quarta-feira, 26 de junho de 2013

Integrar educação e tecnologia é novo nicho para startups no Brasil

Empresas que oferecem soluções para a melhoria do ensino no País crescem rápido e já atingem milhões de pessoas. Pesquisa mostra que há espaço para novas iniciativas

No lugar de quadro negro, caderno e livro novas ferramentas como videoaulas e games educativos ocupam espaço no ambiente educacional, seja nas escolas ou fora delas. Ao mesmo tempo em que professores e estudantes incorporam inovações tecnológicas ao seu dia a dia, surge também um novo mercado, que integra educação e tecnologia. Uma tendência mundial já há alguns anos, a área de atuação batizada de EdTech nos Estados Unidos se concretiza agora no Brasil com o surgimento de startups dispostas a contribuir para a melhoria do ensino no País e, ao mesmo tempo, ganhar dinheiro.
“O Brasil tem um atraso educacional enorme e queremos atuar para resolver esse problema. Mas temos um modelo de negócio para isso. É uma oportunidade de ouro”, diz Carlos Souza, fundador do Veduca , plataforma de vídeos online com cursos das melhores universidades do mundo.
Essas novas empresas utilizam ferramentas já testadas em outros mercados e países, como vídeos e fóruns, mas se diferenciam por adaptá-las e reinventá-las para suprir as carências educacionais do Brasil. O Veduca, por exemplo, oferece aulas gratuitas de ensino superior, um modelo de sucesso experimentado nos Estados Unidos pelo Edx (plataforma online do MIT e Harvard) e Coursera (de outras universidades top), mas faz isso em português. A Evobooks desenvolve livros-aplicativos para serem usados em sala de aula, mas que não dependem de acesso à internet, uma dificuldade grande ainda nas escolas brasileiras.
E elas crescem muito rápido. Fundadas por jovens de até 40 anos, a maioria surgiu há no máximo dois anos, mas juntas já conseguem atingir milhões de pessoas que querem aprender. “Para esse mercado se consolidar, é necessário uma conjunção de fatores. A infraestrutura brasileira não é boa, mas melhorou muito nesses últimos dois anos. Os meios de pagamento também. Teve ainda o crescimento do ecossistema de startups, com mais investidores e mais gente querendo trabalhar. Além disso, a popularização do e-commerce, com os sites de compras coletivas, fez com que as pessoas se acostumassem a comprar coisas pela internet. Olhando para trás, dá para ver que isso aconteceu”, disse Marco Fisbhen, CEO do Descomplica , site surgido em março de 2011 que tem disponível mais de 3.500 videoaulas, a maioria para quem está se preparando para o Enem, e recebeu 535 mil visitas apenas em maio.
Reprodução
Videoaulas, como as da Khan Academy, são ferramentas
populares que integram educação e tecnologia
De olho nesse mercado, surgiram também fundos dispostos a botar dinheiro em produtos relacionados à educação. Para se desenvolverem, as startups contam com aceleradoras e investidores brasileiros e estrangeiros. Por exemplo, o Veduca e o Easyaula , portal de cursos presenciais e online de preparação ao mercado de trabalho, receberam em fevereiro investimento da Macmillan Digital Education, braço de negócios digitais da editora responsável por publicações como Nature e Scientific American. Desde fevereiro, a Macmillan abriu um escritório no Brasil e mapeia outras oportunidades de negócio no País.

Para conhecer melhor o impacto das empresas de EdTech brasileiras, o iG publica a partir desta quarta-feira (27) uma série de reportagens que vai mostrar como surgiram e evoluíram o Descomplica , o Veduca, o Easy Aula e a Evobooks, exemplos bem-sucedidos de startups educacionais, mas que atuam em diferentes campos (ensino formal e informal) a partir de ferramentas diversas (vídeos, games, aplicativos, conteúdos para celular, fóruns).
 
Mais oportunidades

 Além desses casos reconhecidos, a boa notícia para empreendedores e pessoas preocupadas com educação é que há ainda muito espaço para atuar na área. Pelo menos essa é a conclusão do estudo Oportunidades em Educação para Negócios Voltados para a População de Baixa Renda no Brasil , divulgado na segunda-feira pelo Instituto Inspirare e pela Potência Ventures. O levantamento realizado pela consultoria Prospectiva identifica oportunidades para o desenvolvimento de produtos e serviços que contribuam para o ensino oferecido à população de baixa renda.
A pesquisa analisou o contexto educacional em seis Estados – Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo –, que são responsáveis por metade do orçamento público da educação do País, cerca de R$ 100 bilhões, e levantou 190 organizações, majoritariamente startups, que desenvolvem produtos ou oferecem serviços educacionais voltados ao ensino básico, técnico e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) das classes C, D e E.
Formação de professores em todas as etapas do ensino básico, avaliação para o ensino fundamental, oferta de cursos para o ensino técnico e criação de objetos educacionais, como jogos e softwares, para o fundamental 2, são algumas das áreas onde existe demanda, mas poucas ou nenhuma empresa atuando.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-06-26/integrar-educacao-e-tecnologia-e-novo-nicho-para-startups-no-brasil.html

terça-feira, 25 de junho de 2013

Como lidar com um filho que pratica BULLYING ?

Da conversa franca à participação em projetos de voluntariado, especialistas recomendam sempre firmeza e amor

Observação constante: pais devem conhecer a vida social dos filhos e manter o diálogo aberto para corrigir o bullying
 
Em setembro de 2004, três estudantes adolescentes de Carazinho, cidade de cerca de 60 mil habitantes no Rio Grande do Sul, criaram um fotolog com fotografias alteradas digitalmente. O alvo das fotomontagens era um colega de classe dos três - que, ofendido com o que os autores consideravam só uma "brincadeira", entrou com um processo por bullying contra o provedor do fotolog e o responsável pela conta de onde partiam as postagens - no caso, a professora Solange Ferrari, mãe de um dos garotos do grupo.

Três anos depois, em dezembro de 2007, Solange foi surpreendida por uma intimação. "Nem sabia do que se tratava", relembra. Ela telefonou para o filho, que já havia atingido a maioridade e morava na Itália. "Foi aí que ele me explicou", conta ela. Solange, que mal sabe postar um foto na internet, foi condenada este mês em segunda instância, em decisão inédita no estado. Ela deve pagar R$ 5 mil de indenização, corrigidos, à vítima de bullying - que hoje estuda não só na mesma universidade que o filho dela, como também na mesma classe. "Eles não se falam e meu filho diz que o que ele mais sente é o fato de eu ter de pagar por algo que ele fez".

Solange, que recorreu da decisão, lamenta que um jovem com idade considerada suficiente para escolher os governantes não seja responsabilizado pela Justiça. "Se eu tivesse sido informada da história, teria tomado as providências necessárias", declara. Certamente ela seria mais rápida que a Justiça, mas quanto à responsabilidade da condenação, sob o ponto de vista do Código Civil, não há dúvidas: o artigo 932 enuncia que "são também responsáveis pela reparação civil os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia". "É bem claro: do ponto de vista da lei, os pais são responsáveis pelos atos dos filhos", diz o promotor Lélio Braga Calhau, autor do livro "Bullying: o que você precisa saber" (Editora Impetus).

Antes que os casos cheguem aos tribunais, o que os pais podem fazer quanto aos filhos que praticam o bullying?
Para o psiquiatra e terapeuta Içami Tiba, os pais devem tomar medidas sérias quando descobrem que o filho pratica bullying. "Eles precisam impor consequências. Não adianta só papo. Precisa ter ação", recomenda ele, que sugere a ida a trabalhos voluntários com a criança. O tipo de trabalho pode ser escolhido de acordo com a idade do seu filho: os mais novos podem visitar creches para brincar ou ler histórias para as outras crianças. Adolescentes podem ajudar a fazer sopa para os sem-teto.

Divulgação
Içami Tiba: "os pais devem tomar medidas sérias,
aliadas à ação"
 
Içami descarta a matrícula em uma atividade física mais puxada ou mesmo em uma academia de luta ou artes marciais, caminho escolhido por muitos pais que consideram essa uma boa solução para "canalizar" a agressividade do filho. A conversa sempre é boa, mas a ação deve ser eficaz e compete aos pais. "O que não pode é deixar barato", alerta Içami, autor de "Adolescentes: quem ama, educa" (Integrare Editora), entre outros títulos voltados para educação e desenvolvimento.

O amor não muda
       
Muitos pais entendem o bullying como uma qualidade, confundindo agressividade com um comportamento de liderança. "Já estive em reuniões de escolas em que o pai, ao saber das atitudes do filho, dizia que ele era um 'líder', enquanto que as outras crianças eram 'babacas'", testemunha o pediatra Aramis Antonio Lopes Neto, autor de "Diga não ao bullying". "Os pais precisam entender que aquilo é um problema para então conversar com os filhos, conhecer a vida social deles", explica.
Algumas vezes, o comportamento agressivo é desengatilhado por experiências traumáticas, de violência familiar ou social, como discussões entre os pais, separações na família, um sequestro ou um assalto. Nestes casos, Aramis sugere o acompanhamento terapêutico para a criança. Mas para ele, impedir o bullying é uma questão de conscientização que deve ser feita pela escola e pelos pais. "Pais que lidam com filhos que praticam bullying devem deixar muito claro que o amor deles pela criança ou adolescente não muda, mas que eles absolutamente não aprovam esse tipo de comportamento", defende. "Ele pode ter se tornado agressivo porque tem um problema, então não pode ser marginalizado por isso", finaliza.

FONTE:http://delas.ig.com.br/filhos/como+lidar+com+um+filho+que+pratica+bullying/n1237723947054.html

O BULLYING É UM ATO COVARDE

Ana Beatriz Barbosa, autora do best-seller “Mentes Perigosas”, lança livro sobre bullying na escola.

Após o sucesso de “Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado”, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa parte agora para o tenso universo escolar. Ela acaba de lançar o livro “Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas” (Editora Fontanar), em que trata de um dos maiores dramas entre as crianças e jovens hoje em dia: o bullying, um comportamento agressivo e repetitivo cometido por um indivíduo (ou um grupo) com o objetivo de intimidar alguém.

Em entrevista ao iG Delas, ela afirma que, além da mudança comportamental dos pais perante ao filhos, a escola também deve se impor contra o bullying, e alerta: para as vítimas, geralmente crianças e jovens com problemas de autoestima, as consequências psicológicas podem ser dramáticas e irreparáveis.

Quais são os principais problemas que a vítima de bullying enfrenta?

Ana Beatriz: As consequências são as mais variadas e dependem muito de cada indivíduo, da sua estrutura, vivências, pré-disposição genética, da forma e da intensidade das agressões. Os agressores (bullies) sempre escolhem um aluno-alvo que se encontra em franca desigualdade de poder e que já apresenta baixa autoestima. É um ato covarde. Os problemas mais comuns que observo em consultório são: desinteresse pela escola, problemas psicossomáticos (desconforto abdominal, taquicardia, suores, dor de cabeça, doenças autoimunes, insônia, falta de concentração); problemas psíquicos e comportamentais, como transtorno do pânico, TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), TEPT (transtorno do estresse pós-traumático), depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar (medo patológico de frequentar a escola), fobia social (timidez excessiva) e ansiedade generalizada. O bullying também pode agravar problemas pré-existentes, devido ao tempo prolongado de estresse que a vítima é submetida. Em casos mais graves, quadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.

Em seu livro você cita diferentes formas de bullying, verbal, físico e até virtual. Existe uma que seja mais maléfica, que pode provocar danos ainda maiores à vítima?

Ana Beatriz: Todas as vítimas, sem exceção, sofrem com os ataques de bullying. Muitos levarão marcas profundas provenientes das agressões para vida adulta, e necessitarão de apoio psicológico para a superação do problema. Uma das formas mais agressivas de bullying, que vem ganhando espaços, é o ciberbullying ou bullying virtual. Os ataques ocorrem através de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas, internet e seus recursos (e-mails, sites de relacionamentos, vídeos). Além da propagação das difamações serem praticamente instantâneas, o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas é imensurável. O ciberbullying extrapola, em muito, os muros das escolas e expõe a vítima ao escárnio público. Os praticantes dessa modalidade se valem do anonimato e, sem qualquer constrangimento, atingem a vítima da forma mais vil possível.

Por que o bullying ocorre? E como os pais podem interferir?

Ana Beatriz: O bullying escolar ocorre desde que existe a instituição de ensino. Porém, a partir da década de 80, passou a ser objeto de estudos e campanhas antibullying no mundo todo, em função da proporção gigantesca que vem alcançando. O individualismo, cultura dos tempos modernos, também propicia essa prática, com distorções absurdas de valores éticos. Vivemos em tempos velozes, com grandes mudanças em todas as esferas sociais. Nesse contexto, a educação se tornou rapidamente ultrapassada, confusa, sem parâmetros ou limites. Os pais passaram a ser permissivos em excesso e os filhos cada vez mais exigentes e egocêntricos. Para que os filhos sejam mais éticos é necessário primeiro rever o que ocorre dentro de casa. Os pais, muitas vezes, não questionam suas próprias condutas e valores, eximindo-se da responsabilidade de educadores. Por outro lado, este ambiente doméstico também pode ser extremamente hostil e desestruturado, e é ali que a criança está se desenvolvendo. O resultado disso tudo é bombástico: os filhos tendem a se comportar em sociedade de acordo com os modelos domésticos. Muitos deles não se preocupam com as regras sociais, não refletem sobre a necessidade delas no convívio coletivo e sequer se preocupam com as consequências dos seus atos. É obrigação de todos auxiliá-los e conduzi-los na construção de uma sociedade mais justa e menos violenta.

Quais são as principais características que uma criança agressora costuma demonstrar?
          
Ana Beatriz: Na escola, os bullies fazem brincadeiras de mau gosto, gozações, colocam apelidos pejorativos, difamam, ameaçam, constrangem e menosprezam alguns alunos. Perturbam e intimidam, por meio de violência física ou psicológica. Furtam ou roubam dinheiro, lanches e pertences de outros estudantes. Costumam ser populares na escola e estão sempre enturmados. Divertem-se à custa do sofrimento alheio. Já no ambiente doméstico, mantém atitudes desafiadoras e agressivas. São arrogantes ao agir, falar e se vestir, demonstrando superioridade. Manipulam pessoas para se safar das confusões em que se envolveram. Costumam voltar da escola com objetos ou dinheiro que não possuíam. Muitos agressores mentem, de forma convincente, e negam as reclamações da escola, dos irmãos ou dos empregados domésticos.

O que os pais devem levar em consideração para evitar que uma criança cometa o bullying?

 Ana Beatriz:
Os pais precisam primeiramente identificar que tipo de agressor ele é. A maioria se comporta assim por nítida falta de limites. Outros não têm um modelo educacional que associe autorrealização pessoal com atitudes socialmente produtivas e solidárias. O agressor também pode estar vivenciando momentos de dificuldades circunstanciais (como doenças na família, separação dos pais ou estar sofrendo bullying também). Uma minoria, porém, é composta por transgressores sociais com estrutura de personalidade genuinamente maldosa (chamada transtorno da conduta ou delinquência). Em todos dos casos, o problema requer uma postura atenta e proativa por parte dos pais.

Qual o papel da escola para evitar o bullying? 

 Ana Beatriz:
A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é nela que os comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam. É ali que os alunos deveriam aprender a conviver em grupo, respeitar as diferenças, entender o verdadeiro sentido da tolerância em seus relacionamentos interpessoais, que os norteiam para uma vida ética e responsável. Infelizmente, a instituição escolar é o cenário principal dessa tragédia endêmica, que por omissão ou conivência, facilita a sua disseminação. A direção da escola (como autoridade máxima da instituição) deve acionar os pais, o Conselho Tutelar, os órgãos de proteção à criança e ao adolescente etc. Admitir que o bullying ocorre em 100% das escolas do mundo todo (públicas ou privadas) é o primeiro passo para o sucesso contra essa prática indecorosa. Mudanças estruturais educacionais são imprescindíveis.

Normalmente existem mais meninos ou meninas que cometem bullying? 

 Ana Beatriz:
Estudos revelam um pequeno predomínio dos meninos sobre as meninas. No entanto, por serem mais agressivos e utilizarem a força física, as atitudes dos meninos são mais visíveis. Já as meninas, costumam fazer bullying mais na base de intrigas, fofocas e isolamento das colegas. Podem, com isso, passar despercebidas, tanto na escola quanto no ambiente doméstico.

Além das vítimas, que na maioria das vezes são crianças com baixa autoestima, é possível que os agressores também tenham este tipo de problema? 

 Ana Beatriz:
Sim. Alguns agressores foram ou ainda são vítimas de bullying e acabam por praticar os mesmo atos contra alunos mais frágeis do que eles, na tentativa de ganhar respeito ou por agressividade contida. Outros podem estar vivenciando momentos difíceis em seus próprios lares, descarregando essa frustração em seus pares. E existem aqueles que seguem os “mentores” das agressões por medo de serem as próximas vítimas ou ainda para se tornarem mais populares.

Você cita em seu livro casos de algumas pessoas que foram vítimas do bullying, mas que superaram e obtiveram sucesso na vida adulta. Como os pais podem ajudar os filhos a superar o sofrimento? 

 Ana Beatriz:
A identificação precoce do bullying pelos responsáveis é de suma importância. As crianças normalmente não contam aos pais o sofrimento vivenciado na escola, por medo de represálias e por vergonha. A observação dos pais sobre o comportamento dos filhos é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles. Se for necessário, buscar ajuda profissional, com psiquiatras e psicólogos, para superar traumas, marcas profundas e transtornos psíquicos. A percepção do talento inato desses jovens pode fazer grande diferença lá na frente. Os adultos devem sempre estimulá-los e procurar métodos eficazes para que esse dom seja exercido. Isso vale tanto para que se sintam melhores consigo mesmos quanto para que desenvolvam, com maior eficácia, toda a potencialidade que eles manifestam desde cedo.

FONTE:http://delas.ig.com.br/filhos/o+bullying+e+um+ato+covarde/n1237619654324.html

Entenda como o bullying pode mudar a vida do seu filho

Conheça os casos de duas pessoas que enfrentaram o assédio violento dos colegas e entenda as sequelas enfrentadas pelas vítimas

Arquivo pessoal
Dannyrooh com o pé quebrado: escola anterior se
omitiu
Dannyrooh tem 10 anos e sofre de miastenia grave, doença crônica que provoca fraqueza muscular e fadiga em resposta a esforços físicos. Por isso, ele não pode participar das aulas de educação física na escola. Mas alguns de seus colegas de classe não entenderam o problema e no início da 4ª série Dannyrooh começou a ser vítima de bullying. “Todos os dias o chamavam de ‘menininha’, ‘fracote’, até que começaram a bater nele”, diz a mãe Josecleia de Oliveira, autônoma. Não era à toa que o menino andava tão diferente e desanimado antes de Josecleia descobrir o problema.
            
“Durante a noite, eu percebia que ele chorava. Quando eu perguntava qual era o problema, ele dizia ter tido um pesadelo. Mas pesadelo todos os dias?”, questionou a mãe. Depois de três meses aguentando a barra sozinho, Dannyrooh finalmente falou sobre o bullying. Mas a escola em que o menino estudava, em Curitiba, no Paraná, não se mostrou muito disposta a resolver o caso. Hoje ele cursa a 5ª série em outra escola. E recentemente ganhou um pé quebrado por causa de um menino que o bateu. “De novo, meu filho ficou com medo de voltar à escola”, conta ela
 
Omissão escolar

Ao saber que o filho tinha apanhado de outras crianças, Josecleia imediatamente procurou a escola. Ouviu da pedagoga que aquilo “não acontecia por maldade”. Na segunda vez, aconteceu na saída. “Disseram que fora da escola nada podia ser feito, já não era mais problema deles”, relembra. Foi o estopim. Josecleia chegou ao ponto de entrar na escola e ameaçar toda a sala de aula do filho. “Errei, mas eu estava sofrendo tanto que cheguei a um estágio inimaginável”, explica.

Ao final do ano, Josecleia procurou uma nova escola. Conversou com a diretora e ela garantiu que as crianças praticantes do bullying não seriam aceitas ali. O comprometimento escolar, obtido pela cobrança e atuação da mãe, teve efeito. Dannyrooh hoje tem vários amigos e sua vida melhorou bastante: “Eu ficava muito aborrecido, não brincava com ninguém e me odiavam. Agora não”. Ele afirma, com toda certeza, que ninguém merece passar pelo mesmo que ele.

Para o psicólogo e terapeuta familiar João David Cavallazzi Mendonça, a história de Dannyrooh ressalta o problema das escolas em lidar com o bullying. “Uma instituição jogou o bullying para debaixo do tapete, a outra inibiu. Mas só isso não adianta. O bullying pode ser criado a qualquer momento”, afirma. A atenção dos pais, que não faltou para o garoto, não é menos importante. “Expressar o afeto pela criança e reforçar as qualidades dela pode ajudá-la muito a se blindar contra o peso do assédio”, diz João David.

Renata Losso
Samantha: coragem para falar só 10 anos
depois
 
 
A artista plástica Samantha Reis, hoje com 29 anos, começou a sofrer bullying na pré-adolescência. Por vergonha e falta de coragem, não foi capaz de contar aos pais o que acontecia na escola. “Você só tem coragem de falar 10 anos depois”, afirma.

Aos 10 anos, mesma idade de Dannyrooh, ela começou a enfrentar a maldade dos colegas de sala. “Eu tinha tudo para não ser aceita: usava óculos de fundo de garrafa, aparelho, era gorda”, conta. Ao chegar ao colegial, Samantha passou a fazer aulas de teatro e cursou magistério, assim seu horário de saída seria diferente das outras classes e ela não teria de enfrentar o momento de maior vulnerabilidade, quando todos os alunos estão fora das salas e mais longe dos olhos dos professores.

Ainda assim, certo dia ela seguia em direção à saída quando um grande grupo de colegiais começou a sair de suas classes. “Eles se uniram e começaram a me xingar”, conta. “Foi uma coisa de filme norte-americano. Mas contei com a ajuda de um menino popular da escola, que deu uma de super-homem”, completa. Os dois se conheceram nas aulas de teatro e o garoto enfrentou o grupo de “bullies”, dizendo que ninguém a conhecia para falar com ela daquela maneira. “Ele tinha se permitido conhecer uma pessoa diferente”, avalia.

Para a Samantha daquela época, contar aos pais que era rejeitada por causa de sua aparência parecia completamente absurdo. “Eu sempre fui criada para sublimar a questão da aparência. Isso não era importante”, diz. O teatro ajudou a criar um pouco de autoconfiança, mas ela assume que até hoje tem a autoestima abalada pelo bullying sofrido na adolescência. “Eu ainda tenho medo de assumir que não sei algo a respeito de um assunto, porque o que me segurava na escola era ser inteligente”, conta. Mas o tempo também deu a ela alguma tranquilidade em relação ao passado. “Ao entrar na faculdade, comecei a ver que o mundo era diferente daquilo”.

De acordo com o terapeuta João David, os pais poderiam ter desempenhado um papel determinante se soubessem o que acontecia. “A criança não tem a percepção mais ampla, do adulto ou da escola, sobre o caso, e pode ficar fragilizada”, diz. Embora Samantha não tenha conversado com os pais, eles sempre foram muito presentes em sua vida. Isso pode ter impedido que ela oprimisse algumas características de sua personalidade. “Se não encontra um ambiente favorável em casa, a criança pode acabar se fechando ainda mais”, diz o terapeuta.

Escola, casa e internet

Samantha fica contente por não ter passado por estes apuros em uma época de popularização da internet, como hoje. “Quando eu saía da escola, o bullying acabava. Dentro de casa eu estava segura”, diz. Mas a rede, até hoje acusada de perpetrar e intensificar as perseguições, teve papel oposto no recente caso do garoto australiano Casey Heynes, de 15 anos, que reagiu ao assédio constante de um colega de escola jogando-o contra o chão. Para João David, o bullying não deve ser resolvido com violência, como aconteceu com Casey. Mas não se pode negar que a web salvou o adolescente ao quebrar o silêncio em torno do problema sofrido por ele. “A internet também pode servir para uma reflexão a respeito do bullying”, afirma.
FONTE:http://delas.ig.com.br/filhos/entenda+como+o+bullying+pode+mudar+a+vida+do+seu+filho/n1596823286342.html

Bullying não se resolve com violência

O revide transformou o garoto australiano Casey Heynes em herói da web, mas atos violentos só interrompem o ciclo momentaneamente
Reprodução
Casey é agredido, mas logo reage: vídeo transformou
o garoto australiano em herói da web
O australiano Casey Heynes, 15 anos, virou ídolo na internet semana passada. Vítima de bullying desde os primeiros dias na escola, a vida do garoto deu uma reviravolta quando ele resolveu se defender de Ritchard Gale, de 12 anos, que o provocava e agredia. Em autodefesa, Heynes virou o colega de ponta cabeça e o atirou no chão.

 O jovem se tornou um herói para muita gente pela imposição feita ao agressor. Ritchard Gale, apesar de se levantar cambaleando, por sorte não se machucou seriamente (e mais tarde deu uma entrevista afirmando ser a verdadeira vítima do bullying). A escola dos garotos não se pronunciou. Porém, fica a questão: retrucar violência com violência seria a melhor maneira de lidar com o bullying?

Para o psicoterapeuta Ivan Capelatto, autor do livro “Prepare as crianças para o mundo” (Unicef) e palestrante sobre o tema em colégios como o paulistano São Luiz, a atitude de Casey demonstra o estresse extremo a que uma pessoa pode chegar quando sofre a dinâmica do bullying. E o sucesso do vídeo na internet comprova o quanto todos admiram uma vítima quando ela comete um ato “heróico”, por assim dizer. “Foi um momento de glória”, diz o especialista. “Mas existe a possibilidade de ele sofrer mais ainda se continuar na mesma escola”, completa. Afinal, as crianças que cometem o bullying costumam ser narcisistas ao extremo e ser exposto para o mundo de uma forma humilhante alimentaria o desejo de vingança.

O psicólogo e terapeuta familiar João David Mendonça concorda. “É compreensível e até justificável a atitude do menino, mas corremos o risco dela se tornar um modelo para a solução do bullying”. O uso da força em resposta à agressão pode acabar alimentando um ciclo de violência interminável.

Mas é difícil julgar Casey. Cássia Franco, psicóloga especialista em terapia de casal e família, avalia a atitude do garoto como a única possível de ser tomada naquele momento. Para ela, Casey só queria se livrar do agressor, não realmente machucá-lo. “Reagir com violência não é a melhor solução, mas neste caso seria uma ação efetiva para o momento”, afirma.

Para o psiquiatra e terapeuta Içami Tiba, autor de “Adolescentes: Quem Ama Educa” (Integrare Editora), entre outros, violência não se resolve com violência, mas interrompe o processo. A vítima preferida de quem pratica o bullying é a criança que se esconde: ela não reage e não conta para ninguém. Portanto, se uma criança está sozinha, restam poucas alternativas de defesa.

Antes que seja tarde

Por isso, os pais e a escola devem interferir e dar a devida atenção ao problema. Alguns pais ficam indiferentes e consideram o comportamento dos filhos algo normal, mas eles não devem se enganar – principalmente porque agressões físicas e emocionais constantes podem ter efeitos fatais. “A vítima de bullying pode se sentir tão desprezada a ponto de ter ideias suicidas”, diz Ivan Capellato. Foi o que Casey confessou em entrevista concedida a um canal de TV australiano. “Além disso, existe também o risco deles desenvolverem doenças autoimunes”, completa.

Procurar a escola é o primeiro passo. Segundo Mendonça, depois de acolher e ouvir o filho com atenção, os pais devem exigir uma investigação cuidadosa feita por professores e coordenadores. É essencial estar sempre a par do que acontece na sala de aula, na hora do recreio e nos corredores, assim como manter contato com outros pais, para ajudar a tomar uma atitude caso algo aconteça. Afinal, a vida escolar da criança vai além das notas boas ou ruins. “Os pais costumam deixar os filhos na escola, ir trabalhar e esquecer, mas é preciso colocar o tema em discussão”, diz Ivan.

Para a terapeuta Cássia, o trabalho de prevenção ao bullying começa em casa, com a educação das crianças para um melhor entendimento das relações humanas. “Eles precisam aprender a conversar e a conciliar diferenças”, recomenda. Além disso, é preciso prestar atenção em todos os detalhes da vida acadêmica, principalmente no círculo social da criança e nos sentimentos dela em relação à escola. “Precisa haver uma participação maior dos pais na vida emocional e social dos filhos”, defende João David. Portanto, manter a curiosidade diante da vida da criança é essencial. Afinal, quanto mais isolado e sozinho ele estiver, mais alvo fácil ele se torna.

Segundo João David, o bullying se alimenta do silêncio. O elemento-chave capaz de livrar Casey do tormento foi exatamente o barulho ao redor do acontecimento. O vídeo possibilitou uma mudança histórica na vida do menino – e não só dele. Por trás de cada história de bullying, não há apenas a criança que está sofrendo: “Tem também o autor da agressão, uma criança insegura, com necessidade de reconhecimento social”, diz ele. “O que acontece com essas famílias de crianças que precisam usar a violência para poder se sentir alguém?”.

Marcas permanentes

Içami Tiba concorda. Assim como a vítima tem a autoestima afetada, o agressor se utiliza da valentia como substituição de uma autoestima que ele não tem. “Os pais do agressor devem cuidar do filho tanto quanto os pais de quem é agredido. O problemático mesmo é o agressor”, diz o psiquiatra (leia mais sobre como lidar com um filho que pratica bullying). O que não pode é deixar passar. De acordo com o psicoterapeuta Ivan, ambas as crianças precisam perceber o interesse dos pais por seus problemas. “Elas devem sentir que são queridas, que os pais tomaram providências”, explica.

Por sua vez, a escola deve manter uma discussão constante e aberta sobre o bullying e mostrar seus mecanismos às crianças a fim de evitar a prática entre os alunos. “As sequelas do problema são muito graves”, diz Ivan Capelatto. E as consequências do bullying para as vítimas podem durar a vida inteira. Além da autoestima baixa, pode haver isolamento social e timidez excessiva. Segundo Cássia, sintomas físicos podem persistir até a vida adulta – como gastrite, desmaio ou sudorese – quando, por algum contratempo, as memórias e sentimentos da infância vêm à tona. “São efeitos que mexem com a identidade da pessoa e ela sempre vai ter medo de que aquilo volte a acontecer”, diz João David.
 


Pediatras denunciam bullying envolvendo alergia alimentar

Segundo pesquisa americana, um terço das crianças entrevistadas relatou ter sofrido bullying por causa de alergias. Pais sabiam das ameaças em apenas metade dos casos.
Qualquer diferença serve para separar alunos dos colegas e transformá-los em alvos potenciais de bullying. Porém, alergia severa a comida é uma vulnerabilidade singular. Basta um almoço ou festa de aniversário para as outras crianças saberem quais colegas não podem comer nozes, ovos, leite ou uma quantidade mínima de trigo. Pode demorar até eles compreenderem como é assustador viver com uma alergia que pode ser letal.
Getty Images
"Intimidação via alergia alimentar nunca é piada porque
alguém pode terminar no pronto-socorro", afirma o
diretor-presidente do Food Allergy Research and
Education, John Lehr

De forma surpreendente, os colegas podem se aproveitar dessa vulnerabilidade, tramando trocar o lanche para ver se, por exemplo, a criança fica enjoada ou cuspir leite em seu rosto para provocar uma rápida reação anafilática.
Segundo pesquisa recente com 251 conjuntos de pais e filhos com alergias a alimentos, publicados na revista "Pediatrics" no mês de janeiro, praticamente um terço das crianças relatou ter sofrido bullying por causa das alergias. Os pais sabiam do comportamento ameaçador em apenas metade das vezes.
Robert Wood, diretor de alergia pediátrica do Centro Infantil Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos, escuta "relatos muito frequentes" de intimidação dos pacientes e dos pais. Na semana passada, uma criança teve o rosto lambuzado com creme de amendoim, colocando-a em risco. Geralmente, o bullying não é tão radical, mas o fenômeno "sempre existe".

Cantina da escola
           
Agora, no entanto, a questão está começando a chamar a atenção. Em maio, o Food Allergy Research and Education, grupo sem fins lucrativos de McLean, Virgínia, divulgou um comunicado de serviço público destacando o tema com um estudante lamentando o fato de a cantina da escola ser um "lugar assustador". O vídeo teve mais de 17 mil visualizações no YouTube, tendo sido exibido na rede de televisão CW, levando dezenas de pais a contar episódios inquietantes na página do grupo no Facebook.
"O bullying não deveria ser visto como um rito de passagem", afirmou John Lehr, diretor-presidente do grupo. "Intimidação via alergia alimentar nunca é piada porque alguém pode terminar no pronto-socorro."
O Centro Médico Infantil Nacional, de Washington, acabou de contratar um psicólogo para participar do programa de alergia alimentar, em parte para ajudar os pacientes jovens que se sentem isolados ou estão sofrendo intimidação. De acordo com Hemant P. Sharma, diretor do programa, um terço dos pacientes já relatou casos de bullying.
Mês sim, mês não, uma criança conta ter sido forçada a comer um alérgeno. "Ainda que seja apenas uma criança que se sinta isolada por causa da alergia alimentar, o fato contribui para o fardo emocional", afirma Hemant.
Na verdade, algumas crianças com alergia alimentar ficam aflitas ou ansiosas. Wood costuma mandar a criança falar com um psicólogo "porque não tocam em maçaneta nem usam o banheiro por temerem uma exposição inadvertida ao alérgeno".
O Instituto Jaffe de Alergia Alimentar do Centro Médico Mount Sinai, Manhattan, não apenas oferece orientação psicológica às crianças e aos pais depois do episódio de bullying como também convoca os diretores em nome do paciente.

“Você não pode comer isto”
           
Nem sempre as vítimas da intimidação alertam os pais. Porém, Miles Monroe, oito anos, de Bethesda, Maryland, que é alérgico a leite, ovos e trigo, contou aos seus pais que não se sentia à vontade na cantina depois que um colega segurou uma embalagem de chocolate perto do rosto e ficou cantando "você não pode comer isto".
Miles não ficou "com medo de ficar doente por causa disso, mas se sentiu agredido", contou Courteney Monroe, 44, mãe do menino e diretora de marketing do canal National Geographic. A compreensiva professora de Miles arrancou o mal pela raiz ao falar para o agressor que seria como se ele não pudesse comer o alimento preferido (ruim), fosse provocado com ele (pior) ou terminasse no hospital se o ingerisse (até então, esse resultado era inconcebível).
Nem todo professor se mostra tão preocupado. "A intimidação relacionada à alergia alimentar nem sempre vem dos colegas, mas de adultos, como os professores", afirmou Elisabeth Stieb, enfermeira do Centro de Alergia Infantil do Hospital Geral de Massachusetts, Boston.
Pelo menos 15 Estados norte-americanos têm diretrizes para a administração da alergia alimentar nas escolas, e muitos cuidam de forma específica do bullying. As normas do Texas pedem "tolerância zero à intimidação ligada à alergia alimentar". Já as do Arizona sugerem que os bedéis sejam treinados a "intervir rapidamente para ajudar a impedir a troca de alimentos ou bullying" na cantina.
Bullying e provocação comum não são a mesma coisa. O que os distingue não é apenas a força diferencial entre as crianças, explicou Rashmi Shetgiri, pediatra e pesquisadora do Centro Médico Southwestern da Universidade do Texas, mas "alguém propositalmente tentando prejudicar outro".
Da mesma fora que os agressores cibernéticos usam equipamentos eletrônicos para machucar, os intimidadores da alergia alimentar "reafirmam a força utilizando o alérgeno", disse Shetgiri.             
FONTE:http://delas.ig.com.br/filhos/2013-06-25/pediatras-denunciam-bullying-envolvendo-alergia-alimentar.html

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Inspirados pela revolta turca, jovens engrossam passeatas pelo Brasil

Protestos tímidos pelo País contra o aumento das passagens ganharam grandes proporções em sintonia com Istambul ; passeatas ajudaram a reduzir a tarifa de ônibus em seis capitais


Gabriela Bilo/Futura Press
Manifestante e PMs em protesto contra o aumento das passagens
de ônibus, trens e metrô em SP

A causa é a redução no preço da passagem do ônibus. A inspiração é mais ambiciosa: as revoluções no mundo árabe ocorridas nos últimos anos e sua atualização com os protestos na Turquia, que no dia 31 de maio levaram milhares de pessoas a contestar a truculência governamental contra cidadãos que se opunham à derrubada de árvores para a construção de um shopping na Praça Taksim, em Istambul.
Em sintonia com o calendário turco, as manifestações contra o reajuste da tarifa, que já aconteciam desde janeiro no Brasil, ganharam força em maio e junho e culminaram nas cerca de 10 mil pessoas que saíram às ruas em São Paulo na última terça-feira (11), segundo estimativa dos manifestantes, e 5 mil, segundo números da polícia.
Assim como em Istambul, os manifestantes brasileiros mais entusiasmados saem de casa usando lenços sobre a boca e máscaras do personagem principal dos quadrinhos “V de Vingança”, que conta a história de um londrino revolucionário. “Usamos a máscara porque não se trata de uma reivindicação particular: quem olhar para o meu rosto vai enxergar o de muitos”, diz um manifestante que participou da passeata de terça. “O recado é que somos todos um.”
O cientista político e professor da PUC-SP Pedro Arruda diz que a Primavera Árabe e os acontecimentos na Turquia estimulam o imaginário dos jovens, que não saíam às ruas desde que pediram a saída de Fernando Collor de Mello da Presidência da República. Ele diz, no entanto, que as manifestações por aqui “ainda não questionam a estrutura de poder”. “O que a gente vê são protestos pelo direito de andar de bicicleta, ou contra a construção da usina Belo Monte, ou pela liberação da maconha. Essas passeatas são setoriais.”
Articulados desde 2005, os integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) citam as redes sociais e as revoluções pelo mundo como incentivo, mas dizem que há um trabalho de “conscientização” ocorrendo o ano todo pela periferia do Brasil. “Em M’Boi Mirim [na zona sul], a população já pede melhorias no terminal de ônibus e exigem uma estação de metrô”, diz o estudante Caio Martins Ferreira (19), do MPL. “As pessoas já sabiam dos protestos que estavam por vir.”


Em São Paulo, onde os manifestantes reuniram mais de 5 mil pessoas no último dia 10, o prefeito Fernando Haddad (PT) negociou com o governo federal para conseguir reajustar o valor abaixo da inflação acumulada desde 2011, quando houve a última correção. Em troca de adiar o reajuste para junho para poupar a inflação do primeiro trimestre, Haddad conseguiu do Planalto uma Medida Provisória (MP) que zerou as aliquotas do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) pagas por empresas de transporte coletivo urbano.
Como o PIS/Cofins são responsáveis por cerca de 3,75% do valor da passagem, ao zerar a cobrança a partir da data da sua publicação, dia 1º de junho, a MP 617 possibilitou que Haddad reajustasse em 7% as passagens, que foram de R$ 3,00 para R$ 3,20 e abriu as portas para todas as prefeituras do País reconsiderarem os valores em vigor. Em Manaus, o prefeito fez os cálculos e reajustou o valor para baixo de R$ 3,00 para R$ 2,90.
Desde 1994, quando o País adotou o Plano Real, São Paulo viu a tarifa saltar de R$ 0,50 para R$ 3,20. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no entanto, a inflação do período foi de 332,22%, o que colocaria a passagem em um patamar de R$ 2,16.
O principal argumento da MPL durante suas manifestações é um dado divulgado em 2010 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) segundo o qual 37 milhões de brasileiros não podem pagar pelo transporte público regularmente. “Cada aumento significa o aumento desse contingente”, diz Ferreira.
Ações na Justiça
Com a ida de milhares de pessoas às ruas, as manifestações chamaram a atenção de autoridades, como Tribunais de Conta e Ministério Público, que oficializam e judicializam as demandas dos movimentos sociais em vários municípios.
Em Porto Alegre, os protestos começaram em fevereiro contra o reajuste das passagens de ônibus de R$ 2,85 para R$ 3,05 e nas lotações de R$ 4,25 para R$ 4,50, aumento que aconteceu em março. Em meio às manifestações, no dia 4 de abril, uma liminar da Justiça do Rio Grande do Sul determinou a suspensão do aumento até que uma ação popular que questiona a legalidade do controle das empresas de transporte público na capital gaúcha seja julgada.
Na ação popular, protocolada em 2011, os vereadores Pedro Ruas e Fernanda Melchionna, ambos do PSOL e autores do processo, questionam a ausência de licitação para as concessionárias administrarem os ônibus em Porto Alegre.
Além da liminar, questionada na Justiça pelo Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa), o Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul (TCE-RS) emitiu uma medida cautelar obrigando as concessionárias a mudarem os critérios utilizados no aumento da passagem, que estaria supervalorizado. Segundo Ruas, as empresas de ônibus estariam trabalhando com uma taxa de lucro de 17% a 18%, mais que o dobro do que o determinado por lei, 6,72%.
O vereador se orgulha das manifestações que ocorreram na capital gaúcha e diz que já ouviu que o que está acontecendo em todo o Brasil é o “portoalegrasso”.
Após a decisão judicial e do apoio do Ministério Público de Contas em Porto Alegre, manifestantes em outras partes do País também começaram a contar com aliados de peso.
Em São Paulo, o Ministério Público Estadual interveio e tentou promover uma negociação entre os movimentos sociais e a prefeitura, que negou reconsiderar o aumento. Na Câmara Municipal da cidade, o vereador Ricardo Young (PPS) pediu para a SPTrans enviar para a Casa a tabela de custos, a mesma utilizada para reajustar o passe. A intenção é dar "transparência" nos gastos das empresas de ônibus da capital.
Em Goiânia, os protestos já aconteciam desde maio contra a futuro aumento da passagem. Apesar das reclamações, a tarifa subiu de R$ 2,70 para R$ 3 no dia 22. Em um protesto marcado para o dia seguinte, quatro estudantes foram presos. Com o aumento do número de participantes nas passeatas de junho, uma decisão liminar do juiz Fernando de Mello Xavier, da 1° Vara da Pública Estadual de Goiânia, suspendeu nesta o reajuste no último dia 10. A partir de amanhã (13), a tarifa volta a valer R$ 2,70.
Depois de uma manifestação em maio, os estudantes de Natal bloquearam a BR-101 e queimaram pneus em frente a um shopping no dia 6 de junho, embora tenha havido redução da tarifa. O valor saltou de R$ 2,20 para R$ 2,40, mas a isenção de impostos anunciada recentemente pelo governo federal reduziu a passagem em R$ 0,10 centavos – valor considerado insuficiente pelos estudantes, que querem a redução de outros R$ 0,10.
A mobilização também acontece no Rio de Janeiro. Também em maio, estudantes fecharam uma pista da avenida Presidente Vargas, no centro. Na última segunda-feira (10), a Polícia Militar prendeu 31 pessoas em uma manifestação que reuniu cerca de 500 pessoas.
Fórum Social Mundial 
Embora tremulem bandeiras do PSOL e do PSTU entre os cartazes que pedem a redução do preço da passagem de ônibus, os líderes das manifestações que ganharam as ruas desde 2003 se referem ao movimento como “livre” e “apartidário”. A representação seria tão independente que até a liderança da tradicional União Nacional dos Estudantes (UNE) foi rejeitada em nome de uma Federação fundada em 2006.
“Se estou falando com você agora não é porque sou líder, mas porque fui designado como porta-voz pela decisão da maioria”, explica Ferreira.
A Federação saiu do papel três anos depois da primeira revolta popular que inspirou o movimento. Em 2003, estudantes de Salvador bloquearam ruas e avenidas por dez dias. O grupo só se desfez quando a UNE e a União da Juventude Socialista (UJS) tentaram assumir a liderança. Na ocasião, o aumento não foi revogado, mas a prefeitura aprovou a meia-passagem para estudantes de pós-graduação e o uso da meia-passagem aos finais de semana.
Inspirados pelos baianos, Florianópolis irrompeu com a “Revolta da Catraca” no ano seguinte. Depois de uma semana de protestos, a prefeitura revogou o aumento da passagem, mas voltou a corrigi-lo do ano seguinte, gerando mais 30 dias de manifestações que resultaram no corte da tarifa.
Animados com os dois exemplos, estudantes de outras partes do Brasil iniciaram pequenos protestos. Em pouco tempo, esses jovens já conversavam entre si e marcaram um encontro no Fórum Social Mundial de 2005, quando ficou decidida a futura criação de uma organização que os reunisse. Em julho de 2006, um encontro nacional criou a Federação Movimento Passe Livre.
“Nós articulamos as datas de algumas manifestações, mas a organização das passeatas pertence aos representantes de cada cidade”, afirma o estudante. “Nossa interlocução aumenta em outubro, quando promovemos atos em conjunto.”
De lá para cá, os protestos ajudaram a baixar o valor da tarifa em 11 cidades. Além de Florianópolis no início do movimento, Aracajú (2012), Vitória (2006), Teresina (2011) e Porto Velho (2011) aceitaram as reivindicações. Em 2013 foi a vez de acontecer o mesmo em Taboão da Serra (SP), Porto Alegre, Goiânia e Natal. O último município a anunciar a medida foi Campinas, no interior de São Paulo, que na última quarta-feira (12) tirou R$ 0,10 da passagem, que agora custa R$ 3,20.

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2013-06-13/inspirados-pela-revolta-turca-jovens-engrossam-passeatas-pelo-brasil.html