terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Autora do Diário de Classe sofre ameaça antes da volta às aulas

Pela internet, usuária desconhecida diz que "vai mandar matar" Isadora Faber, estudante de 13 anos que ficou conhecida por relatar problemas de escola em Florianópolis

A estudante Isadora Faber , de 13 anos, que se tornou uma celebridade na internet em 2012 após criar a página Diário de Classe , relatando problemas de sua escola em Florianópolis, Santa Catarina, foi ameaçada de morte no fim de semana anterior ao retorno às aulas este ano.


Reprodução
Ameaça a Isadora Faber foi postada 
no Facebook
Uma usuária do Facebook identificada como Bruna Meneises Silva, que já apagou o perfil na rede social, escreveu um texto em que diz “ela já tá com os dias contados”, “eu vou mandar matar”, “vou meter uma bala bem na testa de suas mães e dos seus pais”. A ameaça era direcionada a Isadora e a outro estudante, chamado Lucas Alves, que apoia a criadora do Diário de Classe. Isadora Faber diz desconhecer a autora das ameaças.
Após o incidente, ela relatou em sua comunidade que ficou assustada e lembrou que no ano passado já foi ameaçada : “Minhas aulas começam amanhã, mas as ameaças já começaram. Olhem só o absurdo que foi publicado no Diário sábado. O que estou fazendo para ser ameaçada de morte? Por que quem apoia também é ameaçado? Se isso é brincadeira, é de muito mau gosto. Com essa onda de terror que Florianópolis vive atualmente, é bem assustador. Por que é tão difícil exercer a cidadania? Por que tentam calar quem busca seus direitos? Ano passado minha casa foi apedrejada e minha vó acabou ferida. Agora isso? Quem faz ameaças assim, só pode ser um covarde acomodado que se contenta com as migalhas que são dadas. Deve achar normal a corrupção, os atentados, a violência. Já denunciei e irei à polícia também, ameaças desse tipo tem que ser investigadas. Tenho certeza que as autoridades tem como chegar no IP do responsável.
Os pais de Isadora, conforme anunciado pela estudante pela internet, registraram queixa da ameaça na 9ª Delegacia de Polícia de Florianópolis.
Os pais de Isadora, conforme anunciado pela estudante pela internet, registraram queixa da ameaça na 9ª Delegacia de Polícia de Florianópolis.
A página de Isadora Faber, criada em 11 de julho de 2012, já 564 mil apoiadores nesta segunda-feira (18). Ao longo deste período, a aluna conseguiu promover mudanças na Escola Básica Municipal Maria Tomazia Coelho , da Praia do Santinho, mas também enfrentou várias adversidades. Alguns colegas e professores ficaram contra ela e chegou a sofrer ameaças concretas. A filha do pintor do colégio, que segundo Isadora teria recebido para fazer um serviço que não foi feito, a xingou verbalmente. Posteriormente, ela teve a casa apedrejada, e sua avó, de 65 anos, que sofre de doença degenerativa, foi atingida.
 
Isadora Faber, de 13 anos, ficou famosa após
criar página em que mostra problemas de sua escola.
 FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-02-18/autora-do-diario-de-classe-sofre-ameaca-antes-da-volta-as-aulas.html

 

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Professora pela 1ª vez: "Quero que todos os alunos escrevam bem"

Na volta às aulas, iG traz depoimentos de quem começa esse ano em uma determinada realidade na sala de aula. Nesta quarta, ex-repórter conta como foi se tornar docente.
A repórter Isis Brum, 34 anos, abandonou a vida de jornalista para se tornar professora. Após 10 anos escrevendo sobre a educação em jornais, ela entrou em uma sala de aula como docente pela primeira vez nesta quarta-feira, em Porto Ferreira, interior de São Paulo. Dará aulas de redação a uma turma de 1º ano do ensino médio.

iG: Foi o que você esperava?
Isis: Não fiz grandes planos, preparei uma aula de apresentações: do curso, minha e deles. Eles estavam tímidos como eu já imaginava para os primeiros dias. Estava bastante ansiosa. É um sonho cultivado há muito tempo.
 
iG: Você cobria educação e sabe da realidade dos alunos, principalmente de ensino médio, tinha isso em mente? Isis: A gente sempre vê os números do ensino médio como sendo bastante ruins, eu tinha na cabeça esses números. Mas nem pensei nisso. Fui pra lá esperando compartilhar o amor que tenho pela escrita. Seis alunos disseram que gostavam de escrever, eu acredito que alguns devam escrever bem e outros nem tanto. Eu gostaria de chegar no final do ano e levar todos a escrever bem à sua maneira. Eu me preparei para isso e não vou aceitar menos.

Leia abaixo depoimento escrito por ela após o primeiro dia de aula:

De repórter de Educação à educadora

Dormi jornalista e acordei professora. Não houve mágicas durante o sono – há alguns dias prejudicado pela ansiedade – tampouco acordei incorporada pelo espírito do Paulo Freire e nem mesmo com a veia de repórter cortada e exortada de mim. Hoje, pela primeira vez, despertei para uma nova realidade, isto é, para uma nova forma de lidar com a educação. Ao invés de cobrir o tema e escrever a respeito, iniciei efetivamente a jornada para dentro do processo de ensino e aprendizagem. Sou professora de Redação no 1º ano do Ensino Médio do Colégio John Kennedy de Porto Ferreira, interior de São Paulo.
 
Isis deixou jornalismo para se tornar professora
Sempre trabalhei em jornal impresso e, não para menos, vislumbrei um novo futuro na área escolar de produção de textos. Assim, durante dez anos, não dormia sem antes repassar mentalmente, e à exaustão, toda a apuração do dia e a matéria entregue; não dormia sem antes checar os compromissos do dia seguinte, a possibilidade de levar um furo, em como dar um furo e conseguir personagens para uma pauta quase fechada.
Meu vocabulário era composto pelos nomes de ministro e secretário de Educação e por suas diretrizes em políticas públicas para o ensino, pelas novas tecnologias utilizadas pelas escolas particulares da capital para aperfeiçoar as aulas ministradas, pelas dificuldades e transtornos enfrentados pelos vestibulandos durante as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), pelos novos cursos das universidades públicas, validade e reconhecimento de diplomas de graduação e pós-graduação e até pela formação do profissional da Educação Infantil e brincadeiras educativas para estimular o gosto pelo aprendizado nos pequenos.
Agora, trago comigo nomes como Thaís, Mateus, Manoela, Lorenzo, Miguel, Débora, Amanda, Maria Clara, Gabriel, Joana e João Gabriel. Tenho mais seis alunos. Um faltou, outro não colocou o nome no texto que pedi para ser entregue hoje e os demais deverão entregar a redação na próxima aula, depois de amanhã. Eles têm cerca de 15 anos e estão no 1º ano do Ensino Médio. Esta também é a primeira turma dessa etapa no Colégio John Kennedy de Porto Ferreira.
Minha atenção está voltada para eles, em como preparar uma aula instigante e desafiadora, que tenha significado e se transforme em aprendizado a cada novo encontro. Não é mais o meu texto que importa e sim o deles. Educação ganhou a cor de 17 rostos com os quais me comprometi antes de conhecê-los. Durante a aula, olhava para eles como quem tem diante si a possibilidade de um futuro promissor porque a juventude inspira a esperança.
Portanto, também hoje, dei-me conta de que entre os novos desafios não está mais o cumprimento de um prazo ou do dead line. Dessa nova perspectiva, a Educação é um processo de construção contínuo e jamais acabado: para eles e para mim. O professor, penso eu, é para sempre um discípulo, pois a alegria e o prazer de aprender e de conhecer não se esgotam (ou, pelo menos, não deveriam esgotar-se) entre aqueles que se dedicam a ensinar.
Faz pouco mais de um ano que sonho com este dia. Comprei muitos livros para me preparar, faço parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) do Laboratório de Psicologia Genética da Unicamp e fiz dois semestres do curso de especialização latu sensu em “Neuropedagogia e Psicanálise no Contexto Educacional” na Unicep, em São Carlos. O objetivo sempre foi o de estar preparada para o “grande dia” e qualificada para dar atendimento de excelência aos estudantes.
Mas, como escreveu o Paulo Freire, nenhum professor nasce com dia e hora marcados. “A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática”. E nisso há muita semelhança com o Jornalismo. Fazemo-nos repórteres no cotidiano das redações e no convívio com nossos colegas mais experimentados.
Nesta nova empreitada, não é diferente, mas o acaso torna a experiência ainda mais interessante. Minha parceira de trabalho, Alessandra Malinverni, foi minha professora de Redação no segundo e terceiro anos do Ensino Médio, respectivamente, em 1995 e 1996. E sempre gostei do trabalho dela. Nunca tive grandes dificuldades com a escrita, mas as aulas da Alê, sempre regadas à boa música – ela toca e canta muito bem – foram imprescindíveis para adequar a escrita aos padrões dos vestibulares e educar o pensamento com foco e objetivo nos temas propostos. E é emocionante dar esse primeiro passo com o apoio de uma educadora que eu pessoalmente admiro desde quando era sua aluna.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-02-06/professora-pela-1-vez-quero-que-todos-os-alunos-escrevam-bem.html
 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Salários baixos provocam fuga de professores da carreira

Piso salarial de R$ 1,4 mil está longe da remuneração de outras profissões, que muitas vezes exigem menos qualificação e dedicação.
Rita de Cássia Hipólito desistiu da carreira de projetista para fazer um mestrado e, por acaso, se tornar uma professora. Ensinar era a atividade mais compatível com a jornada de estudos. Apaixonou-se pela profissão e há sete anos trabalha na rede municipal de São Paulo dando aulas de história. A carreira, já tão desvalorizada, está prestes a perder mais uma profissional.

Sonho mantido: Eles querem ser professores
A paulistana de 37 anos, assim como tantos outros colegas, não vê valorização em seu esforço de se capacitar e dar boas aulas. Os alunos – e o carinho que demonstram por ela – são a única razão que a mantém na ativa até agora. Mas o salário, de aproximadamente R$ 2,8 mil por 40 horas de trabalho semanais, a obriga a reavaliar a profissão neste momento. “Eu não tenho reconhecimento de ninguém. Continuo pelo meu aluno, não por mim”, admite.

Rita de Cássia se tornou professora por acaso e se
apaixonou pela profissão. Ela confessa, no entanto,
que é difícil seguir atuando na área
 
Meses atrás, Rita adoeceu. O terapeuta recomendava abandonar a profissão. “Eu chorava, porque não conseguia me imaginar longe da escola. Mas, aí, me vejo sendo tão maltratada como profissional, penso em largar”, admite. A professora, que fez bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais e mestrado em sociologia na Universidade de São Paulo, diz que sempre teve dois empregos para conseguir se manter. “Mas quando vi meu primeiro holerite me assustei. Eu ganhava mais dando aula particular”, conta.
A história de Rita, infelizmente, não é isolada. No Dia do Professor, comemorado nesta segunda-feira, muitos profissionais em todo o País lamentam – em vez de celebrar – a escolha de carreira que fizeram. O iG ouviu alguns professores de formação que, mesmo apaixonados pelo trabalho que desenvolviam, desistiram de tentar sobreviver com o salário da função, baixo diante de outras profissões, e mudaram de atividade.

Salários desproporcionais
Manoel, Rosângela e Joelma sentem saudades da sala de aula e dizem que, se as condições de trabalho fossem melhores e a remuneração mais alta, teriam continuado na profissão. É fácil compreender as razões deles. Para ser um professor, por lei, é preciso ser formado em Pedagogia ou em alguma licenciatura, cujo curso dura pelo menos três anos. Há muitos outros cargos que, com a mesma titulação, oferecem salários mais atraentes.
Manoel é servidor público no Senado Federal. Lá, um analista (cargo que exige apenas a graduação) inicia a carreira ganhando R$ 18 mil. Mais de 10 vezes o piso salarial do professor, que hoje é de R$ 1,4 mil e não é pago por muitos redes estaduais e municipais. No Judiciário, onde trabalham Rosângela e Joelma, um técnico (nível médio) e um analista (graduado) ganham, em média, 3,5 mil e R$ 6 mil, respectivamente, no início da carreira.
As diferenças salariais estão também em carreiras mais próximas à realidade do professor. O salário básico de um biólogo ou de um químico, por exemplo, é de seis salários mínimos, um total de R$ 3,7 mil. Há muitos professores dessas áreas que cursaram não só a licenciatura, que habilita a dar aulas, mas também o bacharelado e poderiam atuar como biólogos e químicos.
Para tentar mudar esse cenário, o Plano Nacional de Educação (PNE), que define as metas educacionais para o País nesta década, previu a valorização dos profissionais da área, equiparando os salários. A redação da meta 17, que trata desse tema, diz que o “rendimento médio” dos docentes será equiparado aos “dos demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do sexto ano da vigência deste PNE (2016)”. Mas o projeto não define quais profissões seriam comparadas à do professor. E ainda não foi implementado.

Em busca de ascensão social
Ensinar foi a primeira atividade que chamou a atenção, e despertou o interesse, de Manoel Morais, 36 anos. O cearense, aos 10 anos, dava aulas de reforço para os colegas em dificuldade. Estudioso, achava fácil explicar o que sabia aos colegas. Estudante de química industrial na escola técnica de Fortaleza, Manoel não pensava em se tornar um professor até ser convidado, aos 17 anos, a dar aulas em cursinhos pré-vestibulares.
A vocação lhe parecia natural, mas Manoel queria fugir da profissão tão criticada pelos seus professores da rede pública, onde estudou a vida toda. Apesar das aulas no cursinho, fez vestibular para Engenharia Química. No meio do caminho, decidiu fazer licenciatura em Química e se tornar mesmo professor. “Comecei a estudar neurociências para entender como o cérebro aprende e poder ajudar meus alunos melhor”, conta.
Em 2004, no entanto, as ilusões de Manoel com a carreira acabaram. Ele começou a fazer concursos públicos para mudar de área de atuação. Em 2005, chegou a Brasília, após ter sido aprovado no concurso do Ministério Público da União. “Mudei em busca de ascensão social mesmo. O cargo de juiz exige apenas o bacharelado em Direito. Para dar aula em uma faculdade é preciso, no mínimo, um mestrado. E quem ganha mais? Não quis seguir na carreira que eu amo por conta da condição financeira mesmo”, admite.
Hoje, Manoel está prestes a concluir o curso de Direito e pensa em novos concursos. “Por causa da questão financeira, há uma fuga de cérebros do magistério. Teria ficado na escola se tivesse a oportunidade de ganhar a mesma coisa”, desabafa. Para diminuir as saudades da sala de aula, hoje Manoel ensina outras pessoas a estudar. Dá treinamentos aos sábados sobre técnicas de estudo e oratória.

Manoel desistiu de ser professor por causa do salário. Hoje,
servidor do Senado, dá cursos sobre técnicas de estudo para
matar as saudades
 
Longe do sacerdócio
Como muitas mulheres de sua idade, Joelma de Sousa, 46 anos, fez o curso normal durante o antigo 2º grau. Antes mesmo de terminar o preparatório para o magistério, Joelma passou em um concurso da Fundação Educacional de Brasília. “Era o caminho mais rápido para o trabalho. Passei cinco anos dando aulas de alfabetização para crianças e adultos. Adorava meu trabalho. Eu via o começo e o fim dele. Um dos mais gratificantes”, analisa.
Como precisava ajudar a família a se manter, Joelma desistiu do curso de pedagogia. Estudou para um concurso e se tornou técnica judiciária. “A questão salarial foi a única razão para ter mudado de profissão. Fiquei muito triste quando sai”, relembra. Ela diz que, na época, o salário de técnica já era três ou quatro vezes maior que o de professora. Já trabalhando no tribunal, Joelma fez Letras-Tradução em Francês, depois cursou Direito.
“Se minha filha quiser ser professora, vou achar sensacional. A minha família não tinha condições de me apoiar nessa decisão à época, mas espero que eu possa. Ser professor não é um sacerdócio, todos precisam de dinheiro para viver. Se quisermos bons profissionais, teremos de pagar bem”, pondera.

Sonho interrompido
Rosângela Pinto Ramos, 51 anos, escolheu ser uma professora ainda criança. Filha de professora, ela admirava a mãe. Percebeu que tinha escolhido a carreira certa logo que terminou o curso de magistério. Começou a dar aulas e se apaixonou pelo ambiente escolar, o trabalho com os alunos. Fez o curso de pedagogia e sonhava em abrir seu próprio colégio.
Mas as diferenças salariais – e a oportunidade de atuar na própria área ganhando mais – a fizeram desistir. Rosângela começou a trabalhar no Judiciário quando os pedagogos ainda eram requisitados para atuar nas Varas de Infância e para trabalhar com jovens infratores.
“Mesmo assim eu continuei dando aulas, por prazer mesmo. Até que a correria me fez desistir das aulas”, conta. A servidora, que já não atua mais com sua área no tribunal em que trabalha, conta que sente saudades da sala de aula até hoje.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-10-15/salarios-baixos-provocam-fuga-de-professores-da-carreira.html

Pesquisador afirma que estrutura das escolas adoece professores

Para historiador da USP, sociedade critica todos os aspectos do cotidiano escolar, mas se esforça para mantê-los da mesma forma. Ele propõe discutir o “rompimento” das estruturas

“O ambiente escolar me dá fobia, taquicardia, ânsia de vômito. Até os enfeites das paredes me dão nervoso. E eu era a pessoa que mais gostava de enfeitar a escola. Cheguei a um ponto que não conseguia ajudar nem a minha filha ou ficar sozinha com ela. Eu não conseguia me sentir responsável por nenhuma criança. E eu sempre tive muita paciência, mas me esgotei.”

Sem infraestrutura: Em 72,5% das escolas da rede pública não há biblioteca

Alan Sampaio / iG Brasília
Estrutura escolar adoece professores e leva a abandono da profissão

O relato é da professora Luciana Damasceno Gonçalves, de 39 anos. Pedagoga, especialista em psicopedagogia há 15 anos, Luciana é um exemplo entre milhares de professores que, todos os dias e há anos, se afastam das salas de aula e desistem da profissão por terem adoecido em suas rotinas.
Para o pesquisador Danilo Ferreira de Camargo, o adoecimento desses profissionais mostra o quanto o cotidiano de professores e alunos nos colégios é “insuportável”. “Eles revelam, mesmo que de forma oblíqua e trágica, o contraste entre as abstrações de nossas utopias pedagógicas e a prática muitas vezes intolerável do cotidiano escolar”, afirma.
O tema foi estudado pelo historiador por quatro anos, durante mestrado na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Na dissertação O abolicionismo escolar: reflexões a partir do adoecimento e da deserção dos professores , Camargo analisou mais de 60 trabalhos acadêmicos que tratavam do adoecimento de professores.
Camargo percebeu que a “epidemia” de doenças ocupacionais dos docentes foi estudada sempre sob o ponto de vista médico. “Tentei mapear o problema do adoecimento e da deserção dos professores não pela via da vitimização, mas pela forma como esses problemas estão ligados à forma naturalizada e invariável da forma escolar na modernidade”, diz.

Desistência: Salários baixos provocam fuga de professores da carreira
 
Luciana começou a adoecer em 2007 e está há dois anos afastada. Espera não ser colocada de volta em um colégio. “Tenho um laudo dizendo que eu não conseguiria mais trabalhar em escola. Eu não sei o que vão fazer comigo. Mas, como essa não é uma doença visível, sou discriminada”, conta. A professora critica a falta de apoio para os docentes nas escolas.
“Me sentia remando contra a maré. Eu gostava do que fazia, era boa profissional, mas não conseguia mudar o que estava errado. A escola ficou ultrapassada, não atrai os alunos. Eles só estão lá por obrigação e os pais delegam todas as responsabilidades de educar os filhos à escola. Tudo isso me angustiava muito”, diz.

Viver sem escola: é possível?
 
Orientado pelo professor Julio Roberto Groppa Aquino, com base nas análises de Michel Foucault sobre as instituições disciplinares e os jogos de poder e resistência, Camargo questiona a existência das escolas como instituição inabalável. A discussão proposta por ele trata de um novo olhar sobre a educação, um conceito chamado abolicionismo escolar.
“Criticamos quase tudo na escola (alunos, professores, conteúdos, gestores, políticos) e, ao mesmo tempo, desejamos mais escolas, mais professores, mais alunos, mais conteúdos e disciplinas. Nenhuma reforma modificou a rotina do cotidiano escolar: todos os dias, uma legião de crianças é confinada por algumas (ou muitas) horas em salas de aula sob a supervisão de um professor para que possam ocupar o tempo e aprender alguma coisa, pouco importa a variação moral dos conteúdos e das estratégias didático-metodológicas de ensino”, pondera.

Fora da sala de aula: Metade dos professores não leem em tempo livre
 
Ele ressalta que essa “não é mais uma agenda política para trazer salvação definitiva” aos problemas escolares. É uma crítica às inúmeras tentativas de reformular a escola, mantendo-a da mesma forma. “A minha questão é outra: será possível não mais tentar resolver os problemas da escola, mas compreender a existência da escola como um grave problema político?”, provoca.
Na opinião do pesquisador, “as mazelas da escola são rentáveis e parecem se proliferar na mesma medida em que proliferam diagnósticos e prognósticos para uma possível cura”.

Problemas partilhados
 
Suzimeri Almeida da Silva, 44 anos, se tornou professora de Ciências e Biologia em 1990. Em 2011, no entanto, chegou ao seu limite. Hoje, conseguiu ser realocada em um laboratório de ciências. “Se eu for obrigada a voltar para uma sala de aula, não vou dar conta. Não tenho mais estrutura psiquiátrica para isso”, conta a carioca.
Ela concorda que a estrutura escolar adoece os profissionais. Além das doenças físicas – ela desenvolveu rinite alérgica por causa do giz e inúmeros calos nas cordas vocais –, Suzimeri diz que o ambiente provoca doenças psicológicas. Ela, que cuida de uma depressão, também reclama da falta de apoio das famílias e dos gestores aos professores.
“O professor é culpado de tudo, não é valorizado. Muitas crianças chegam cheias de problemas emocionais, sociais. Você vê tudo errado, quer ajudar, mas não consegue. Eu pensava: eu não sou psicóloga, não sou assistente social. O que eu estou fazendo aqui?”, lamenta.


 FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-02-06/pesquisador-afirma-que-estrutura-das-escolas-adoece-professores.html