terça-feira, 25 de setembro de 2012

Depois de Caçadas de Pedrinho, outra obra de Lobato é questionada


Críticos agora pedem que livro Negrinha, adquirido em 2009 pelo Ministério da Educação, tenha a distribuição suspensa. Restrições à obra são as mesmas: conteúdo racista e sexista.

Mais uma obra de Monteiro Lobato se tornou alvo de representação e levantará polêmicas. Antonio Gomes da Costa Neto, autor de ação contra o uso do livro Caçadas de Pedrinho nas escolas brasileiras, acaba de pedir à Controladoria Geral da União (CGU) que investigue a aquisição de outra obra de Monteiro Lobato feita pelo Ministério da Educação. Agora, ele questiona o conteúdo - que também considera racista - do livro Negrinha.
A obra foi adquirida pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), do Ministério da Educação, em 2009. O programa distribui livros para bibliotecas escolares de todo o País. De acordo com levantamento feito pelo próprio Neto, 11.093 exemplares do livro Negrinha foram destinados a colégios de ensino médio. Na opinião de Costa Neto, mais uma vez, a legislação antirracista não foi respeitada quando as obras foram compradas.              
Reprodução/Editora Globo
Nova polêmica envolvendo livro de Monteiro
Lobato: críticos questionam aquisição da obra,
considerada racista.

Ele alega que o conteúdo do livro, assim como em Caçadas de Pedrinho, tem conteúdo racista e, por isso, não poderia ser comprado com dinheiro público e distribuído para as escolas. Pelo menos, não sem notas explicativas nas obras e preparo dos professores para utilizar o texto em ações de combate ao racismo. Neto pede, em representação protocolada esta manhã na CGU, uma "diligência" para apurar os fatos narrados - e criticados - por ele.
No documento apresentado na Controladoria, que também é assinado por Elzimar Maria Domingues, professora de História, e Humberto Adami Santos Júnior, advogado do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), há uma análise sobre os especialistas que deram parecer a favor da escolha da obra, Marcia Camargos e Vladmir Sacchetta: "Trata-se, portanto, de um conto que põe por terra a ideia de um Monteiro Lobato racista. Aqui, ao contrário, ele denuncia de forma categórica um regime desumano que continuava na mentalidade e nos hábitos do senhorio décadas após a abolição".
Neto, porém, discorda. Para isso, cita trechos do livro. "A descrição da personagem é assim: 'Negrinha era uma pobre órfã de 7 anos. Preta? Não, fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados... A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira – uma miséria, trinta quilos mal pesados...' O objetivo do conto não é denunciar o racismo, ou mesmo desconstruí-lo, como diz a apresentação dos especialistas, trata apenas da realidade que o autor e a sociedade da época têm em relação ao negro", pondera.
Os autores da representação acreditam que o conteúdo do livro demonstra que qualquer uso da obra nas escolas, seja por profissionais da educação ou estudantes, deverá ser feito sob a ótica do racismo e sexismo. Mais uma vez, Neto, que é técnico em gestão educacional, defende que os professores sejam preparados para tratar aspectos racistas antes de o livro chegar às mãos dos estudantes.
"Na época da aquisição dos exemplares estava em discussão o parecer do Conselho Nacional de Educação, que já relacionava o autor do conto e do romance citado em razão de passagens racistas contidas nos livro Caçadas de Pedrinho. Foi reconhecida então a necessidade de conscientização pelo profissional da educacção sobre a importância da formação inicial e capacitaçaão dos educadores para utilizá-los de forma adequada", diz.

Formação de docentes

Os professores estão no centro da proposta elaborada por Neto e os integrantes do Iara, que entraram com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Caçadas de Pedrinho. Na tarde desta terça-feira, eles apresentarão as medidas que consideram essenciais para chegarem a um acordo com o Ministério da Educação sobre o assunto. Eles querem a inclusão de disciplina obrigatória sobre o tema nos currículos dos cursos que formam educadores.
As solicitações feitas pelos autores da representação na CGU incluem, novamente, os professores. Porém, primeiro, eles pedem que a Controladoria confira "o laudo de avaliação do PNBE de 2009 em relação a obra Negrinha" e o edital de licitação do programa para conferir se "cumpriu a legislação nacional e internacional antirracista e sexista". Depois, se houver comprovação de que as leis foram infringidas, eles pedem a suspensão da distribuição dos livros "até que se promova a devida formação inicial e continuada dos profissionais de educação".
Por fim, os autores da representação querem notas explicativas nas obras "sobre a obrigatoriedade de tratar das questões étnico-raciais e sexistas" nas escolas.

Polêmica

Monteiro Lobato se tornou centro de uma grande polêmica em outubro de 2010. À época, o Conselho Nacional de Educação publicou um parecer recomendando que os professores tivessem preparo para explicar aos alunos o contexto histórico em que foi produzido o livro Caçadas de Pedrinho, por considerarem que há trechos racistas na história.
A primeira recomendação dos conselheiros (parecer nº 15/2010) era para não distribuir o livro nas escolas. Escritores, professores e fãs saíram em defesa de Monteiro Lobato . Com a polêmica acirrada em torno do tema, o ministro da Educação à época, Fernando Haddad, não aprovou o parecer e o devolveu ao CNE , que então mudou o documento, recomendando que uma nota explicativa – sobre o conteúdo racista de trechos da obra – fizesse parte dos livros.
Logo depois, Neto e os advogados do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) impetraram um mandado de segurança no STF pedindo a suspensão do último parecer do CNE (6/2011), que reviu a definição do primeiro, ou mesmo impedir a aquisição de livros de Monteiro Lobato com recursos públicos. Em uma decisão rara, o ministro Luiz Fux, relator do processo, convocou uma audiência de conciliação entre as partes. O primeiro encontro, realizado no dia 11 de setembro, terminou sem acordo. Hoje, uma nova reunião tenta definir o assunto de vez.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-09-25/depois-de-cacadas-de-pedrinho-outra-obra-de-lobato-e-questionada.html

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Rendimento do ensino superior reflete anos de estagnação econômica


Aloizio Mercadante afirma que o País está revertendo situação mostrada por relatório da OCDE, que revela o pouco investimento na educação superior brasileira. Segundo ele, impacto de programas como o Prouni e o Fies também não foram medidos.

Os números do Brasil no ensino superior, constatados em relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgados nesta terça-feira, são o resultado de duas décadas de estagnação econômica, avaliou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. De acordo com ele, esforços estão sendo feitos para mudar esse quadro. “O Brasil está revertendo esse quadro e hoje está em plena expansão", disse.

Faltam recursos: País investe pouco em ensino superior

Segundo Mercadante, a nova geração tem mais oportunidades do que as anteriores. "Houve um compromisso estratégico e foi fortalecido, primeiro por uma decisão de governo. O fim da DRU [Desvinculação de Recursos da União] contribuiu para isso e permitiu novos instrumentos como o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação], que é muito mais amplo que o Fundef” [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério], acrescentou.
O ministro disse que o estudo não mostrou o impacto de programas educacionais, como o Universidade para Todos (Prouni), Financiamento Estudantil (Fies) e Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).
O estudo revela que em um grupo de 29 países, o Brasil ocupa o 23º lugar no ranking de investimentos no ensino superior. Além disso, mostra que foi investido em média 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nessa etapa de ensino. O estudo alerta sobre o baixo investimento em educação quando há a comparação com o Produto Interno Bruto (PIB). Segundo os dados, os investimentos brasileiros no ensino em geral atingiram 5,55% do PIB, enquanto a meta para os países da OCDE é 6,23%.
O aumento de investimentos em educação com 10% dos recursos do PIB foi definido no Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Senado, e é defendido por organismos do setor educacional, entretanto, ainda é assunto polêmico. A medida prevê a aplicação desse montante de recursos em políticas públicas do setor em até dez anos. Mercadante ressaltou que o Congresso Nacional ainda não definiu essas regras de financiamento.

Investimento em 10 anos: Projeto que destina 10% do PIB para educação vai o Senado

“Para praticamente dobrar os investimentos em quase uma década ou há aumento de impostos, como a criação de uma nova CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira], ou há cortes em outras áreas do Orçamento [Geral da União]. O caminho promissor que o Brasil tem é vincular todos os royalties do pré-sal e metade do fundo social do regime de partilha tanto dos municípios, quanto dos estados e da União”, argumentou.
O ministro completou: “Dessa forma, poderíamos ter metas muito mais ambiciosas no Brasil. É mais fácil partirmos o que não foi dividido do que cortar recursos já existentes como saúde e segurança pública”.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-09-12/rendimento-do-ensino-superior-reflete-anos-de-estagnacao-economica-diz-ministro.html

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

No mesmo ano da tragédia em Realengo, escola cresce quase 30% no Ideb

Apesar do trauma, Escola Municipal Tasso da Silveira obteve desempenho acima da média nacional em avaliação de 2011.
George Magaraia
Estudantes em sala de aula na Escola Municipal Tasso da Silveira,
em Realengo

Desde o massacre que vitimou 12 crianças, a Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio, vem tentando superar as marcas deixadas pela tragédia. Uma ampla reforma foi realizada e as normas de segurança em suas dependências ficaram mais rígidas, por exemplo. Agora, um novo número mostra que os esforços têm sido bem sucedidos.

George Magaraia
Nova fachada da Escola Municipal Tasso da Silveira

O resultado do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) aponta que, mesmo convivendo com os traumas deixados pelo massacre, a instituição de ensino registrou um aumento na sua nota final em 2011. Nos anos iniciais (até o 5º ano do ensino fundamental), o acréscimo foi de 14%. A nota que em 2009 era 4,9 saltou para 5,6. Já nos anos finais (do 6º ao 9º ano do ensino fundamental), o aumento foi de 29%, indo de 3,8 para 4,9.
Em ambos os casos, os resultados obtidos pela Tasso da Silveira ficaram acima da média nacional. Nos anos iniciais, a nota no Brasil foi 5,0. Nos anos finais, a marca chegou a 4,1. O resultado da escola de Realengo até o 5º ano do ensino fundamental também ficou bem próxima da marca definida pelo governo federal como meta a ser alcançada pelas instituições do País até 2021: 6,0 - média correspondente à qualidade do ensino em países desenvolvidos.
Criado em 2007, o Ideb mede a cada dois anos a qualidade das escolas no País. Para chegar à nota final, o MEC utiliza a taxa de aprovação na instituição de ensino e o desempenho dos alunos em provas aplicadas pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Quanto menos repetências e desistências a escola registrar e quanto maior forem as notas de seus estudantes no teste, melhor será sua nota no Ideb.

George Magaraia
"Com essa nota no Ideb, mostramos que a escola está viva"
diz o diretor Luís Marduk
 
Aprovação x reprovaçãoNo caso da Tasso da Silveira, o índice de aprovação em 2011 contribuiu para a nota final no Ideb. Segundo o diretor Luís Marduk, uma estratégia pedagógica adotada orientou os professores a “não pesarem a mão” nas avaliações escolares no momento pós-massacre. A medida resultou na proporção de seis estudantes reprovados a cada 100. “No momento da tragédia era importante ter o aluno confiando na escola, trazê-lo de volta com segurança e tranquilidade para aprender”, informou ele.

George Magaraia
As notas da Escola Municipal Tasso da Silveira
no Ideb ficaram acima da média nacional

No entanto, a prática não deve tirar o mérito da instituição de ensino. Os resultados dos alunos nas provas de português e matemática do Inep, outra variante utilizada para compor a nota final do Ideb, também ficaram acima da média do País. Nos anos iniciais, os estudantes atingiram 5,95 e, nos anos finais, 5,26. As marcas brasileiras foram 5,43 e 4,97, respectivamente.
Para Marduk, essas notas refletem o empenho e a preparação dos alunos. Iniciadas durante o período letivo, as obras na instituição de ensino reduziram a carga horária escolar e por isso poderiam atrapalhar a aprendizagem. Mas o que aconteceu foi o contrário. “A concentração do tempo acabou dando uma qualidade maior à aula. Não tinha recreio ou intervalo. O tempo que os alunos estavam na escola era sempre aproveitado ao máximo com trabalhos e exercícios. Isso acabou interferindo”, avaliou.
Superação de traumas
De acordo com o diretor da Tasso da Silveira, a boa classificação no Ideb veio coroar a cooperação montada na instituição para superar a tragédia do dia 7 de abril de 2011. “Esse índice é positivo porque nesse momento de reconstrução tudo o que precisamos é de confiança. Mesmo com as dificuldades, tivemos uma melhora. Com essa nota, mostramos que a escola está viva”, avaliou.

George Magaraia
Mural ao fundo foi feito após obras para marcar o recomeço
da escola pós-massacre

A psicóloga Maria Luiza Bustamante, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explica que superações como a da escola municipal não são frequentes. Isso porque traumas decorrentes de fatos como o massacre de Realengo diminuem a criatividade e a produtividade intelectual. O esforço das pessoas para superá-lo pode, entretanto, acarretar em uma produção superior à anterior do fato.
“Tudo depende da interação entre a ocorrência do trauma e a sociedade que foi vítima dele. Como exemplo, podemos citar países que foram destruídos por guerras e reagiram de uma maneira que conseguiram superar o ocorrido”, comparou.


FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-09-02/no-mesmo-ano-da-tragedia-em-realengo-escola-cresce-quase-30-no-ideb.html