencial, porque estão suscetíveis de ocorrer em todos os tempos, espaços, faixas etárias e condições sociais, econômicas e culturais.
Cuidados diversos em relação ao uso da internet são essenciais para preservar a integridade da criança e do adolescente.  E para isso, o controle parental é determinante e foi estabelecido no Art. 29º da Lei Nº 12.965 de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da internet), que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil.
Recorre-se ainda ao que diz o Parágrafo único do Art. 29 deste dispositivo doutrinário que, “cabe ao poder público, em conjunto com os provedores de conexão e de aplicações de internet e a sociedade civil, promover a educação e fornecer informações sobre o uso dos programas de computador, bem como para a definição de boas práticas para a inclusão digital de crianças e adolescentes”. E o Art 7º, inciso XII, prescreve que “acessibilidade da internet deve ocorrer consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei”.
Portanto, reafirma-se que a família, a escola, o Estado e toda a sociedade têm o dever de garantir a proteção integral das crianças e dos adolescentes também na era digital, considerando principalmente a fase especial de desenvolvimento biopsicossocial em que se encontram.
Você Sabia?
O problema de uso compulsivo da internet mobilizou a Associação Psiquiátrica Americana (APA) para sua averiguação. Na quinta revisão do Manual Diagnóstico de Desordens Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM), lançado em 2013 pela APA, o DSM-V incluiu critérios para diagnosticar um subtipo de uso compulsivo da internet, ‘a internet gaming disorder’ (vício em jogo eletrônico).
São nove os critérios para a internet gaming disorder que têm semelhanças significativas com os critérios utilizados para o diagnóstico de outras formas de dependência, conforme estabelecidos no DSM V (2013). 
São eles:
1 – Preocupação com jogos da Internet. (O indivíduo pensa sobre a atividade do jogo anterior ou antecipa jogar o próximo jogo);
2 – Os sintomas de abstinência quando o jogo da Internet é retirado. (Estes sintomas são geralmente descritos como irritabilidade, ansiedade ou tristeza);
3 – Tolerância – a necessidade de gastar cada vez mais tempo envolvido em jogos de Internet;
4 – Tentativas frustradas de controlar a participação em jogos na Internet;
5 – Perda de interesse em passatempos anteriores e entretenimento, com exceção de jogos de Internet;
6 – Continuação do uso excessivo de jogos na Internet, apesar de conhecer os problemas psicossociais;
7 – Engana familiares, terapeutas ou outros a respeito da quantidade de tempo de jogos na Internet;
8 – Uso de jogos na Internet para escapar ou aliviar humor negativo (por exemplo, sentimentos de impotência, culpa, ansiedade);
9 – Tem posto em risco ou perdido uma oportunidade de relacionamento significativo, educação ou carreira profissional por causa da participação em jogos na Internet.
O DSM-V também especifica diferentes graus de gravidade dainternet gaming disorder, leve, moderada ou grave, dependendo do grau de perturbação das atividades normais. Indivíduos com transtorno leve de jogos na internet podem apresentar menos sintomas e menos interrupção de suas vidas, enquanto indivíduos com transtorno grave terão mais horas no computador e perdas severas de oportunidades de relacionamentos, de carreira ou de educação.
*Cineiva Tono é Doutora em Tecnologia, Mestre em Educação, Membro da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB/PR e Presidente do Instituto Tecnologia e Dignidade Humana. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.



Uso das novas tecnologias em sala de aula

Em um mundo tecnológico, integrar novas tecnologias à sala de aula ainda é pouco frequente e um desafio para docentes. Em muitos casos, a formação não considera essas tecnologias, e se restringe ao teórico, ou seja, o professor precisa buscar esse conhecimento em outros espaços. Isso nem sempre funciona, pois frequentar cursos de poucas horas nem sempre garante ao professor segurança e domínio dessas tecnologias.




Embora alguns ainda se sintam inseguros e despreparados, muitos educadores já perceberam o potencial dessas ferramentas e procuram levar novidades para a sala de aula, seja com uma atividade prática no computador, com videogame, tablets e até mesmo com o celular.
O fato é que o uso dessas tecnologias pode aproximar alunos e professores, além de ser útil na exploração dos conteúdos de forma mais interativa. O aluno passa de mero receptor, que só observa e nem sempre compreende, para um sujeito mais ativo e participativo. O ideal seria testar as novas tecnologias e identificar quais se enquadram na realidade da escola e dos alunos. Uma das dificuldades é a falta de infraestrutura de algumas escolas e a falta de formação de qualidade para os professores quanto ao uso dessas novas tecnologias.
A tecnologia também auxilia o professor na busca por conteúdos a serem trabalhados. O Google, por exemplo, criou um espaço próprio para a educação, o Google Play for Education – que será lançado no segundo semestre, sendo a versão em português ainda sem data de lançamento. A finalidade é auxiliar professores que buscam atividades educacionais com tecnologia. O programa faz uma peneira por disciplina e série para sugerir aplicativos educacionais específicos para tablets. O professor pode, por exemplo, criar um grupo da sala em que todos os alunos poderão acessar o aplicativo, facilitando a participação.
Hoje, com todos os avanços, existe a necessidade de adequação, de abertura para o novo, a fim de tornar as aulas mais atraentes, participativas e eficientes. A ideia não é abandonar o quadro negro, mas usar das novas tecnologias em sala de aula.

Família e escola: Quais são os papéis?

Conceituar o papel de cada uma destas instituições importantes da sociedade, família e escola, eu diria que é quase impossível. Tornaram-se hoje grandes fontes de problemas. A família perdeu seu núcleo pai-mãe-filho, tornando-se um amontoado de pessoas vivendo sob o mesmo teto ou até em tetos diferentes, tentando educar o filho com suas visões de mundo, para assim encaminhá-los à escola.

Ivonaldo Alexandre / Gazeta do Povo


Por outro lado, a escola inconformada com o que tem recebido das famílias se põe no papel de responsável em educar e ensinar o pedagógico e, em inúmeras vezes, perde seu principal foco: a formação pedagógica desse indivíduo.
A inversão dos papéis da escola e da família junto à sociedade é muito nítida, por exemplo, antes de um processo alfabetizador, a escola precisa integrar esse aluno, advindo de uma família que o criou até então como centro do universo. Essa não deveria ser apenas responsabilidade da escola, devendo ter sido trabalhada pela família.
Perde-se muito tempo dando possibilidade para que essa criança entenda que precisa se colocar no lugar do outro, que respeite seus colegas como deseja ser respeitado, tarefa simples que deveria ter sido feita pela família. O papel educador é responsabilidade da família, para que o papel pedagógico possa ser exercido pela escola com boa qualidade.
O caminho e a parceria entre família e escola é fundamental. Ambas precisam se acolher, se entender e se ajudar para o bem comum desse indivíduo, preparado como pessoa para viver em sociedade. Porém, sempre cabe à família educar e estar alerta, pois o contrato com a escola pode ser rescindido, mas o contrato de pai, mãe e filho é para a vida toda. Portanto, é muito importante exercer os papéis com sabedoria e responsabilidade de todos.
>> Esther Cristina Pereira, Diretora de Ensino Fundamental do Sinepe/PR (Sindicato das Escolas Particulares do Paraná)

A importância de alfabetizar desde cedo

 | Josué Teixeira


Muitos pais se preocupam em saber se existe ou não uma idade ideal para a alfabetização e como isso afeta o rendimento de seus filhos na escola. Pedagogos e especialistas da área divergem quanto à questão do tempo certo para iniciar esse processo de aprendizado. Alguns dizem que a idade certa é por volta dos 7 ou 8 anos, pois as crianças menores são pequenas e não têm maturidade. Outros, por sua vez, acreditam que começar o processo de alfabetização antes dessa idade facilita todo o processo, contanto que se empregue um método eficaz.
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Na Finlândia, por exemplo, pesquisadores realizaram uma investigação ao longo de 18 anos acompanhando três grupos de crianças que corriam o risco de se tornarem disléxicas. Os pesquisadores observaram o seguinte: no grupo de crianças que se tornaram disléxicas aos 7 anos, todas apresentavam, dos 3 anos e meio aos 5 anos, um baixo desempenho em atividades de consciência fonológica. As crianças do grupo que não atingiu sucesso em leitura aos 7 anos também tinham um baixo desempenho em atividades de consciência fonológica.
A alfabetização pode ser bastante prazerosa para os pequenos
Já aquelas que tiveram um alto desempenho em leitura aos 7 anos eram as mesmas que, entre os 3 anos e meio e os 5 anos, apresentaram um alto desempenho em atividades de consciência fonológica, conhecimento de letras, memória fonológica, linguagem receptiva, linguagem expressiva e assim sucessivamente. Nesse caso, é possível perceber a diferença que houve no grupo de crianças que tiveram estímulos mais cedo.
Na escola onde leciono, alterei o programa de pré-alfabetização a fim de preparar as crianças para o momento da alfabetização e, consequentemente, aumentarem o desempenho em leitura e escrita nos anos seguintes.
Há quem acredite que a alfabetização é um processo torturante, em que a criança é obrigada a fazer cópias e aprender combinações de sons. Contudo, a alfabetização pode ser bastante prazerosa para os pequenos. No âmbito das abordagens fônicas, por exemplo, podem ser aplicadas diversas atividades extremamente lúdicas e divertidas.
Ao aprender e adquirir habilidades, a criança começa a ficar mais empolgada. Além disso, os pais ficam mais contentes com as pequenas conquistas do filho, pois não imaginavam que o pequeno fosse capaz de fazer tantas coisas com apenas 3 ou 4 anos.
Portanto, não é preciso esperar tanto para estimular os filhos a ler e escrever. O processo pode ser iniciado mais cedo mediante a leitura em voz alta e a aplicação de jogos e brincadeiras muito simples, que promovem a aquisição de habilidades fundamentais no processo de alfabetização. A realização de tais atividades pode ser uma forma de divertimento para as crianças, além de proporcionar-lhes uma melhora da memória fonológica.
Quando a criança aprende a ler e adquire fluência na leitura, naturalmente seu desejo por esta tende a aumentar cada vez mais. Por isso, ao procurar uma escola para seu filho, busque uma que atenda às demandas dele e leve em consideração suas capacidades. Não deixe que a escola o desestimule ou faça-lhe perder o gosto pela leitura.
Carlos Nadalim é coordenador pedagógico e organizador do blog “Como Educar seus Filhos”.