quarta-feira, 29 de julho de 2015

Você colocaria seu filho para estudar embaixo de uma árvore?

A discussão sobre a infraestrutura das escolas revela muito sobre a forma como cada um encara o debate educacional. Alguns ficam tão preocupados apenas em saber se os alunos aprenderam ou não o mínimo necessário, que não se preocupam em quais condições se dá o ensino. Infelizmente, para essas pessoas, impera a lógica de que para o filho do outro vale qualquer escola e qualquer educação.
Em primeiro lugar, é honesto apresentar a minha posição: concordando com a legislação nacional, embora ela esteja tão distante de ser efetivada, entendo que todo aluno tem o direito de estudar em uma escola adequadamente equipada. Concomitantemente, considero que todo professor também tem o direito de lecionar com os insumos pedagógicos necessários.
Recentemente, o UOL Educação noticiou uma pesquisa que aponta que menos de 1% das escolas brasileiras têm infraestrutura mínima, segundo os critérios doCAQI (Custo Aluno-Qualidade Inicial), ou "ideal", no entendimento dos autores do estudo, diante do enorme atraso brasileiro.
CAQi calcula quanto a educação pública custa por aluno ao ano, considerando salário inicial condigno, política de carreira e formação continuada aos profissionais da educação, número adequado de alunos por turma, além de insumos infraestruturais como: brinquedotecas, bibliotecas, quadra poliesportiva coberta, laboratórios de informática e laboratórios de ciências, etc.

Embaixo da árvore

Uma vez, em março de 2009, fui convidado pela Save the Children – Reino Unido a apresentar o CAQI na Universidade de Londres. Depois da minha explanação, em controlados 25 minutos, uma gestora do alto escalão do DFID (Departamento para o Desenvolvimento Internacional), a agência britânica que tem como missão "a promoção do desenvolvimento sustentável e eliminação da pobreza no mundo", discordou dos meus argumentos:
– Meu filho estuda em uma escola pública aqui de Londres. Ele era ótimo em natação. Mas, infelizmente, teve um professor ruim. Praticamente desaprendeu a nadar. Não são os insumos, o que importa é o professor.
Com calma e imbuído do melhor espírito democrático, respondi:
–Tem razão, o fator mais importante para a qualidade da educação é o professor. Ele, inclusive, precisa de boas condições de trabalho e isso são insumos. Mas, perceba: seu filho não nadaria se não houvesse uma piscina. Sem ela, aliás, ele nem desaprenderia a nadar, segundo você.
Em socorro de sua companheira de escritório, uma jovem do DFID insistiu:
– Na África, apoiamos ótimos professores ensinando embaixo de árvores, muitas vezes sem cadernos ou livros. Eles fazem um ótimo trabalho por lá. Acho que você não tem razão, insumos não são determinantes – concluiu ela.
A calma se foi:
– Como disse, o CAQi não contabiliza apenas infraestrutura, considera salário, carreira, formação – respirei. E emendei. – Mas se eu te perguntasse se você colocaria seu filho para estudar lá embaixo da árvore, provavelmente, por orgulho, ou por simples hipocrisia, você diria que sim, que colocaria. Estou certo? Mas quero propor outra questão: pergunte aos estudantes e aos professores africanos que vocês apoiam se eles aceitariam trocar a sombra daquela árvore por uma escola bem equipada de Londres. O que você acha que eles responderiam?
O silêncio tomou conta do auditório, quebrado em alguns eternos segundos depois por um estudante indiano. Encorajado, mesmo diante do desconforto reinante, disse concordar plenamente com minhas colocações. Como pesquisador do tema, elencou outros equívocos da política de cooperação do DFID, denominada por ele como um "arrogante e ineficaz projeto civilizador".

"Infraestrutura não altera qualidade da educação?"

Todo ano, algum pesquisador incauto apresenta dados que buscam comprovar: "a infraestrutura das escolas não altera a qualidade da educação". Como a opinião pública também se nutre pela repetição, vez ou outra me deparo com gestores ou professores que repetem irrefletidamente essa máxima.
Para provar o contrário, é possível trilhar muitos caminhos de natureza científica. Por exemplo, demonstrar que a qualidade da educação não pode ser mensurada apenas por testes de larga escala, como a Prova Brasil. Outra alternativa seria desconstruir as pesquisas econométricas a partir de sua própria lógica, apresentando suas incompletudes e equívocos metodológicos. Sem muita dificuldade, também seria possível comprovar que insumos são condições necessárias, mas não suficientes, para a qualidade da educação. O que é verdade.
Em outras palavras, qualquer percurso analítico nos levará ao fato: a infraestrutura adequada das escolas compõe um dos elementos para a qualidade da educação, não o único. Ou seja, as pesquisas praticam um costumeiro cinismo analítico: primeiro, evidenciam os insumos físicos como um fator educacional. E depois, ao isolá-los, dizem que sozinhos não interferem na qualidade do ensino. E essa não é uma conclusão honesta.
Embora fosse eficaz, o debate metodológico é hermético demais, pouco palpável. Proponho outra questão, de cunho social: por que a infraestrutura adequada das escolas é importante?
Em 2006, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação lançou o livro "Consulta sobre a qualidade da educação infantil: o que pensam e querem os sujeitos deste direito". A conclusão da pesquisa foi de que creches e pré-escolas agradáveis, com brinquedotecas, livros infantis e parquinhos aumentavam o repertório das crianças, estimulavam a participação dos pais e motivavam as educadoras e os educadores a cuidarem e ensinarem os alunos. Todos se sentiam respeitados.
Para serem respeitados como cidadãos, todos merecem uma escola digna, adequadamente equipada. Sejam os profissionais da educação ao redor do mundo, as crianças britânicas, africanas ou brasileiras, qualquer que seja sua classe ou origem social.
Sendo elemento constituinte do direito à educação, a infraestrutura não pode ficar subordinada ao desempenho nem dos alunos, nem dos professores. A qualidade do equipamento público deve ser encarada como um atributo inquestionável de cidadania. E sua importância reside exatamente ai: na "igualdade de condições para o acesso e permanência na escola", conforme reza o primeiro princípio da educação nacional, disposto no artigo 206 da nossa Carta Magna.
Porém, como se sabe, não é isso o que acontece. Na matéria "Ciclo da pobreza", a Revista Educação apresentou dados do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social) que trazem uma preocupante realidade: nas escolas onde mais de 50% dos alunos matriculados são beneficiários do Bolsa Família, a infraestrutura é inferior à média nacional, que está distante de ser aceitável. Ou seja, os filhos das famílias mais pobres, que já vivem em situação de vulnerabilidade, estudam em uma escola precária. E eles merecem uma escola bem equipada independentemente de irem bem ou mal na Prova Brasil, independentemente do resultado da sua unidade escolar no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).

Faltam 54 bilhões para as escolas públicas serem dignas

Em 27 de fevereiro, o professor da UnB (Universidade de Brasília), Luiz Araújo, defendeu na Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) sua tese de doutorado. Seu estudo calculou quanto o Brasil precisa investir para que todas as escolas públicas sejam dignas e garantam um padrão mínimo de qualidade. Conforme a pesquisa, em 2011, seria preciso que o país investisse cerca de 54 bilhões a mais nas escolas públicas de educação básica.
O tema da qualidade da educação pública é das principais preocupações da sociedade brasileira. No texto "Você colocaria seu filho para estudar embaixo de uma árvore?" argumentei que uma infraestrutura adequada nas escolas é um fator imprescindível para a qualidade da educação, além de ser um direito de alunos, familiares e professores.

  • Teto de escola desabou em sala de aula em Campo Largo do Piauí em abril de 2013. No momento da queda, 15 alunos e um professor estavam no local
    Teto de escola desabou em sala de aula em Campo Largo 
  • do Piauí em abril de 2013. No momento da queda, 15 alunos 
  • e um professor estavam no local
  • O trabalho de Luiz Araújo utilizou o estudo do CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial) como referência. Desenvolvido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o CAQi calcula quanto a educação pública custa por aluno ao ano, considerando salário inicial condigno, política de carreira e formação continuada aos profissionais da educação, número adequado de alunos por turma, além de insumos infraestruturais como: brinquedotecas, bibliotecas, quadra poliesportiva coberta, laboratórios de informática e laboratórios de ciências, etc.
    Leia abaixo uma rápida entrevista com Luiz Araújo, abordando alguns temas de sua pesquisa intitulada "Limites e possibilidades da redução das desigualdades territoriais por meio do financiamento da educação básica".
    Daniel Cara - Qual seria o custo para a garantia da educação pública de qualidade no Brasil?
    Luiz Araújo - Para fazer esse cálculo trilhei um longo percurso. Trabalhei com quatro simulações e todas elas utilizaram o CAQi como referência. Em 2011, para garantir que todas as escolas públicas tivessem um padrão mínimo de qualidade, o país precisaria investir R$ 54 bilhões a mais. Esse valor precisa ser atualizado anualmente. Infelizmente, os dados necessários para fazer as simulações eram os de 2011, temos esse problema de transparência e atualização dos dados no Brasil.
    Cara - Como você chegou a esse número?
    Araújo - Tomei como base o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação] e analisei as contas de todos os entes federados. Adianto que esse recurso novo precisaria vir da União. Sendo didático, em 2011 e para implementar o CAQi, a complementação da União ao Fundeb precisaria ser de R$ 63 bilhões. Como o Governo Federal transferiu cerca de R$ 9 bilhões, faltaram R$ 54 bilhões. Esse é o custo da garantia da qualidade. 
    Cara - Por que a complementação deve ser do governo federal?
    Araújo - O Governo Federal é o que mais arrecada e menos colabora com a educação, especialmente com a educação básica. Mesmo sendo essa colaboração uma obrigação constitucional, prevista no parágrafo primeiro do artigo 211, trecho em que é tratada a colaboração federativa na educação, que é entre a União, os estados, o distrito federal e os municípios.
    Cara - Por que você decidiu calcular quanto custa a implantação do CAQi em sua pesquisa?
    Araújo - O CAQi é a materialização de padrão mínimo de qualidade para todas as escolas públicas brasileiras. Resolvi utilizá-lo como parâmetro porque ele incide diretamente na desigualdade da oferta educacional. Em outras palavras, ele estabelece um patamar socialmente aceitável para a garantia do direito à educação e força a elevação da qualidade das escolas nas regiões e nos municípios mais pobres do país, aproximando-as da situação de Estados como São Paulo. Acredito que um trabalho científico não pode ficar apartado do debate vivo travado na sociedade. E a sociedade brasileira tem exigido, cada vez mais, educação de qualidade. E para isso é preciso atacar a questão das desigualdades.
    Cara - Quais seriam os benefícios da implementação do CAQi para a redução das desigualdades regionais?
  • Araújo - A implementação do CAQi causaria uma queda imediata de 12% na desigualdade de renda dos municípios, segundo simulações baseadas no coeficiente de Gini. Para ser imediata, esta queda é impactante. E seria provocada pelo aumento da participação das transferências do governo federal nas finanças municipais. O potencial do CAQi, como ferramenta de combate às desigualdades, é impressionante. O CAQi possibilita um caminho para que a redução das desigualdades territoriais seja travada em novo patamar.
    Cara - Mais recursos para os estados e municípios não é um risco? Não há graves problemas de gestão nas prefeituras e nos governos federais?
    Araújo - O CAQi também determina parâmetros que vão gerar maior pressão sobre os gestores estaduais e municipais. Os professores deverão receber o piso, ter política de carreira, formação continuada e escolas decentes para trabalhar. Os estudantes deverão ser respeitados, pois esses recursos novos permitiram escolas adequadas. O país ganha e o dinheiro não poderá ser desperdiçado, pois todos saberão o que é uma escola com o padrão do CAQi.
    Cara - Quais Estados e municípios seriam beneficiados com a implementação do CAQi via transferências do governo federal?
    Araújo - Meus estudos mostraram que mesmo Estados considerados ricos ainda não alcançaram o CAQi em algumas etapas e modalidades. Ainda assim, os principais beneficiados seriam os Estados do Norte e do Nordeste, pois eles estão muito longe do padrão mínimo de qualidade.
    Cara - Na tramitação final do novo PNE (Plano Nacional de Educação) os deputados precisam escolher entre o texto da Câmara e a versão de PNE do Senado Federal. Com base na sua pesquisa, qual é a melhor alternativa?
    Araújo - Com certeza é o texto da Câmara dos Deputados, apoiado pela sociedade civil. A versão do Senado significa inviabilizar a implementação do CAQi, pois esse mecanismo só é viável com a complementação de recursos do governo federal, essa é uma das conclusões da minha pesquisa. Só o texto da Câmara oferece essa possibilidade de participação do governo federal. E o governo federal teme exatamente isso: ter maior responsabilidade. Por isso, o Planalto optou pelo PNE do Senado, pois ele desresponsabiliza a gestão federal.
    Cara - Nesse momento a educação se dedica à tramitação do PNE, mas em 2020 termina o Fundeb. É possível dizer qual seria a melhor alternativa para o futuro: o Fundeb como um sistema de 27 fundos estaduais ou um fundo único?
    Araújo - Essa é uma pergunta muito importante, ou a mais importante. Falamos do Fundeb no singular, mas deveríamos falar no plural: são 27 fundos estaduais, com baixa participação da União. O Fundeb ainda é um modelo de financiamento desigual. Eu responderia sua pergunta de três formas.
    Primeiro, se tivéssemos uma reforma tributária profunda em nosso país e uma repactuação federativa talvez não fosse necessário prorrogar o Fundeb ou criar alternativas baseadas em fundos, sejam elas de fundos estaduais ou de um hipotético fundo único.
    Segundo, mesmo sendo necessária, a Reforma Tributária é uma agenda difícil. Sem ela, e querendo diminuir as desigualdades regionais para patamares menores do que os atuais, as alternativas estão atreladas a uma participação maior da União, como prevê a Constituição Federal e o texto de PNE da Câmara dos Deputados.
    Assim, para resolver parte significativa do problema, mas sem Reforma Tributária, o país conta com o CAQi, desenvolvido pela sociedade civil. Para alcançá-lo precisamos de R$ 54 bilhões por ano a mais, só em educação básica. O CAQi pode ser implementado tanto pelo sistema atual de fundos estaduais, que é o Fundeb, quanto por um fundo único. Conceitualmente o fundo único é mais justo, mas os efeitos financeiros com um aporte maior do Governo Federal não são tão distintos. Isso eu calculei na minha pesquisa.
    Terceiro, o objetivo do meu trabalho foi provocar um debate sobre novas bases de financiamento da educação básica, especialmente quanto à reformulação do Fundeb. Independentemente de qual será o modelo a ser adotado no futuro, o central é perseguir o padrão de qualidade e, pelo menos, o padrão mínimo de qualidade.
    Cara - Para terminar, por que o CAQi ganhou destaque na agenda pública brasileira?
    Araújo - Porque houve um persistente trabalho de convencimento realizado pela sociedade civil, especialmente pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação que foi quem criou o mecanismo. Além disso, a aceitação do CAQi pelos delegados e delegadas presentes na Conae (Conferência Nacional de Educação) de 2010 foi decisivo, porque ali ele ganhou legitimidade política. Isso foi decisivo para que o Conselho Nacional de Educação aprovasse uma proposta de resolução sobre o tema, concluindo o termo de cooperação com a Campanha. E isso é muito importante, mesmo diante do fato de que o CAQi ainda não foi homologada pelo MEC.
    Além disso, durante a tramitação do PNE, a necessidade de maior participação da União e de medidas eficazes para diminuir as desigualdades territoriais apareceu com força. Nesse momento, mais uma vez, a Campanha [Nacional pelo Direito à Educação] persistiu. Foi assim que o CAQi se firmou como um dos instrumentos para resolver este problema. Sinceramente, espero que o meu trabalho ajude a consolidá-lo como este parâmetro redistributivo. E é gratificante ver que uma construção da sociedade civil, tão bem elaborada tecnicamente e cuidada politicamente, tenha o poder de transformar o Brasil em um país mais justo. Trilhar esse caminho propositivo é o desafio para a sociedade civil aqui e em qualquer lugar do mundo.
  • DANIEL CARA

    Coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, bacharel em ciências sociais e mestre em ciência política pela USP.

País tem de gastar 3 vezes mais com aluno para garantir ensino de qualidade

 Para atingir um padrão mínimo de qualidade - garantindo ainda o pagamento do piso salarial para todos os professores -, o governo federal terá de ampliar em até 3 vezes o gasto anual por aluno. Esse salto pode representar, como é o caso das crianças em creches, até R$ 6 mil a mais por estudante anualmente - valor que a União complementaria a municípios e Estados.
A creche é a etapa da educação que mais depende dessa complementação de recursos da União, segundo cálculos atualizados pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação para definir o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi). O índice consta no Plano Nacional de Educação (PNE) e sua adoção é prevista para 2016, apesar de ainda não haver definição sobre o assunto por parte do Ministério da Educação (MEC).
O CAQi indica o investimento necessário - e inicial - por estudante para que haja condições para a ampliação do número de vagas e para a melhoria da qualidade de educação em todo o País. Entram na conta recursos para infraestrutura das escolas, materiais e equipamentos, além do salário dos professores - que responde pelo principal montante. O PNE ainda prevê que um CAQ (sem o "inicial") seja adotado ao longo dos dez anos de validade do plano.
De acordo com o cálculo, para que uma criança em creche em tempo integral seja atendida com um mínimo de qualidades, esse atendimento deveria custar R$ 10 mil por ano - hoje, o valor mínimo de referência do Fundeb (sistema de transferência de recursos calculada por aluno) gira em torno de R$ 3,3 mil por ano. Essa diferença de R$ 6 mil é o que se espera de complementação da União.
O montante varia por etapa na educação e tipo de atendimento. No ensino fundamental rural, por exemplo, o valor por aluno anual deveria dobrar - passando de R$ 2,9 mil para R$ 6,1 mil. "O que se observa é que as áreas que o Brasil tem pior desempenho e indicadores, como na creche, educação no campo e de quilombolas, são aquelas que o País precisa de mais recursos", diz o coordenador da Campanha, Daniel Cara. "E esse valor ainda não contemplaria a equiparação dos salários dos professores às demais carreiras, que é a meta 17 do PNE."

Reforço

Quando o CAQi for implementado, a complementação da União deve variar em cada Estado e município, como já ocorre com o Fundeb. No entanto, o dispositivo induzirá, no geral, a inversão das responsabilidades com gasto na educação, aumentando o papel da União.
Atualmente, apenas 18% dos gastos no setor vêm da União e o restante fica com Estados e municípios. Com o CAQI, a fatia da União chegaria a 31%, tornando mais equânime o peso para os outros entes.
"Grande parte dos municípios ainda não consegue pagar o piso. Como creche e os anos iniciais são mais caros, e estão sob a responsabilidade dos municípios, esperamos essa regulamentação o mais breve possível", afirma André Lemes, presidente da região Sul da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime). "O ideal é que haja um modelo em que os recursos cheguem diretamente às secretarias, como o Fundeb, e não por meio de programas."
Apesar de o prazo do PNE indicar urgência, o MEC ainda discute e trabalha internamente sobre o dispositivo. Segundo o secretário de Articulação com os Sistemas de Ensino do MEC, Binho Marques, a pasta concorda que a ideia de aumentar o financiamento com padrão de qualidade é essencial para o País, mas há "discordâncias" sobre os critérios. "Estamos concluindo um estudo detalhado sobre salários dos professores. Não basta ver quanto custa, mas precisamos ver quanto custa e de modo eficaz", diz ele.
O estudo deve ser apresentado em setembro. "O padrão não pode ser congelado, tem de ser dinâmico. E tudo tem de ser comparado com a capacidade de financiamento do País."
O MEC criou em junho um grupo de trabalho para definir os detalhes do CAQi. Entidades educacionais temem que não haja tempo para que o dispositivo integre o orçamento do próximo ano.
Ainda não há um valor global sobre quanto custará para a União o novo índice. Mas a Campanha estimou que as novas matrículas de quem está fora da escola custariam R$ 37 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

PROFESSORES SE SENTEM OBRIGADOS A CUMPRIR FUNÇÕES ANTES DELEGADAS AOS PAIS.



Crianças têm dificuldade em lidar com hierarquia em sala de aula, e professores se queixam de passar muito tempo mediando conflitos

As más condições de trabalho às quais os professores são submetidos é apontada como uma das principais pautas rumo à melhoria da educação. Além da questão salarial e da falta de recursos nas escolas, outra reclamação frequente dos docentes é a pouca participação dos pais na rotina escolar das crianças.


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Exigência é que professores não ensinem apenas conteúdo, mas também valores morais
Um estudo feito produzido pela pesquisadora Elaine Cristina Mourão, da FE (Faculdade de Educação) da USP, concluiu que a dificuldade dos pais imporem autoridade perante seus filhos é um fator que pode afetar o ensino, fazendo com que professores enfrentem situações de mau comportamento e desobediência, além de se sentirem excessivamente responsáveis pelo desempenho dos alunos.
Com o objetivo de entender, através da psicanálise, algumas das queixas compartilhadas pelos educadores, a pesquisa entrevistou professoras que atuam no ensino fundamental I. Elaine, que também é professora desta etapa escolar, afirma que indivíduos do século 21, como reflexo da sociedade em que vivem — chamada de pós-moderna por alguns autores —, primam mais pelos prazeres próprios do que pelas obrigações sociais. É o que a psicanálise chama de “funcionamento perverso”. “Não há um encontro pleno entre o que as pessoas desejam e o que a sociedade espera”, explica a pesquisadora.
Devido ao funcionamento perverso, os indivíduos se acostumam a obter sempre o que querem, e um dos resultados desse comportamento é a chamada “crise de legitimidade”. Nesse contexto, adultos têm mais dificuldade em dar ordens às crianças, e estas, por sua vez, relutam em obedecer aos comandos.
Segundo Elaine, tal situação vem se repetindo também em ambiente escolar. “Uma das questões que os professores destacam é que as crianças não obedecem mais”, afirma a pesquisadora. “Se na cena familiar as crianças acabam reinando, e se seus desejos e necessidades acabam se tornando algo que vence, elas esperam que isso ocorra também na escola”.
Os relatos das professoras entrevistadas reafirmam esse ponto. “As professoras destacam que falar com os pais de uma criança, hoje, não resolve muita coisa, porque os pais têm essa dificuldade em colocar limites”, diz. Tal situação intensifica o mau comportamento dos alunos, e faz com que os professores passem mais tempo intermediando conflitos do que, de fato, ensinando o conteúdo previsto.

Educação X Ensino

O estudo também ressalta que a sociedade pós-moderna, através do discurso técnico-científico, exige que os professores não só ensinem os conteúdos escolares aos alunos, mas que também se ocupem de sua educação, ou seja, da transmissão de valores.
Contudo, Elaine aponta que essa missão dupla vem se tornando um fardo muito grande para os docentes. “As professoras se queixam de que estão perdendo muito tempo com educação. E quando elas falam educação, se referem a essas coisas básicas, de que as crianças não sabem se sentar a mesa, não sabem ouvir as pessoas, não conseguem fazer silêncio”, diz.
É o que mostram alguns dos relatos presentes na pesquisa de Elaine. “Tem problemas de comportamento, que são crianças totalmente sem limites. Apoio e participação dos pais muito pouco, né”, aponta a professora Fernanda, uma das profissionais entrevistadas.
Para a pesquisadora, o fato de os pais trabalharem mais fora de casa e terem menos tempo disponível para participar da vida dos filhos é um dos fatores que agravam esse quadro.
Entretanto, muitos professores se queixam de que alguns pais, mesmo não trabalhando, escolhem se afastar da vida escolar das crianças, ou não concordam quando os professores cobram os filhos de forma mais rígida. O relato da professora Sandra, também entrevistada por Elaine, aborda essa questão.
“Não posso fazer praticamente nada. [...] Se você fala pra ele [o aluno]: ‘você não fez, você bagunçou, você vai ficar sentado’, tem pai e mãe que vem questionar. Mas o aluno pode derrubar sala, quebrar cortina, fazer o que quiser. Então, fica muito complicado”, relatou Sandra.
Outro aspecto abordado pelos professores é o desinteresse dos alunos pela escola. O discurso técnico-científico cobra dos professores o sucesso escolar dos estudantes, mas deixando de lado o papel do próprio aluno — e, consequentemente, de seus familiares — nesse processo.
Assim, os professores são obrigados a tentar conquistar a criança, convencendo-a da importância do aprendizado e tornando o conteúdo mais atrativo. Para isso, os docentes utilizam-se dos chamados “meandros da sedução”. “Os professores vão transformando a aula, fazendo negociações, contratos, tentando transformar a aula num show para conquistar os alunos”, diz Elaine. “O ensino deixa de ter sentido enquanto algo que engata no desejo do ser humano, e passa a ser algo que tem que atender a uma necessidade motivacional”.
De acordo com os educadores, os pais não auxiliam na tarefa de mostrar aos pequenos o respeito pela escola. “Antes os pais conseguiam fazer com que as crianças chegassem na escola e entendessem que ali é um lugar que elas deveriam ir para aprender. Mas hoje, as crianças vão para a escola com outras demandas”, afirma a pesquisadora.
Contudo, o estudo ressalta que a culpa pelos conflitos escolares não cabe apenas aos familiares, mas a toda a estrutura da sociedade pós-moderna, que não só torna mais conflituosas as relações de obediência, como determina à escola mais funções do que aquelas que são de sua responsabilidade.
“Antigamente, a escola era conteúdista, porque a educação ficava a cargo dos pais”, comenta a professora Raquel, também entrevistada na pesquisa. “Hoje em dia, tudo vem pra educação, todo projeto que a sociedade acha que esta tendo problema, vem pra educação”.

FONTE:http://painelacademico.uol.com.br/painel-academico/4647-professores-se-sentem-obrigados-a-cumprir-funcoes-antes-delegadas-aos-pais#

 






Ensino fundamental de 9 anos eleva desempenho de alunos

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A adoção do ensino fundamental de nove anos - que antecipou a idade de entrada na escola dos alunos de 7 para 6 anos - trouxe melhora ao aprendizado dos estudantes da rede pública. O nível de proficiência dos alunos do 5º ano do ensino fundamental do país que estudaram um ano a mais foi de 11% a 14% melhor, de acordo com os resultados da Prova Brasil.
A diferença, no entanto, deve cessar neste ano, uma vez que desde 2011 praticamente todas as matrículas já foram feitas sob este sistema. Ou seja, alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental que farão a Prova Brasil neste ano já tiveram cinco anos de escolaridade, e não quatro.
Os dados são de um estudo inédito promovido pelo movimento Todos pela Educação (TPE) obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo, que será apresentado nesta quinta-feira (2). O levantamento feito pelos pesquisadores Armando Chacón e Pablo Arturo Peña usou dados de desempenho dos estudantes na Prova Brasil - avaliação oficial do governo para todas as escolas públicas e que serve de base para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A prova exige conhecimento em duas disciplinas: Língua Portuguesa e Matemática.
Para chegar ao índice, o estudo compara o crescimento da nota no exame somente de alunos do 5º ano do ensino fundamental entre os anos de 2007 e 2011. As escolas foram separadas em três categorias, considerando o período em que adotaram o ensino de nove anos.
As unidades que tinham alunos já com cinco anos de estudo em 2007 foram as que tiveram maior evolução na prova. Nessas unidades, as notas da Prova Brasil subiram 21,7 pontos em Matemática e 18,5 em Língua Portuguesa.
As unidades que passaram a ter alunos com cinco anos de estudo só em 2011 também apresentam diferença. Nessas escolas, houve aumento de 20 pontos em matemática e 18,6 em língua portuguesa. Já as escolas em que os estudantes só tinham 4 anos de escolaridade em 2011 conseguiram níveis menores de melhora. O índice dessas unidades subiu 14,1 pontos em Matemática e 12,3 em Língua Portuguesa.

Avaliação

Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Ocimar Alavarse, o resultado é reflexo da maior exposição dos alunos, nos anos iniciais, às competências exigidas na Prova Brasil. Ressalta, no entanto, que, mesmo com a melhora, o desempenho médio do estudante ainda é baixo.
"Uma coisa é dizer que gera mais ganho. Outra é que o resultado do processo é eficiente", afirmou Alavarse. Em 2013, por exemplo, o desempenho dos alunos, tanto em Matemática quanto em Português, ficou abaixo do esperado.
A professora de Matemática da rede estadual de São Paulo Regina Estravini, de 55 anos, está há 25 na sala de aula. Ela disse ter visto melhora com o acréscimo de um ano. "Quanto mais tempo eles têm para desenvolver, mais fácil. Nem todo mundo pega o ritmo ao mesmo tempo, principalmente em matemática", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

FONTE: http://educacao.uol.com.br/noticias/agencia-estado/2015/07/02/ensino-fundamental-de-9-anos-eleva-desempenho-de-alunos.htm

Só copiar não adianta, diz professor; Veja dicas para fazer um bom resumo


O resumo, segundo professores ouvidos pelo UOL, é uma técnica que ajuda na compreensão e na interpretação de textos e livros e, consequentemente, serve como auxílio no aprendizado.

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No entanto, os especialistas fazem uma ressalva: não se deve apenas copiar os tópicos mais relevantes, sem tentar compreendê-los.
"Muitas vezes, as pessoas têm a ideia de que o resumo é apenas copiar passagens do livro ou do texto, como uma mera diminuição do tamanho do texto. A simples cópia não garante a compreensão", afirmou o professor Francisco de Assis Assunção, que leciona português no colégio Pitágoras, em Belo Horizonte.
Para ele, o resumo pode ser um aliado no aprendizado. "Se o aluno é bem orientando para selecionar as informações e tem autonomia para usar as suas próprias palavras para fazê-lo, e não fazer uma mera cópia, eu acho que é uma técnica válida", diz.
Juliana Romagnoli, professora de português e redação no Colégio Marista Dom Silvério, também situado na capital mineira, disse que o resumo permite ao aluno compilar informações mais relevantes de um texto.
"O resumo é um gênero textual interessante para a otimização de estudos e pesquisas, uma vez que permite ao estudante reconhecer a importância das técnicas de fichamento, com particular atenção à elaboração de tópicos esquemáticos e conceituais, de modo a sintetizar aspectos significativos de um texto" afirmou.
Para Daniella Lopes Dias Ignácio Rodrigues, integrante do programa de pós-graduação da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), o resumo permite ao estudante entender todas as fases de um texto.
"O registro da leitura de um dado texto por meio do resumo pode permite ao leitor compreendê-lo em toda sua plenitude: como o texto inicia-se, como desenvolve-se e como termina; no caso dos textos argumentativos, por exemplo, é possível perceber quais as teses defendidas pelo autor e quais argumentos ele apresenta a favor de sua proposição" disse.

FONTE:http://vestibular.uol.com.br/noticias/redacao/2015/03/24/so-copiar-nao-adianta-diz-professor-veja-dicas-para-fazer-um-bom-resumo.htm