segunda-feira, 25 de maio de 2020

Educação na pandemia vira desafio para os pais em Dourados

Educadora comenta modalidade EAD no sistema público de ensino


Que a pandemia do novo coronavírus vai transformar todas os setores sociais, isso é indiscutível. As metodologias de trabalho, de investimento financeiro, as formas de se relacionar e até mesmo a maneira de se aprender: todas elas devem sofrer mudanças importantes. Na educação, a pandemia provou o valor da escola e do professor. Também levantou debates importantes sobre a democratização da internet, uma vez que esta tem sido a ferramenta mais explorada para minimizar os distanciamentos provocados pela pandemia.

(Foto: Divulgação) -

Na casa da jornalista Caroline Ribeiro, de 34 anos, o fechamento das escolas representou um enorme desafio. A filha dela, Lorena, tem 4 anos, e estuda numa instituição particular em Dourados. Desde que os encontros foram suspensos, as atividades têm sido realizadas à distância através da internet. A interatividade com os professores via plataformas digitais não tem sido suficientes e exigiu da douradense e do esposo ainda mais participação na vida escolar da pequena. 
“A Lorena está em fase de aprendizagem e talvez se eu não der o meu melhor, isso a prejudique. Então incorporo a “tia Carol” e vamos lá”, disse relacionando o desafio ter que se tornar ‘professora auxiliar’ da noite para o dia. Claro que esta é uma ilustração para a atividade, mas em tempo de suspensão das aulas, obrigou os pais a se reinventarem na forma de apoiar os filhos. 
Caroline e o esposo estão sentindo na pele e ainda não sabem como irão proceder nos próximos meses. Eles aguardam as atualizações das organizações de saúde. A mãe ressalta que mesmo com a possibilidade de retorno em breve, ainda teme a exposição da filha ao novo coronavírus. 
“É um exercício de paciência diário, porque eu tenho que entender que ela tem 4 anos. Mas ao mesmo tempo tenho que ter disciplina, afinal ela tem reconhecer que aquele momento é hora da aula. Mas eu percebo que ela sente falta da rotina escolar. Dos amigos, da professora, porque quando a tia aparece no vídeo, ela fala q tá com saudade, fica com os olhinhos vidrados”, relatou.
Quem também viu a rotina dentro de casa virar de ‘cabeça para o ar’ foi a douradense Jamilyê De Pieri. Mãe de dois meninos, de 7 e 11 anos, ela tem se desdobrado para ajudar o mais velho com as atividades escolares. Ele estuda em uma unidade pública do Estado, está no sexto ano, mas segundo a mãe, tem tido um déficit de aprendizagem enorme com a mudança nos formatos de aula. Jamilyê confessa sentir que o ano escolar do filho está perdido, caso a realidade não mude. 
“Preferia que ele fizesse o sexto ano novamente no ano que vem, com calma, aprendendo. Já estamos passando por tantos desafios. Para as crianças existe uma dificuldade imensa em não poder sair, não poder brincar com os amigos e etc, e mais isso. Sem contar as provas”, afirma. 
Ela relata alguns desafios no apoio ao filho, sendo os principais a dificuldade de associar o ambiente de casa como a ‘nova sala de aula’, a dificuldade para gerenciar o tempo em função do filho (Jamilyê é viúva, cuida dos filhos sozinha e precisa trabalhar para sustentar a família), sem falar no esforço dos professores, que segundo ela estão fazendo o possível, mesmo que isso seja pouco eficiente. 
“Já meu outro, que estuda no Município, esse seria o ano em que ele aprenderia a ler. Mas o município decidiu não enviar atividades, pois muitos alunos não têm acesso a internet. Achei sábia a decisão”, comentou sobre o filho mais novo.
Na rede municipal as crianças estão sem qualquer cronograma escolar adaptado desde que as aulas foram suspensas, em março.
Milena Brum é mãe de uma menina de 6 anos. Nos últimos meses precisou adaptar a vida para cuidar da mãe, que está acamada. Esse é um esforço que ela garante assumir com prazer, mas a chegada da pandemia trouxe uma responsabilidade ainda maior: gerenciar a rotina escolar da filha. A menina ainda está em fase de aprendizagem, ainda não sabe ler com precisão, e precisa do suporte familiar para suprir as necessidades que o distanciamento provocou. 
“Olha, agora de uma semana pra cá que a escola adaptou o formato das aulas e passou a ter aulas onlines, mas até então eles mandavam as atividades no Google Classroom e as crianças tinham que resolver na apostila, tirar foto e enviar novamente. Minha filha mal aprendeu a ler, então quem tinha que praticamente resolver as atividades era eu. Ela é uma criança de 6 anos, que está aprendendo a ler agora, não sabe mexer com tecnologia ainda. Na minha opinião aulas online só funcionam com as crianças maiores, eles deviam se adaptar a outro método para as crianças pequenas”, afirmou.
O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS?
Para a educadora Maísa Barbosa da Silva Cordeiro, as transformações na forma de educar não devem ser tão expressiva após a pandemia do novo coronavírus. “Pelo menos no Brasil”, considera.
Maísa não vê na educação à distância uma possibilidade no País. Ela considera a falta de acesso à internet como o principal fator. Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta semana, 45,9 milhões de brasileiros ainda não tinham acesso à internet em 2018. Este número corresponde a 25,3% da população com 10 anos ou mais de idade.
Essa falta de democratização da internet precisa ser considerada na hora de avaliar a eficácia do estudo remoto. 
“Aulas remotas, para a educação básica, só são válidas neste momento de crise”, considera. 
Confira a entrevista concedida ao O PROGRESSO.
O PROGRESSO: Quais devem ser as transformações na forma de educar, a partir do pós-pandemia, dentro das escolas? 
Maísa: Olha, para o pós-pandemia, sinceramente não há como prever. Não acredito que haverá grandes transformações no modo de se ensinar, pelo menos por aqui.
O.P: Você acha que o ensino a distância é algo que deve ser implementado de forma mais colaborativa quando tudo isso passar? Qual sua avaliação sobre o método dentro do ensino básico?
Maísa: Não acho uma opção, nem parcialmente, para o ensino básico, em especial, o público. A escola é mais que um espaço de ensino e de aprendizagem, é local de socialização. Privar a criança ou o adolescente disso é prejudicá-lo em sua sociabilidade, o desenvolvimento de sua percepção ética em situações que só são possíveis no contato diário com colegas e professores. Tirando as dificuldades financeiras, as diferenças sociais, o fato de não termos democratização de internet, de condições de acesso a computadores. 
O.P: Mas descartar essa possibilidade não seria negar uma realidade cada vez mais inserida no ambiente social? Por exemplo, se isso tornar o ensino mais dinâmico, acessível e barato, não poderia ser uma alternativa a ser implementada, nem que seja parcialmente?
Maísa: Eu acredito que é possível dinamizar o ensino, inserir o aluno em uma realidade virtual, ensiná-lo a usar computadores e a tecnologia. Tudo isso dentro da escola. O foco em qualquer ação de políticas públicas não deve ser o de baratear o ensino. Isso é extremamente problemático. Ainda mais dentro de um governo que já sucateia a educação. Baratear mais só se prof der aula de graça
O.P: Você acredita que essa crise também serviu para que os pais compreendam o papel da escola e passem a valorizar ainda mais a educação? Desde as instituições aos professores?
Maísa: Olha, a construção da ideia do professor e da escola como ambientes prejudiciais e/ou ruins para crianças e adolescentes é antiga e vinculada a uma ideia de poder e de dominação que precisa negar um saber institucionalizado. Desde a desvalorização da ciência. Agora, por exemplo, vivemos em um ambiente de crescimentos de movimento anti científicos, seja o movimento do terra planismo, os movimentos antivacinas. Há todo um movimento de negação do saber científico. Começou com as ciências humanas, com a desvalorização de áreas como a filosofia, sociologia, entre outros. Agora, está em seu grau mais absurdo, como, por exemplo, do presidente indicando remédio. E um remédio que não está aprovado pelos médicos. Há então a negação do saber científico de toda a medicina. É necessário mais do que uma pandemia para que esses pais, que desvalorizam o professor, a escola e o saber científico, mudem. É preciso um resgate de valorização do saber científico, o planejamento de uma participação dos pais de modo mais efetivo na escola, entre outras ações. Escola é lugar de assimilação de conhecimentos científicos, técnicos, mas também  éticos e o desenvolvimento de percepção crítica acerca dos microcosmos e dos macrocosmos.
O.P: Sentir na pele o desafio de apoiar os filhos na educação vai sensibilizar os pais para essa importância, tantas vezes ignorada?
Maísa: Quem valoriza a educação valoriza em qualquer cenário. Quem desvaloriza, desvaloriza em qualquer cenário. Quem perde, nesse processo, são os educandos. Mas não creio que as aulas remotas são suficientes para inverter uma desvalorização histórica da figura dos professores por parte de uma parcela de brasileiros. 
O.P: Por fim, o que esperar da educação nesses dias? Como as nossas crianças sofrerão com essas mudanças? O momento é de compreender, reinventar, parar e esperar... o que fazer?
Maísa: O momento é de nos adequarmos a uma situação que, espera-se, é temporária. As aulas remotas são válidas e importantes nesse momento, mas também deve ser tempo para compreender que tanto tecnologicamente não estamos preparados, tendo em vista que há uma parcela significativa de brasileiros sem internet, sem computadores e sem conhecimento de manipular ferramentas virtuais de ensino. Igualmente, professores não estavam habituados com as aulas remotas, e estão aprendendo na prática algo completamente diferente do que estão acostumados. Aulas remotas, para a educação básica, só são válidas neste momento de crise. Creio que seja importante interrogar como as crianças já estão sofrendo: isolamento, falta dos colegas e professores, necessidade de aprender em um ambiente ao qual não estão acostumadas, dificuldades financeiras de acesso. Para mim, o momento é de adequações ao momento em que estamos, e, também, um momento de compreensão das crianças, dos professores e dos pais e responsáveis, pois estão todos e todas imersos em um cenário absolutamente diferente.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Educação na pandemia: 'Pais não são professores', defende especialista...



Para a educadora e doutoranda em Educação e Contemporaneidade Mariana Caribé, os pais não podem assumir o papel de professor dos filhos.
Para aprofundar o assunto sobre o impacto das aulas remotas na aprendizagem neste momento de isolamento social, O CORREIO conversou com musicoterapeuta, educadora e doutoranda em Educação e Contemporaneidade Mariana Caribé. Na entrevista, a especialista convida a pensar - seja na esfera pessoal, seja no sentido político - sobre o legado que essa experiência deve deixar, principalmente na vida das crianças. Confira. 
A escola é um lugar, um prédio, um espaço físico?
A escola é um lugar sim, mas muito mais do que um espaço físico. É um lugar de encontro de afetos, encontros de relações, de encontro social, cultural. Então, isso está fazendo muita falta para as crianças. Para elas, a escola é muito mais do que o conteúdo, que também é importante, desde que esse conteúdo tenha um caráter formativo do indivíduo. Eu acho que a escola congrega essas duas coisas, mas ela é muito mais esse espaço do encontro, das possibilidades.
Considerando que há também essa dimensão simbólica, como você percebe as crianças neste momento em que a escola está nas telas e como acha que as famílias devem lidar com as reações individuais?
Como a escola é, também, esse espaço subjetivo, simbólico e afetivo, está sendo difícil, para as crianças, transpor tudo isso, conseguir, rapidamente, entender toda essa mudança e funcionar nesse novo modo de escola virtual, sem opção, sem escolha, neste momento. Então eu acho que isso é algo sobre o que cabe a gente refletir. Sugiro que as famílias olhem, escutem, cuidem das suas crianças, cada uma ao seu modo, respeitando o ritmo delas.
É importante respeitar a forma que elas podem lidar com isso agora, sem rigidez e sem excessos em relação à vida estudantil virtual e às tarefas de casa virtuais.
Muitas crianças estão tendo reações do tipo ‘eu não quero mais ficar aqui nessa aula, por que eu vejo a minha professora, meus colegas, mas eu tenho que assistir aula online, eu não posso conversar com eles’. O espaço do encontro humano está completamente comprometido. Há um encontro humano intermediado  pela tecnologia e é completamente diferente porque nós precisamos do contato físico, do tato, do cheiro, do olhar, do gesto, do movimento.
As crianças tem custado a entender isso. Algumas tem resistido bastante à mudança. É a criação de uma nova realidade para as crianças, que apesar de terem acesso aos jogos  virtuais, games, desenhos animados e filmes, veem uma inversão disso, agora: a vida de verdade passa a ser a vida virtual.
Olhando para o outro lado: como você avalia esse esforço de reinvenção das escolas, neste momento?
Há um esforço, mesmo, das escolas em se reinventar neste momento, mas eu acho que precisamos ter muito cuidado com isso. Em todos os segmentos, mas, especialmente, na educação infantil e no ensino fundamental. A gente tem que lembrar que a infância vai até os 12 anos e que as recomendações, inclusive, que temos sobre uso de telas, das organizações internacionais para as crianças é um tempo muito, muito, menor do que aquele ao qual elas estão expostas, agora.
Há questões sérias aí. Outra coisa que acho importante ressaltar é que os pais não são professores. Não são na atuação, não são na construção do vínculo, no afeto que as crianças têm. Então isso tem sido um outro entrave no processo. As crianças estão sentindo falta.
O tempo de contato com a professora tem sido muito curto, estou falando especialmente das crianças menores, da infância mesmo até os 12 anos, especialmente da educação infantil e do ensino fundamental, os anos iniciais. Não tem como haver essa substituição.
Não se deve nem tentar isso. Nem inclusive as novas recomendações apontam para isso. Pai e mãe são pai e mãe. A professora está lá, ocupando aquele lugar de afeto que a criança construiu, de vínculo que a criança construiu e por conta disso se dá o processo de aprendizagem.
Há também a questão do protagonismo da criança. Com essa mudança, esse protagonismo ficou ainda mais reduzido do que era. As crianças estão mais silenciadas, porque não há como, não dá tempo. Está assistindo a aula online, mas não pode falar no chat.


Aí o tempo de pergunta a professora é muito curto. Então, isso é um ponto a se pensar também: o quanto essas telas têm silenciado a fala das crianças, no sentido de que elas estão ali só para (na maior parte do tempo) escutar o que a professora tem a dizer, executar as tarefas que estão sendo enviadas ou assistir aos vídeos que estão sendo enviados. Em alguns poucos momentos elas podem se tornar protagonistas dessa cena.
 
Quais são as marcas que, na sua opinião, as crianças levarão desse período?
Acho que as crianças estão sofrendo muitos impactos e que esse processo da pandemia deixará marcas para sempre. Deixará em nós adultos e nas crianças. Desejo que essas marcas sofridas possam ser as menores. Que desse processo se extraiam outras marcas.  
Isso é o que eu desejo. Marcas de solidariedade, de reinvenção, de criatividade, de possibilidade. Mas, não posso deixar de dizer que elas terão as marcas do sofrimento, da solidão, da ansiedade, da angústia, muitas vezes, silenciosa, quando elas não conseguem transformar isso em palavras, elaborar.
Elas vivem a angústia, a ansiedade no silêncio. Medo. Medo do não saber o que vai acontecer, dessa nova relação com o tempo, de estar sempre no “quando será”. O que eu acho interessante não é acolher esses medos, conversar sobre esses medos, essas angústias, essas ansiedades com as crianças para que elas possam ir decantando esses sentimentos e possam ir elaborando isso da melhor forma.
Quem é Mariana Caribé é musicoterapeuta, educadora e doutoranda em Educação e Contemporaneidade.

FONTE:https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/educacao-na-pandemia-pais-nao-sao-professores-defende-especialista/




A pandemia do coronavírus pode mudar para sempre a educação

Desde a Segunda Guerra Mundial, nunca tantos países ao redor do mundo fecharam escolas e universidades ao mesmo tempo e pelo mesmo motivo. Para se ter uma ideia, no momento em que escrevo este texto, são 138 países com instituições educacionais fechadas, 1,37 bilhões de estudantes fora da escola (representando mais de 3 em cada 4 crianças e jovens em todo o mundo) e 60,2 milhões de professores que não estão lecionando em salas de aula. 
A pandemia de covid-19 forçou instituições educacionais em todo o mundo a utilizar repentinamente ferramentas tecnológicas disponíveis há muito tempo para criar conteúdo e experiências de aprendizado remoto para estudantes. Educadores de todas as áreas estão experimentando novas possibilidades de ensinar ― e isso é um grande avanço para um dos setores mais resistentes a mudanças e a adoção de novas tecnologias.
Aula online  (Foto: Damircudic via Getty Images)
Se até 2020 as salas de aula se pareciam com aquelas do começo do século XX, temos agora a possibilidade de mudar para sempre a noção que temos arraigada de que o aprendizado deve acontecer entre os muros de uma escola ou universidade, ampliando as possibilidades de novas experiências de aprendizagem.
Embora saibamos que o impacto da pandemia será abrangente, o que isso significa a longo prazo para a educação e a forma como nos preparamos para ter uma vida produtiva?
Aprender habilidades para a vida (e não para uma profissão).
De acordo com um relatório da Dell Technologies, 85% dos trabalhos em 2030 que a Geração Z e Alpha irão ocupar ainda não foram inventados. Qual a melhor maneira de se preparar para um futuro tão incerto?
No livre Range: Why Generalists Triumph in a specialized World (sem tradução para o português), o autor David Epstein traz como visão alternativa a crença de que pessoas que desde muito cedo se dedicam exaustivamente a melhorar em um tema ou habilidade específica podem ter uma desvantagem em relação àquelas que pulverizam seus interesses, práticas e estudos entre vários campos e temas. Num mundo complexo e imprevisível, ele defende que a capacidade de transitar entre vários domínios, transferindo conhecimento de um para o outro, pode ser a melhor maneira de solucionar problemas com os quais nunca nos deparamos.
Generalistas podem ser a solução para um futuro incerto. A pandemia nos ensinou, em poucos meses, o real valor de habilidades como criatividade, comunicação, colaboração, resolução de problemas complexos e adaptabilidade ― todas estas já apontadas há alguns anos como fundamentais para profissionais do futuro, e que agora se mostram fundamentais para a sociedade do presente.
A pandemia também nos ensina o significado de vivermos globalmente interconectados. Não existem mais questões e ações isoladas. O vírus desconhece as fronteiras que vemos nos mapas. Profissionais do futuro precisam ser capazes de entender essa inter-relação e pensar de forma sistêmica, buscando antecipar o impacto de suas ações em múltiplos níveis e contextos.
Para que isso seja possível, as escolas e universidades precisam urgentemente mudar o eixo da aprendizagem baseada em conteúdo e resolução de provas, com punição para quem dá as respostas erradas, para realmente ajudar estudantes a pensar por conta própria, desenvolvendo a capacidade de resolver problemas complexos e dando incentivos para aqueles que erram ao tentar ― afinal, esta é a melhor maneira de aprender.
Quando o mundo todo se torna uma escola
A experiência de estudar online em tempos de quarentena e afastamento social é extremamente atípica e não deve ser entendida como uma base para o que pode ser o futuro da educação. Neste momento, trocamos o confinamento da sala de aula pelo confinamento das nossas casas, aprendendo com os mesmos professores e formatos de aula, só que intermediados por uma tela.
O importante é notar que, aos poucos, nos damos conta de que o aprendizado pode ocorrer fora dos muros da escola ou da universidade, e isto é um grande avanço. Acredito que passados os primeiros meses de adaptação, no qual reproduzimos o mesmo modelo de educação em um contexto extremo, veremos uma explosão de novas soluções que busquem proporcionar jornadas de aprendizagem mais interessantes e integradas com o dia a dia das pessoas.
Além disso, há alguns anos empresas vêm reconsiderando o peso do diploma formal nos processos seletivos e promoções internas, valorizando cada vez mais as habilidades que a pessoa é capaz de demonstrar. Isso coloca na mão de cada profissional a possibilidade de escolher sua forma de aprender, diante de uma miríade de opções para todos os gostos e bolsos. Quando o mundo todo pode se tornar uma escola, temos a possibilidade de ressignificar o espaço da sala de aula.
Diante de um presente distópico, precisamos criar futuros utópicos
O momento que estamos vivendo muitas vezes parece ter saído de um livro de ficção científica. É neste gênero que autores criam cenários extremos, no limite entre fantasia e realidade, e nos deslocam para situações e cenários possíveis, mas pouco prováveis. Algumas vezes, esse lugar imaginário é dominado por opressão e privação, tornando-se uma distopia.
O acaso ou o destino nos colocou neste momento como sujeitos desta distopia, e cabe a nós encontrar uma forma de sair dela. Acredito que é o melhor momento para sermos utópicos e sonharmos o mundo que queremos construir a partir de agora.
Quando se trata de educação, um futuro utópico seria aquele em que todas as pessoas conseguem aprender de acordo com seu ritmo, reconhecendo desde cedo seus talentos e aptidões, com oportunidade de experimentar vários campos do conhecimento.
Neste futuro, não existe barreira geográfica ou social que impeça as pessoas de aprender, também não existe limitação de infraestrutura - todos dispõem dos mesmos aparatos tecnológicos e da mesma capacidade de conexão com o mundo. Além de acessar conteúdos nos mais variados formatos, inclusive em realidades imersivas e aumentadas, elas podem acessar diretamente milhões de tutores particulares, que podem ajudá-las quando tiverem dúvidas.
Quando elas se deparam com um projeto interessante, podem trabalhar colaborativamente com pessoas do mundo todo, e cada projeto é um estímulo à pesquisa e à experimentação. A barreira do idioma não existe, já que a tradução simultânea acontece em tempo real, em todos os formatos. As pessoas formam comunidades de aprendizagem por interesses comuns, incentivando e desafiando uns aos outros continuamente.
Não é preciso escolher uma profissão específica, nem sequer uma universidade, porque as pessoas fluem de acordo com seu repertório e seus interesses, que mudam constantemente. Quando chegam aos 17 ou 18 anos, já participaram de dezenas de projetos, todos certificados pela blockchain. Nesse futuro, as empresas contratam pessoas avaliando a capacidade de aprendizado e resolução de problemas, ou seja, do que elas podem aprender e não do que elas sabem naquele momento.
Essa história pode continuar de muitas formas. Outras pessoas criarão outros futuros, e esta é a intenção e o convite desta coluna. Hoje sabemos que depois de grandes crises globais, tivemos grandes invenções. O isolamento social vai passar, mas não podemos desperdiçar a oportunidade de mudar a educação para sempre.

Argentina suspende avaliação com notas em todas as escolas do país...

Os representantes da educação nas províncias argentinas decidiram, em comum acordo, suspender a avaliação dos alunos por meio de notas nestes primeiros quatro meses do ano letivo no país. 
A medida valerá para todas as escolas, de todos os níveis, e foi motivada pelas limitações impostas pelo novo coronavírus. 
A ideia, segundo reportado pelo Clarín, é que os estudantes não sejam atribuídas notas ,nem numéricas, nem em qualquer outra escala que implique uma "prova" de seu aprendizado,aos estudantes até que eles voltem às aulas presenciais.

22.abr.2020 - Em meio às limitações impostas pelo novo coronavírus, adolescente assiste aula à distância em Nápoles, na Itália - Salvatore Laporta/KONTROLAB/LightRocket via Getty Images

Em vez disso, as escolas devem fazer o que o governo chama de "avaliação formativa", registrando as interações dos alunos com os professores e os progressos individuais durante as aulas à distância, bem como a eficiência dessa nova modalidade de ensino. 
O novo sistema, ainda de acordo com o Clarín, já foi acordado entre as 24 jurisdições educacionais das províncias argentinas. 
Na próxima sexta-feira (15), o Conselho Federal de Educação do país estabelecerá um marco para elevar a medida a nível nacional. 
O Ministério da Educação argentino também quer estabelecer uma unidade pedagógica entre a primeira e a terceira série, impedindo que crianças nesta fase repitam de ano.
Uma polêmica resolução de 2012 já determinava essa unidade pedagógica entre o primeiro e o segundo grau. 

Volta às aulas 

Quanto à volta às aulas, o governo disse estar observando as iniciativas de países europeus, além da evolução da curva de contágios na Argentina. 
Por ora, a ideia é que as aulas presenciais não sejam retomadas até agosto, depois das férias, e de forma escalonada ,com metade dos alunos indo em um dia e a outra metade, em outro. 
As aulas, então, serão "mistas", combinando o aprendizado em sala com o que é feito em casa. 
A ideia é que os estudantes tenham acesso a 100% do conteúdo que teriam em condições normais e, ao mesmo tempo, usem menos o transporte público. 
Para que nenhum tema essencial seja perdido neste ano letivo, o governo pretende redistribuir os conteúdos e as metas de aprendizado em 2020, 2021 e, se preciso, 2022. 
Por este motivo, os únicos alunos que deverão ir à escola todos os dias são aqueles dos últimos anos do ensino fundamental e médio. 
Há ainda a possibilidade de que esses estudantes tenham aula em fevereiro, março e abril, com apenas uma "pausa" em janeiro (mês que também poderia servir às viagens de formatura). 
Desta forma, quem concluir o ensino médio poderá entrar no ensino superior sem maiores problemas, já que as aulas nas universidades, em sua maioria, só começam em abril.

FONTE:https://educacao.uol.com.br/noticias/2020/05/11/argentina-suspende-avaliacao-com-notas-em-todas-as-escolas-do-pais.htm

segunda-feira, 11 de maio de 2020

O que o coronavírus pode ensinar a você, estudante

A lição está muito além de crescimento exponencial, conceito de pandemia e microbiologia...


Milhares de pessoas mortas  com famílias que nem puderam se despedir. Dezenas de milhares de internadas – muitas lutando para conseguir respirar. Milhões saindo às ruas por necessidade, mas com medo. E milhões que, presos em casa, podem se considerar privilegiados nesse triste cenário de pandemia.
Entre os confinados, milhões de estudantes, como você. Que, há mais de um mês, deixaram de ir para as salas de aula, de encontrar um professor, de bater papo no intervalo. Alguns continuam tendo aulas online. Outros são convidados a entrar numa plataforma ou a assistir a aulas pela TV.
Com mais ou menos estrutura, o que esses alunos vivem hoje é muito diferente da rotina certinha da escola. Você pode ver a aula enquanto mexe no celular, e dificilmente vai levar a mesma bronca. Pode deixar de cortar o cabelo (até porque não tem cabeleireiro mesmo), de passar desodorante (apesar dos protestos da família) e até de estar mesmo presente (ou só eu que vi o espertinho que se filmou para fingir presença na aula online?). Na prática, pode dar o velho “migué” de internet ruim enquanto continua vendo Netflix na tela paralela.
Mas é exatamente essa a grande oportunidade do coronavírus para você, estudante.
Você está em casa. Sem supervisão de adultos  que estão surtando com o próprio home office ou tendo que sair, como sempre, para pagar os boletos. E sem a tutoria da boa e velha escola. Você, nesta pandemia, é seu próprio mestre. A quarentena é o mais próximo da vida adulta que você vai chegar sem precisar esperar entrar em faculdade ou trabalho.
A pandemia, estudante, é a sua oportunidade de desenvolver sua disciplina e sua responsabilidade. Aquelas que usamos quando não tem ninguém vendo. Quando só um vírus invisível espera lá fora e o Enem pode até ser adiado. Aquela que vai te acompanhar pro resto da vida. Havendo outra pandemia ou não (esperamos que não!).
Se, no meio desta pandemia, você conseguir gerenciar bem seu tempo, sua concentração, sua motivação, seu bem-estar físico, é muito provável que já esteja preparado para dar mais passos rumo à autonomia. Se não está conseguindo, é hora de pensar como você tem encarado suas tarefas diárias. A gente faz o que tem que fazer não porque tem alguém olhando. Mas porque, no final, espera que tudo o que a gente faz contribua para a vida que queremos levar no futuro.
Se a Covid-19 tem nos ensinado sobre a curva de crescimento exponencial, a microbiologia do vírus e as pandemias que mudaram a história da humanidade, certamente tem muito mais a ensinar sobre como gerimos a nós mesmos diante da tensão em momentos de crise. E isso pode ser útil não só para o Enem, mas para a vida.

Na quarentena: como montar o cronograma ideal para estudar em casa?

Ter um dia a dia mais organizado vai diminuir as chances de você procrastinar e deixar os estudos de lado...



Existem muitas maneiras de você manter os estudos em dia na sua casa: aulas a distância, lives, cursos online, muita leitura e até as redes sociais se tornaram grandes aliadas nesse momento de quarentena. A questão é que mesmo que tenha todas essas ferramentas ao seu alcance, se você não estabelecer uma rotina eficiente e compatível com as suas limitações, a desmotivação pode tomar espaço, a preguiça pode aparecer e procrastinação irá ditar seu ritmo de estudos.
Para isso não acontecer com você, conversamos com Bárbara Souza, psicóloga do Serviço de Atendimento Psicológico do Curso Anglo, e Luiz Otávio, coordenador do Colégio Poliedro São Paulo, e separamos algumas dicas para criar o cronograma ideal para quem precisa estudar em casa.

Não se esqueça que, sim, você está na sua casa – e durante uma pandemia

A recomendação é sempre buscar ao máximo dar continuidade à sua rotina de estudos mesmo no período da quarentena. Mas o fato de você estar na sua casa faz muita diferença e é necessário se adaptar ao ambiente. 
O primeiro passo, segundo Bárbara, é entender como será o dia a dia em casa, quais as novas demandas domésticas e como a convivência familiar vai demandar seu tempo e atenção.
Organizar os horários e planejar as atividades a serem feitas – tanto as ligadas aos estudos como os afazeres domésticos – aumenta a produtividade e reduz o alto risco de perder o ritmo de estudos e aprendizado.
Algo fundamental é entender o contexto no qual você está inserido. Estamos em meio a uma pandemia, está tudo bem se estiver abalado com isso. Não se cobre tanto. “Não perca de vista que todos podem se sentir mais preocupados consigo, com familiares e parentes também devido às questões ligadas à covid-19 e o estado emocional pode interferir na manutenção dos estudos”, diz a psicóloga.

A rotina anterior ainda é estratégica

Apesar das adaptações ao ambiente doméstico, das demandas extras provenientes da dinâmica familiar, de mais barulhos e interrupções, existem muitos detalhes importantes da sua antiga rotina de aulas presenciais que farão toda a diferença a partir de agora. “A recomendação é criar uma rotina de horários determinados para tudo, como a que tem nas atividades presenciais. Horário para acordar, tomar café da manhã, assistir às aulas, realizar intervalos, almoçar, estudar e descansar”, diz Luiz.
Ou seja, o estudante que tem realizado aulas a distância precisa definir o horário para assistir às aulas gravadas, acessar os materiais de apoio e resolver os exercícios. Em caso de aulas ao vivo, o ideal é acompanhar em tempo real, o que permite interagir com os professores e tirar dúvidas. 
Nessa situação, o suporte dos pais e responsáveis é fundamental para orientar e estimular a autonomia e o senso de responsabilidade para que os jovens se comprometam com os estudos.

Pausas são necessárias

Estudar é um processo que demanda energia, concentração e atenção, o que provoca cansaço. As pausas possibilitam um pequeno descanso que favorece a manutenção dos estudos por mais tempo de maneira mais atenta e concentrada.
Durante o período que estiver assistindo aulas online, busque organizar intervalos semelhantes aos que você tem na escola entre as aulas. Isso é importante para que mantenha um bom aproveitamento e melhore a absorção dos conteúdos, segundo Luiz. “Já quando estiver estudando, fazer pequenas pausas de 10 a 20 minutos após 1h30 de estudos, é fundamental para manter o rendimento e melhorar a fixação do que está sendo estudado”, completa o coordenador. 
Como durante a quarentena você passará muito tempo olhando diretamente para as telas (computador, tablet e celular), pausar implica também distanciar-se dessas ferramentas para descansar a vista.

Disciplinas

A recomendação dos especialistas é que você organize os conteúdos estudados de acordo com as aulas que teria durante a semana nas aulas presenciais. Dessa forma, nenhuma matéria será deixada de lado. 
Uma sugestão de Bárbara é planejar seus estudos dentro do tempo disponível de maneira compatível com seu método de estudo, por exemplo: fazer primeiramente uma leitura, exercícios básicos e resumos para compreender os conteúdos selecionados para aquele dia. Depois retorne a cada um deles aprofundando com exercícios mais complexos e exigentes. “Dessa forma, você entra em contato com o assunto duas vezes no seu dia e aumenta a absorção do conteúdo”. 

Coronavírus no Brasil: como a pandemia prejudica a educação

Do ensino básico ao superior, a ampliação do Covid-19 traz consequências educacionais, entre elas, o reforço da desigualdade


No começo do mês, a Unesco, órgão da ONU para a educação e cultura, realizou a primeira contagem global da situação educacional impactada pelo novo coronavírus. No relatório, foram registrados quase 300 milhões de alunos afetados em 22 países de três continentes pelo fechamento de escolas devido à expansão do vírus. De lá para cá, os números cresceram e mais instituições de ensino ao redor do mundo suspenderam as aulas.
São Paulo, que tem o maior registro de casos e a maior rede pública de ensino do Brasil, por exemplo, vai fazer uma paralisação gradativa das aulas até 23 de março. Instituições de nível superior, particulares e públicas, em sua maioria, também suspenderam as aulas. É evidente que a pandemia tem afetado todos os setores, inclusive a educação. E, diante disso, nos perguntamos: quais são os impactos para os alunos, professores e todos envolvidos?
O professor e especialista em gestão pública Renato Casagrande diz que ainda é preciso estudar mais a dimensão do problema e o impacto depende do tempo, se vai ter um agravante do surto ou não. “Tivemos como experiência o surto da influenza H1N1, há 11 anos, que suspendemos as aulas e, depois, foi necessário prorrogar o período de suspensão”. Ele exemplifica qual seria um agravante na situação no caso do Covid-19: “O verão está acabando e temos outono e inverno pela frente, e o vírus se fortalece em períodos mais frios. Tememos uma piora no cenário atual”.
Com as suspensão das aulas, muito se fala do uso das tecnologias para ensino e aprendizagem como uma forma de reparação dos danos aos alunos. Aulas a distância e plataformas digitais são mais palpáveis quando se trata de ensino superior, já que muitas faculdades já usam diferentes mídias. “Na educação básica, o problema é um pouco maior, porque as escolas não estão preparadas e rapidamente devem encontrar uma forma de introduzir e se adaptar às novas tecnologias. Mas não é impossível”, ressalta Casagrande.
Além disso, na educação infantil e no ensino fundamental, do 1º ao 5º ano, é muito difícil as crianças trabalharem sozinhas, elas precisam de acompanhamento e tutoria. O ensino a distância da maneira que conhecemos não é possível.
Fora da escola, mais um problema: para medidas tecnológicas serem efetivas todos os alunos precisam do acesso à internet. Infelizmente, essa não é a realidade brasileira. Segundo a Pesquisa TIC Domicílio, realizada em 2018, mais de 30% das casas não têm nem sequer acesso à internet, em geral as mais pobres. 
“Essa questão vai acentuar a diferença de classes. A rede privada vai encontrar algumas soluções que demandam recursos financeiros, o que, para a escola pública, é muito mais difícil. Assim, os alunos do sistema público devem sentir mais os impactos”, conclui o professor.

Conselho Nacional de Educação esclarece principais dúvidas sobre o ensino no país durante pandemia do coronavírus

1) As escolas das redes pública e privada de educação básica podem continuar com aulas e atividades a distância? Quem autoriza?
Sim. A legislação brasileira [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional] admite que os sistemas de ensino estaduais e municipais, coordenados pelas secretarias de Educação e pelos conselhos estaduais e municipais de Educação, podem, em situações emergenciais, autorizar a realização de atividades a distância nos seguintes níveis e modalidades:
I - ensino fundamental;
II - ensino médio;
III - educação profissional técnica de nível médio;
IV - educação de jovens e adultos;
V - educação especial.
2) Mas, a LDB não diz que o ensino fundamental será presencial?
Diz, mas também dispõe no artigo 32 § 4º que o ensino a distância pode ser utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais na educação fundamental. Já o § 11 do art. 36 da Lei nº 9.394, de 1996, alcança o ensino médio.
Por outro lado, o Art. 8º do Decreto 9.057, de 2017, regulamenta a LDB e autoriza a realização de atividades a distância no ensino fundamental, médio, na educação profissional, de jovens e adultos e especial, desde que autorizada pelas autoridades educacionais dos estados e municípios
3) As atividades a distância podem ser aproveitadas no ano letivo?
Sim. Essas atividades não presenciais podem ser organizadas oficialmente e validadas como conteúdo acadêmico aplicado. Ou seja, podem ser aproveitadas dentro das horas de efetivo trabalho escolar. Para isso, é preciso uma autorização da autoridade educacional do estado ou do município. Para adotar essa modalidade, as redes de ensino ou escolas precisam adequar metodologia de ensino aos recursos tecnológicos necessários.
Todos devem prestar atenção na qualidade dessas aulas ou atividades. Os estudantes devem receber o aprendizado adequado e correto. As escolas devem zelar pelo acompanhamento, avaliações e a participação correta dos alunos.
Ao autorizar que as aulas e atividades continuem de forma não presencial, as autoridades dos estados e municípios e as instituições particulares devem trabalhar para proporcionar o acesso de todos os estudantes ao aprendizado. Assim como a educação a distância necessita de metodologias próprias, as escolas devem adotar mecanismos próprios de fornecimento do conteúdo e acompanhamento avaliativo e da participação efetiva dos estudantes.
4) O que acontece quando a escola ou rede de ensino não puder ministrar aulas a distância?
Nesses casos, atividades escolares devem ser repostas, seja em relação aos conteúdos, seja em relação aos dias letivos.
5) Como deve ser feita a reposição? E se as aulas forem suspensas até o segundo semestre? O calendário escolar pode ser reorganizado?
É necessário entender que as decisões devem ser feitas âmbito de estados e municípios, responsáveis por indicar como será feita a reposição de conteúdos e atividades, em horas de efetivo trabalho escolar, e dias letivos.
Existe também a Lei 13.415, de 2017, conhecida como Lei do Ensino Médio, que altera a LDB e amplia progressivamente as horas de efetivo trabalho escolar só para o ensino médio. Ela poderá ser flexível a cada estado ou município, ou seja, pode haver formas diversas de se atender a legislação nacional que deve estar articulada com as legislações locais.
É preciso sempre esclarecer que, no processo de reorganização do calendário escolar, o ano letivo pode, em situações determinadas e para efeito de reposição de aulas e atividades, não coincidir com o ano civil. No processo de reorganização dos calendários escolares, é fundamental que a reposição de aulas e a realização de atividades escolares possam ser efetivadas preservando a qualidade de ensino.
6) Algumas instituições de ensino superior aderiram à educação a distância e outras ainda não aderiram. Todas podem substituir suas atividades presenciais por educação a distância?
Sim. O Ministério da Educação, em caráter excepcional, pelas portarias 343 e 345, de 17 e 19 de março deste ano, autorizou que instituições de educação superior públicas e privadas substituam disciplinas presenciais por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação em cursos que estão em andamento.
A mudança é válida para o sistema federal de ensino, composto pelas universidades federais, pelos institutos federais, pelo Colégio Pedro II, pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), pelo Instituto Benjamin Constant (IBC) e pelas universidades e faculdades privadas.
A nova recomendação também abrange os cursos de medicina, que poderão realizar a substituição de disciplinas presenciais teóricas-cognitivas do primeiro ao quarto ano do curso por aulas não presenciais que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação.
7) As instituições de educação superior podem adotar imediatamente essa nova regra de ensino a distância?
Sim. É importante destacar que as portarias citadas estabelecem que as instituições precisam definir suas metodologias e infraestrutura de tecnologia de comunicação e informação para a oferta do aprendizado online. A qualidade tem que ser garantida aos estudantes. As instituições deverão relatar ao MEC em até 15 dias as disciplinas ofertadas a distância e as tecnologias e metodologias utilizadas.
8) Instituições estaduais podem realizar a educação a distância?
As escolas estaduais podem oferecer aulas no ambiente virtual porque a possibilidade está prevista em alguns instrumentos legais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
9) E as instituições que decidirem não adotar a modalidade a distância?
Essas instituições devem reorganizar seus calendários acadêmicos considerando a legislação vigente de dias letivos e efetivo trabalho acadêmico, da mesma forma que é exigido para os outros níveis de formação.
10) Como será o futuro próximo da educação brasileira?
A educação brasileira é robusta. As instituições públicas e privadas de todos os níveis educacionais vêm demonstrando responsabilidade e compromisso na adoção de medidas que respaldem o direito de seus estudantes ao aprendizado continuado. Isso é muito importante para o Brasil.
O Ministério da Educação está em dinâmica colaboração e cooperação com as instituições. Entendemos que as soluções devem ser dinâmicas também. Estamos em franco e continuado diálogo para verificar como poderemos continuar a colaborar e atuar de modo a garantir que o Brasil, no que depender da educação, não pare nesse período.