sexta-feira, 17 de maio de 2013

Professor dá aula ao mesmo tempo para 1ª a 5ª série e serve merenda

Em alguns lugares, educadora é única funcionária e apoio vem das mães

Com apenas 21 anos de existência e aproximadamente 15 mil habitantes, o município de Epitaciolândia, no Acre, tem em suas escolas um retrato do que é a educação em parte do Brasil. Na cidade localizada a 250 km da capital Rio Branco há 24 escolas, sendo 16 em área rural e apenas oito na parte urbana. Em algumas delas, o professor é o único funcionário. Por isso, além de dar aula para todos os alunos do primeiro ao quinto ano na mesma sala, o docente precisa servir a merenda e até limpar a escola. A situação, por outro lado, cria afinidade com os moradores a ponto das próprias mães dos alunos auxiliarem no trabalho voluntariamente.
Arquivo pessoal
Escola multisseriada de Epitaciolância, no Acre, tem lousa
dividida para cada série

“Nessas pequenas escolas não tem merendeira, quem faz tudo é professor. São aquelas escolas que têm dificuldade de acesso, estão longe, isoladas. O professor trabalha sozinho. A comunidade até ajuda a fazer merenda, mas com voluntários. Lá é multisseriado, um professor dá aula para os alunos de 1ª a 5ª série na mesma sala. Isso tudo numa lousa, só com divisória. A qualidade do ensino cai. Enquanto poderia estar ensinando, tem que fazer outras coisas”, explica a secretária de educação do município, Eunice Maia Gondim, que assumiu o cargo no início de janeiro e participa pela primeira vez do 14º Fórum Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação , em Mata de São João, na Bahia
Por conta disso, a cidade começou a adotar o sistema de nucleação. Na prática, quatro escolas isoladas que atendiam em torno de 20 alunos cada são transferidas para um mesmo endereço. A distância aumenta, mas a qualidade das aulas melhora, segundo Eunice. Isso porque a união de diferentes colégios faz alcançar um número maior de estudantes, o que possibilita contratação de outros funcionários, como merendeira, segurança e auxiliar de limpeza. Além disso, as aulas deixam de ser multisseriadas.
“Temos o processo de nucleação. É uma escola grande que funciona como um núcleo das pequenas. Você pode colocar um projeto de lei e, se os vereadores aprovarem, passa a ser núcleo. Esses professores da zona rural então passam a ter os mesmos direitos dos professores da área urbana. Lá eles vão ter a merendeira, a servente, o auxiliar, o vigia. Nas escolas isoladas não têm o beneficio. No núcleo não é mais multisseriado. O professor vai trabalhar com uma só série por vez”, explica.
Apesar dos aspectos positivos, o núcleo ainda enfrenta a resistência dos moradores. Das 16 escolas em área rural que existiam no município, oito aceitaram a mudança. Por isso, foram transformadas em dois núcleos, com quatro cada. As outras oito escolas preferiram manter o sistema comum, multisseriado.
“As oito (escolas) que ficaram foi porque a população não aceitou pela preocupação com a questão de transporte. Foi porque, por exemplo, com o núcleo a gente tem que contratar ônibus adaptada com condição para levar os alunos. Tem algumas comunidades que ficam em ramal, que são áreas que não são asfaltas, que caminhão não entra. Tem que ser ônibus adaptado. Com o núcleo ogasto é maior, a distância é maior, mas o ensino é melhor”, compara a secretária.

*O repórter viajou a convite da Undime"

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-05-17/no-acre-professor-da-aula-ao-mesmo-tempo-para-1-a-5-serie-e-serve-merenda.html

sábado, 11 de maio de 2013

Educadores dos EUA apostam em online para suprir defasagem de alunos

Dificuldades por falta de conhecimento e custo de revisão levavam à desistência

 

Deslumbrados com a possibilidade de disponibilizar aulas universitárias online gratuitamente, educadores estão se voltando para a corajosa tarefa de conseguir reunir material online suficiente para enfrentar um dos desafios mais difíceis da educação superior americana: dar a mais estudantes acesso à faculdade e ajudá-los a se graduarem dentro do prazo estimado de duração de cada curso.
NYT
Sebastian Thrun executivo da Udacity que analisa se cursos online 
ajudam alunos a concluírem a graduação
Quase a metade de todos os estudantes dos Estados Unidos chegam ao campus precisando revisar alguns conceitos acadêmicos básicos, antes de poderem começar a propriamente frequentar as aulas. Essa revisão pode custar caro, levando muitos a desistirem de cursar a faculdade, muitas vezes com dívida estudantil e poucas perspectivas de emprego.
Enquanto isso, a redução dos orçamentos estaduais refletiram arduamente nas instituições públicas, reduzindo o número disponível de lugares nas aulas que são obrigatórias para que os alunos possam se graduar. Só na Califórnia, os cortes de ensino superior deixaram centenas de milhares de estudantes universitários sem acesso a classes que precisam cursar para se graduar.

Créditos para que mais alunos façam
 
Para lidar com ambos os problemas e incentivar os alunos a se graduarem, as universidades começaram a misturar em seus currículos novos cursos abertos online, criados para oferecer educação de alta qualidade a qualquer pessoa com uma conexão à Internet. Embora os cursos, conhecidos como Moocs, tenham tido milhares de matrículas de milhões de estudantes de todo o mundo, a maioria dos que se matriculam nunca sequer começam a fazer as lições disponibilizadas online e poucos completam os cursos. E por isso, para atingir os estudantes que não estão prontos para o trabalho de nível universitário ou que estejam tendo dificuldades com cursos introdutórios, as universidades estão começando a agregar mais apoio para os materiais online, na esperança de melhorar os índices de sucesso.
Na Universidade Estadual de São José, Califórnia, por exemplo, dois programas piloto uniram material das aulas online com o currículo normal de cada respectivo curso disponibilizado na universidade - e permitiram que os alunos ganhassem crédito ao cursá-los.
Em um programa piloto, a universidade está trabalhando com a Udacity, empresa co-fundada por um professor de Stanford, para ver se os mentores dos cursos online, contratados e treinados pela empresa, conseguiriam ajudar mais os alunos a terminarem três cursos básicos de matemática online.
A Universidade Estadual de São Jose já tem alcançado resultados notáveis com materiais online de EDX , um fornecedor online sem fins lucrativos, em seu curso de circuítos, um obstáculo de longa data para futuros engenheiros. Normalmente, 2 de cada 5 alunos recebem uma nota C e devem retomar o curso ou mudar seus planos de carreira. Então, na primavera passada, Ellen Junn, o reitor, visitou Anant Agarwal, um professor do MIT que lecionou uma versão online gratuita da aula de circuítos, para perguntar se a Universidade Estadual de São José poderia tornar-se um laboratório vivo para seu curso, a primeira oferta da EDX, uma colaboração online entre a Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.
Junn esperava que ao misturar materiais online do MIT, com as matérias lecionadas na sala de aula física poderia ajudar a mais alunos serem bem sucedidos no curso. Agarwal, presidente da EDS, aceitou com entusiasmo, e sem qualquer acordo formal ou troca de dinheiro, fez com que a Universidade Estadual de São José pudesse disponibilizar o conceito em suas classes no ano passado.
Os resultados foram surpreendentes: 91% das pessoas que cursaram as aulas misturadas passaram, em comparação com 59% que frequentaram apenas aulas tradicionais.
É difícil dizer, no entanto, quanto dos melhores resultados são provenientes dos materiais online de EDX, e quantos provem da mudança para as sessões em sala de aula com foco em pequenos projetos em grupo, ao invés de palestras.
Até o momento, tem havido poucos dados se os cursos online realmente funcionam, e para quais tipos de alunos. Cursos mistos fornecem valiosos dados de pesquisa porque os resultados podem ser facilmente comparados com os de uma classe tradicional.
Os cursos online estão inegavelmente testando os limites tradicionais do ensino superior. Até agora, a maioria dos milhões de estudantes que se inscreveram neles não ganhavam crédito por estarem cursando-os. Mas isso está mudando, e não apenas na Universidade Estadual de São José. Os três principais fornecedores, Udacity, EDX e Coursera, são todos oferecendo testes monitorados, e em alguns casos, com certificação pela transferência de crédito através do Conselho Americano de Educação.
Enquanto os professores da Universidade Estadual de São José decidiam que tipo de material deveria ser coberto nos três cursos de matemática oferecidos pela Udacity, foram os empregados da Udacity que determinaram como seria a proposta do curso.
"Nós providenciamos anotações das aula e um livro de exercícios, e eles fizeram o que acharam melhor, escreveram o roteiro, e nós o editamos ", disse Susan McClory, coordenadora de desenvolvimento do curso de matemática da Universidade Estadual de São José. "Nós nos certificamos que eles utilizaram nossa maneira para encontrar um denominador comum."
Os resultados da versão para-crédito do curso online com os mentores não ficará claro até o término dos exames finais, que serão supervisionados por webcam.
Mas, com tantos alunos sem acesso a estes cursos, outros disseram, serão necessárias novas alternativas.
"Eu estou envolvido neste projeto, mas não pretendo destruir as universidades físicas e sim para aumentar o acesso de mais estudantes", disse Ronald Rogers, um professor de estatística na Universidade Estadual de São José .
E se vídeos e questionários com feedback instantâneo possam melhorar os resultados dos alunos, por que então seria necessário que os professores continuassem a escrever e preparar suas próprias palestras em sala de aula?
"O nosso ego sempre acaba nos fazendo pensar de que podemos fazê-lo melhor do que qualquer outra pessoa no mundo", disse Khosrow Ghadiri, um professor que leciona um curso misto. "Mas por que deveríamos inventar a roda 10,000 vezes? Este é o MIT, a melhor universidade do país - por que alguém não iria querer usufruir de seu material "?
Há, segundo ele, duas maneiras de pensar sobre o que a revolução dos cursos mistos significa: "Uma maneira é pensar eu, eu, eu – eu venho em primeiro lugar. A outra é que nós não estamos aqui para lecionar a nós mesmos, estamos aqui para educar os alunos. "

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-05-11/educadores-dos-eua-apostam-em-online-para-suprir-defasagem-de-alunos.html

 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Bonecas são para meninos? Em algumas escolas, sim

Grupo de escolas estimula livre forma de brincar para promover infância sem os estereótipos masculino e feminino, um dos desafios para construir uma sociedade menos machista


Getty Images
Menino segura boneca em Phnom Penh, Camboja
(foto ilustrativa/ 24/02/2003)


No salão de cabeleireiro de mentirinha, João Pontes, de 4 anos, penteia a professora, usa o secador no cabelo de uma coleguinha e maquia a outra, concentradíssimo na função. Menos de cinco minutos depois, João está do outro lado da sala, em um round de luta com o colega Artur Bomfim, de 5 anos, que há pouco brincava de casinha.                           
Nos cantos da brincadeira do Colégio Equipe, na zona oeste de São Paulo, não há brinquedo de menino ou de menina. Todos os alunos da educação infantil - com idade entre 3 e 5 anos - transitam da boneca ao carrinho sem nenhuma cerimônia.
"O objetivo é deixar todas as opções à disposição e não estimular nenhum tipo de escolha sexista. Acreditamos que, ao não fazer essa distinção de gênero, ajudamos a derrubar essa dicotomia entre o que é tarefa de mulher e o que é atividade de homem", explica a coordenadora pedagógica de Educação Infantil do Equipe, Luciana Gamero.
Trata-se de um "jogo simbólico", atividade curricular da educação infantil adotado por um grupo de escolas que acredita que ali é o espaço apropriado para quebrar alguns paradigmas. A livre forma de brincar visa a promover uma infância sem os estereótipos de gênero - masculino e feminino -, um dos desafios para construir uma sociedade menos machista.
"Temos uma civilização ainda muito firmada na questão do gênero e isso se manifesta de forma sutil. Quando uma mulher está grávida, se ela não sabe o sexo da criança, compra tudo amarelinho ou verde", afirma Claudia Cristina Siqueira Silva, diretora pedagógica do Colégio Sidarta. "Nesse contexto, a tendência é de que a criança, desde pequena, reproduza a visão de que menino não usa cor de rosa e menina não gosta de azul."
Por isso, no colégio em que dirige, na Granja Viana, o foco são as chamadas brincadeiras não estruturadas, em que objetos se transformam em qualquer coisa, a depender da criatividade da criança. Um toco de madeira, por exemplo, pode ser uma boneca, um cavalo ou um carrinho. "Quanto menos referência ao literal o brinquedo tiver, menos espaço haverá para o reforço social", diz Claudia.
A reprodução dos estereótipos acontece até nas famílias que se enxergam mais liberais. Ela conta que recentemente, em uma brincadeira sobre hábitos indígenas, um menino passou batom nos lábios. Quando a mãe chegou para buscá-lo, falou de pronto: "Não quero nem ver quando seu pai vir isso."
"Podia ser o fim da experimentação sem preconceitos, que não tem qualquer relação com orientação sexual. Os adultos, ao não entender, tolhem essa liberdade de brincar por uma 'precaução' sem fundamento", afirma Claudia.
Visão de gênero
Se durante a primeira infância esses estímulos são introjetados sem que a criança se dê conta, ao crescer um pouquinho - a partir dos 5 anos -, elas já expressam conscientemente a visão estereotipada que têm de gênero.
No Colégio Santa Maria, no momento de jogar futebol, os meninos tentavam brincar apenas entre eles, não permitindo que as meninas participassem. Foi a hora de intervir. "Explicamos que não deveria ser assim e começamos a propor, por exemplo, que os meninos fossem os cozinheiros de uma das brincadeiras", diz Cássia Aparecida José Oliveira, orientadora da pré-escola da instituição.
Na oficina de pintura, todos foram convidados a usar só lápis cor de rosa - convite recusado por alguns. "Muitos falam 'eu não vou brincar disso porque meu pai diz que não é coisa de menino'. Nesses casos, a gente conversa com a família. Entre os convocados, os pais de meninos são a maioria. Um menino gostar de balé é sempre pior do que uma menina querer jogar futebol. E, se não combatemos isso, criamos uma sociedade machista e homofóbica."
O embate é árduo e é preciso perseverança. Mesmo no Colégio Equipe, aquele em que as crianças se alternam entre o cabeleireiro e o escritório, alguns comentários demonstram que a simulação da casinha é um primeiro passo na construção de um mundo menos machista. O pequeno Artur, de 5 anos, se anima ao participar da brincadeira. Mas, em um dado momento do faz de conta, olha bem para a coleguinha e avisa: "Eu sou o marido. Vou sair para trabalhar. Você fica em casa."

FONTE:http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2013-05-05/bonecas-sao-para-meninos-em-algumas-escolas-sim.html