sexta-feira, 27 de março de 2015

Na escola em tempo integral, alunos e professores veem o período da manhã como trabalho e o da tarde como brincadeira


Pesquisa revela a preferência das crianças pelas atividades lúdicas, que normalmente são deixadas de lado na sala de aula



As crianças possuem, desde pequenas, uma percepção clara sobre as dicotomias e contradições existentes no ambiente escolar. Evidência disso são os resultados da pesquisa de mestrado da professora de educação física Nair Correa Salgado, defendido no programa de pós-graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente.
De março a novembro de 2011, Nair investigou as percepções de 21 crianças de 1º ano do ensino fundamental em uma escola municipal de Presidente Prudente sobre o ambiente escolar. Na época, as crianças estudavam numa escola que participa do Programa de Educação Integrada Cidadescola que, como o nome sugere, é a estratégia de educação integral local.
A pesquisa ganhou, então, um duplo contorno - compreender o programa Cidadescola no âmbito das políticas de ampliação do ensino fundamental e da implantação da escola de tempo integral no município e, ao mesmo tempo, investigar os pontos de vista das crianças sobre as atividades desenvolvidas nesse contexto, especialmente em relação ao tema da ludicidade.

Mudança de rumo
"Quando eu entrei no mestrado em 2009, tinha a intenção de analisar a prática de uma professora de 1º ano. Mas ocorreu a mudança para o ensino fundamental de nove anos e, aqui em Prudente, houve a implantação do Cidadescola", relembra Nair. Essa combinação de fatores a levou a redirecionar o foco de sua pesquisa para a percepção das crianças sobre sua escola. "Diante disso, o projeto de mestrado mudou. Passou a ser a visão das crianças com relação às mudanças."
A coleta de dados ocorreu entre março e novembro de 2011. Para realizar a investigação, Nair usou a etnografia, a observação participante e entrevistas com professores, além de metodologias destinadas a colocar as crianças na posição de sujeitos de pesquisa por meio de canais de expressão próprios: fotografias, desenhos e entrevistas coletivas.
Foram selecionados para a pesquisa alunos que cursavam o 1º ano regular no período da manhã e, de tarde, participavam de três oficinas do Cidadescola, ofertadas pela própria Nair - além de pesquisadora, ela atua como professora da rede municipal.

A criança como sujeito
Para tanto, Nair fundamentou a pesquisa em especialistas em sociologia da infância, como William Corsaro e o português Manuel Sarmento, além de autores como Elizabeth Graue e Daniel Walsh, que se aprofundam nas reflexões sobre a infância e no desenvolvimento de metodologias que colocam as crianças como sujeitos de pesquisa.
Além disso, Nair entrevistou professores que atuam tanto em sala de aula durante o período regular, quanto nas oficinas do Cidadescola. Dessa forma, ela pôde analisar e confrontar distintas perspectivas e pontos de vista.
Na pesquisa as crianças foram orientadas por Nair a fotografar situações e elementos no ambiente escolar que julgassem ser interessantes. A cada dia, uma criança era sorteada para fotografar.
Com as fotos feitas pelos alunos em mãos, Nair selecionava aquelas que considerava mais interessantes e pedia para as crianças fazerem o mesmo. Ao fazer a seleção, a pesquisadora constatou um aspecto fundamental para sua investigação: a diferença de pontos de vista e de visões entre adultos e crianças.
"Elas tiravam fotos dos coelhos da escola e das mochilas. Fiquei intrigada com aquilo, eram bolsas e mais bolsas", relata. "Eu perguntei para uma menina: por que você está tirando foto da bolsa? Ela respondeu: mas eu não estou tirando foto da bolsa, eu estou tirando foto da Tinker Bell, do Batman, do Homem Aranha", conta a pesquisadora.
Com isso, Nair percebeu que as crianças estavam fotografando os personagens de que gostavam e que tinham significado para eles, não as mochilas. "O que já mostra como crianças e adultos veem as coisas de maneira totalmente diferente."
Além disso, a seleção das fotos mais significativas da pesquisadora raramente coincidia com a das crianças. E quando coincidiam, os motivos eram diferentes. "As crianças diziam: ah, escolhi porque estou com o meu amigo; enquanto eu escolhia porque eles estavam fazendo uma atividade legal, interessante. Eles não estavam nem aí com a atividade, eles estavam desfrutando da relação com seus pares."
Essa percepção foi importante para Nair aprofundar as análises sobre a questão norteadora da pesquisa: a ludicidade na escola.
"A pesquisa mostrou que muitas crianças compreendem a oposição entre jogo e trabalho", aponta Nair. Para elas, trabalhar é "chato" e brincar, "legal", levando-as a estabelecer uma divisão entre o horário de aula regular e as oficinas e demais atividades de contraturno.

A atração do lúdico
Segundo Nair, as crianças fizeram afirmações como "a escola está mais divertida porque há mais momentos de brincadeira" ou que "não gostavam de nada no horário da sala". "Tais depoimentos demonstram a preferência das crianças pelas atividades lúdicas, tanto na sala de aula, quanto nas oficinas do programa Cidadescola."
Paralelamente, a rotina da sala de aula é descrita como cansativa pelas crianças e as atividades nesse espaço parecem não ser tão atrativas quanto as que fazem fora dela. Quando perguntadas sobre as atividades preferidas nas aulas regulares, a maioria disse ser a hora do brinquedo ou a educação física.
Para Nair, essa visão aponta para a percepção de uma divisão dentro da escola - apesar de ela participar de um programa de educação integral. Assim, para as crianças existe a "escola chata", do período regular de aulas, e a "escola legal", das oficinas e das brincadeiras. "É como se existissem duas escolas numa mesma unidade escolar", conclui.

Ouvindo o professor
Os docentes entrevistados para a pesquisa de Nair percebem a existência dessa mesma divisão, admitindo que na sala de aula estão preocupados em cumprir o currículo e o planejamento. Suas declarações à pesquisadora traduzem essa visão: "Essa história de lúdico fica realmente de lado na sala de aula", ou "Eu reconheço que sou lúdica no Cidadescola e que não sou lúdica na sala de aula", disseram eles durante as entrevistas realizadas pela pesquisadora Nair.
Segundo os professores, essa divisão na educação integral ocorre porque, na sala de aula, há uma série de compromissos e metas, especialmente aquelas estabelecidas por meio de indicadores - como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) - e avaliações externas, como o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) e a Prova Brasil, o que não ocorre nas atividades extraclasses.
"O primeiro item que apareceu nas entrevistas com os professores foi a pressão do Ideb. Eles relataram que nas aulas regulares têm de preparar esse aluno para ler, escrever, produzir textos e que, por isso, o lúdico fica de lado. Uma das professoras chegou a dizer que, se não tivesse a educação física, talvez os alunos não tivessem nenhum momento lúdico no período regular", descreve Nair. "Em contrapartida, no programa Cidadescola, eles podem ousar, criar, sentem liberdade para fazer coisas diferentes, têm um tempo extra que na sala de aula eles não têm."
Na visão da pesquisadora, esses resultados apontam para o risco de uma oposição entre o "período regular" e o "contraturno", como se fossem duas escolas diferentes na mesma unidade escolar. Esse efeito contrariaria as diretrizes didático-pedagógicas presentes na literatura e nos documentos oficiais sobre educação integral, os quais enfatizam a necessidade da adoção de metodologias que articulem e estabeleçam uma continuidade entre as atividades curriculares e extracurriculares.

A atração do lúdico
Nair alerta para os efeitos dessa divisão no que se refere à perda das potencialidades da educação integral e reflete sobre algumas possibilidades de recuperação. "Não adianta colocar o título de educação integral. É preciso mudar a visão, primeiro de quem faz essas políticas, essas pessoas precisam pensar no dia a dia da escola", analisa Nair.
Paralelamente, os funcionários das escolas também precisam mudar de atitude, no sentido de incorporar práticas pedagógicas que possibilitem que as crianças se expressem e vivenciem o lúdico durante as aulas regulares. "Muitos professores ainda querem que as crianças fiquem sempre quietas, em silêncio."
No entanto, a integração entre o curricular e o extracurricular é possível, desde que haja uma mudança de visão e de práticas no ambiente escolar, além de um apoio dos órgãos responsáveis pelas políticas e pela gestão, como as secretarias de Educação. "Hoje, eu percebo uma mudança nas escolas mais antigas que têm o programa Cidadescola, inclu­­sive nesta escola onde fiz a pesquisa. Há uma mudança, inclusive, no nível do projeto pedagógico, por meio da integração dos currículos."

Período integral: a criança ganha ou perde?

Especialistas defendem que a instituição ideal é aquela que busca o equilíbrio entre o cuidado e o trabalho pedagógico, entre o estímulo e o descanso, entre a rotina e a novidade


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Todos os dias, ao chegar na creche, é a mesma história: o filho da manicure Alessandra Venâncio gruda nas pernas da mãe e se recusa a entrar. Ele passa o dia inteiro na instituição, pois a mãe precisa trabalhar. O sofrimento é mútuo. "Sofro muito com essa situação. Minha esperança é que ele ainda se adapte", conta. Alessandra diz que, se tivesse uma alternativa, como uma babá em casa, não mandaria o filho para a creche por enquanto.

O dilema de Alessandra é o mesmo de muitos pais e mães. Matricular um bebê ou uma criança pequena em uma instituição em geral é não apenas uma grande mudança de rotina para a família, mas muitas vezes motivo de angústia para pais e filhos. O que acontece, então, quando uma criança precisa ficar na escola ou creche em período integral? O longo período longe dos pais pode ser um problema para o desenvolvimento da criança? A escola está preparada para receber essa criança durante tanto tempo? A angústia de muitos pais é justificável?
O período integral acaba levantando uma questão que ainda divide muitas opiniões em relação à educação infantil: a criança precisa ser escolarizada o quanto antes ou a escola é apenas um lugar bem estruturado para deixar os pequenos enquanto os pais trabalham? Nem um, nem outro. É a opinião do pedagogo Paulo Fochi, doutorando em educação pela USP e professor da Unisinos, onde leciona no curso de pedagogia e coordena a especialização em educação infantil. "É preciso se afastar dessas duas extremidades. Existem instituições - públicas e privadas - que conseguem ser menos assistenciais e menos escolarizantes. Isso porque constroem uma concepção pedagógica para criar uma boa experiência de vida", afirma.
No entanto, entre as famílias é comum a visão de que o melhor para uma criança pequena é ficar ao lado dos pais. Nesse cenário, o papel assistencial da creche ou escola - a instituição que cuida enquanto os pais não podem - surge como principal preocupação. Para a secretária Andreia Boccalini, mãe de um filho de três anos e um de sete, até os dois anos as crianças são muito carentes, e por isso é difícil deixá-las na escola. "O ideal mesmo seria que eu pudesse ficar com ele, mas, como isso não é possível, acho a escolinha a melhor opção", diz. "Eu não deixaria com babá, porque teria que ser uma pessoa de confiança. Além disso, o custo de uma babá é bem mais caro do que o de uma escolinha particular. E também é complicado ficar dependendo de uma só pessoa para cuidar do seu filho, na escolinha tem várias tias."
Para Paulo, é difícil determinar se passar muito tempo na escola é bom ou não para a criança, pois não só depende da escola, mas especialmente do tempo e disposição dos pais. Se essa criança ficar em casa, os pais se dedicariam ao desenvolvimento da criança? E se a criança ficar na escola, a instituição está bem organizada para acolher crianças tão jovens por tanto tempo, produzindo um espaço de bem-estar?
"A ideia binária de ser bom ou ruim para a criança é muito limitante. Pode ser que alguns pais saibam agir na medida certa, mas grande parte não dá conta. As crianças vão ficar com os pais para ver TV? Ficar no shopping? Não é simples dizer que a quantidade temporal é suficiente. Quando se está junto, que se esteja junto de fato, que não seja atravessado por uma tela de tablet, de TV, que seja uma relação de escuta e de diálogo", defende o especialista. Apesar disso, Paulo considera importante levar em conta a idade dos bebês que frequentam as creches e escolas em período integral com pouco tempo de vida, de poucos dias a poucos meses. "Há questões importantes na relação com a mãe, como a constituição psíquica e a consolidação do eu."
Organização do espaço
Desta forma, a educação infantil em período integral deve proporcionar um espaço agradável e que promova o bem estar das crianças. O ideal é que a escola crie um espaço convidativo, com ambientes em que a criança se sinta acolhida e confortável para brincar, aprender e se deslocar - ir ao banheiro, por exemplo, sem necessariamente pedir a permissão de um adulto. Os espaços destinados a atividades devem ter materiais atrativos e estimular a interação. É importante que também existam ambientes abertos e outros para descanso.
"Não estamos falando apenas dos ''cantinhos''. A ideia é que todos os espaços da escola sigam essa lógica, incluindo os corredores e a entrada", diz Lenira Haddad, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). "Em um ambiente assim, o período de adaptação é mais curto, a criança é mais feliz e gosta de voltar à escola. O período integral não será penoso para ela."
Organização do tempo
Também é importante que as crianças tenham uma rotina no ambiente escolar, mas ela não deve se prender à rigidez da tradicional divisão do tempo por áreas de conhecimento, como ocorre nos ensinos fundamental e médio, defende Lenira. Na educação infantil, a organização do tempo ideal permite à criança se localizar nesse tempo, saber o que está acontecendo e o que vem em seguida. A criança tem momentos sozinha, outros em que está em grupo, tem atividades de mais movimento e períodos para descansar. "O dia na educação infantil não pode ser visto sob perspectiva de uma rotina, de dois turnos divididos pelo horário de almoço, mas deve ser visto como uma jornada, da hora que ela entra à hora que ela sai", observa Paulo Fochi.
Jorge Alexandre Cardoso, coordenador do curso de pedagogia da Unisul e da Escola Dinâmica, em Florianópolis, destaca também a necessidade de equilibrar a atenção individual e o trabalho em grupos na educação infantil. "A faixa de 0 a 5 anos é muito heterogênea; as crianças mudam muito rápido e cada uma delas responde de uma forma diferente." Na escola em que Jorge trabalha, existe a educação infantil no período parcial e integral. Segundo ele, é importante que a escola que oferece o integral não pense apenas em "esticar as atividades" para ocupar o tempo. O ideal é que exista de fato um projeto, que inclui aprendizado, brincadeira e cuidado.

Flexibilidade e responsabilidade compartilhada
Em sua trajetória como pesquisadora, Lenira Haddad, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), conheceu experiências de outros países na educação infantil. Ponderando a questão do assistencialismo (pais deixarem as crianças em período integral na escola apenas porque precisam trabalhar) e da escolarização (ideia de que quanto antes o ingresso, melhor), a professora busca inspiração nos sistemas escolares de países escandinavos - em particular o da Suécia, cuja estrutura é em grande parte fruto de reivindicações femininas. "Lá, a responsabilidade pela educação é partilhada entre a sociedade e a família. Existe uma ideia de que ''os filhos não são só nossos''."
Nesse cenário, o acesso a creches não é visto como assistencialismo, mas como direito de fato da criança e da família. Na sociedade atual, em que os dois pais trabalham e as famílias são menores, a educação infantil cumpre um papel importante, que inclui colocar a criança em contato com outros adultos e crianças. O equilíbrio deve também marcar a relação da escola com os pais, afirma Lenira. "É uma ideia de educação partilhada, negociada, com equilíbrio de poder. Um diálogo entre família e escola e a forma como cada um pensa a educação." Em instituições escandinavas visitadas pela professora, essa negociação incluía os horários. "Lá, havia reloginhos que mostravam o tempo na escola e o horário de saída de cada um", conta. "As crianças não têm que necessariamente ir embora ao mesmo tempo."


segunda-feira, 16 de março de 2015

Jovem morre enquanto usava celular na carga

Uma garota morreu depois de levar um choque enquanto usava o celular na carga.
A jovem de 23 anos, da província de Shijiazhuang, Hebei, na China, morreu instantaneamente depois que levou um choque de seu telefone celular.
No dia 13 de março um post que começou a circular no site Weibo, dizia que uma garota havia sido eletrocutada enquanto usava seu celular na carga, acabando morrendo no incidente.
Jornalistas do Hebei Notícias começaram a investigar e descobriram que a garota em questão era Xiaozhao, de uma vila nos arredores de Shijiazhuang.
Jovem morre enquanto usava celular na carga

Xiaozhao, uma garota de 23 anos de Hebei, na China, morreu depois que supostamente
levou um choque por usar seu celular enquanto ele carregava.Segundo relatos, no dia 4 
de março, enquanto estava em sua casa, Xiaozhao tinha colocado o telefone para 
carregar e, em seguida, começado a usá-lo para jogar e atender ao telefonema de 
seu namorado.
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Durante a conversa, Xiaozhao de repente ficou em silêncio.
Temendo que algo ruim tivesse acontecido, o namorado correu rapidamente até sua casa e encontrou a garota morta. Em seu peito havia uma grande marca de queimadura próxima ao coração.
Embora a causa exata da morte ainda seja desconhecida, o professor Liang Guangchuan, da Universidade de Tecnologia de Hebei, disse que realmente há possibilidade da morte ter sido causada pelo aparelho celular, pois, durante o carregamento, a tensão é muito maior do que a habitual.
Ele alerta que se usarmos o telefone para realizar outras operações, tais como fazer uma chamada, “a tensão será várias vezes maior do que a normal.”
Apesar da marca e do modelo do telefone não terem sido divulgados, o professor acrescentou que usar carregadores de baixa qualidade e baterias antigas também aumentam o risco de que acidentes ocorram. Ele relatou também que durante o carregamento de dos telefones devemos evitar contato com lugares úmidos.