terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Reduzir o desperdício de tempo em sala: uma forma barata de melhorar o ensino

Melhorar a educação nem sempre exige soluções mirabolantes ou programas milionários. Algumas soluções são simples e baratas podem ter um impacto positivo no aprendizado. Uma delas é aumentar o aproveitamento do tempo do professor em sala de aula. E um novo estudo do Banco Mundial identificou um caso bem-sucedido no Brasil.

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Em 2014, a Fundação Lemann fez uma parceria com o governo do Ceará para aumentar o tempo dedicado ao ensino propriamente dito. A ideia foi oferecer consultoria aos coordenadores pedagógicos e incentivá-los a avaliar o desempenho dos professores de forma contínua.
O problema que o projeto tentava resolver é real: em 2015, um estudo do Banco Mundial com foco na América Latina mostrou que os alunos perdem o equivalente a um dia de aula por semana devido ao mau aproveitamento do tempo em sala de aula – seja pela ausência temporária do professor ou pelos minutos a mais gastos na chamada ou na limpeza do quadro negro. 
O primeiro passo do programa foi uma avaliação do uso do tempo nas escolas, feita ao fim de 2014. Depois, os coordenadores pedagógicos participaram de três dias de treinamento com coaches (ou orientadores), além de pelo menos duas sessões via Skype ao longo do ano. Eles também tinham acesso a um site com orientações para o planejamento de aulas – lá, também podiam compartilhar vídeos de suas reuniões com professores, para receber recomendações dos orientadores. 
Ao todo, 156 escolas cearenses foram escolhidas (de forma aleatória) para participar do programa. Para permitir uma comparação, também foram avaliadas 136 escolas em que o projeto não foi implementado. 
O resultado, ao fim de um ano, mostrou que, nas escolas em que o método foi aplicado, o tempo produtivo da aula era de 76%. Nas demais, 70%. Isso equivale a 59 horas, ou duas semanas a mais, de aulas por ano. 
O programa também parece ter gerado um pequeno aumento na participação dos alunos nas atividades de sala. E o mais importante: o desempenho dos estudantes melhorou. Nas escolas em que o programa foi implementado, os alunos obtiveram, em média, quatro pontos a mais em matemática e dois pontos a mais em português no SPAECE, que avalia o desempenho dos alunos no estado. No Enem, a média foi quatro pontos maior em português e cinco pontos maior em matemática. 
Um estudo sobre o programa, publicado em janeiro pelo Banco Mundial, concluiu que o método é viável economicamente, com um custo de aproximadamente 8 reais por aluno. “Essa avaliação de impacto mostrou que o progresso verdadeiro é possível, mesmo em apenas um ano escolar. Também mostrou que existem formas economicamente viáveis de treinar os professores e melhorar o aprendizado do alunos”, apontou o documento.

Brasileiro é finalista do prêmio de melhor professor do mundo

Um brasileiro está entre os dez finalistas do Global Teacher Prize, a competição anual que escolhe o melhor professor do mundo. 


Diego Mahfouz Faria Lima: exemplo | Reprodução / Global Teacher Prize
O escolhido é Diego Mahfouz Faria Lima, diretor da Escola Municipal Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto (SP).  Ele foi selecionado dentre mais de 30 mil inscritos de 173 países. 
O projeto que levou Diego à indicação foi o "Minha escola: reconstrução coletiva", que reduziu os altos índices de criminalidade e evasão na escola que ele dirige.  
Segundo a organização do prêmio, o diretor obteve bons resultados em apenas um ano por meio da promoção de atividades culturais, esportivas e de lazer para toda a comunidade, além de ter implementado uma gestão democrática da escola. 
“No meu prmeiro dia de trabalho, colocaram fogo no banheiro, jogaram água em mim”, diz ele, no vídeo divulgado pela organização do evento. 
 O programa também incluiu a mediação de conflitos entre estudantes, um mutirão para reformar o prédio – com a participação dos pais – e a criação de um sistema de controle de faltas para prevenir casos de abandono. “Quando eles faltam eu vou até a casa deles para ver por que faltaram e também demonstrar que nós sentimos falta deles na escola”, diz ele, no vídeo. 
O anúncio dos finalistas foi feito por Bill Gates, fundador da Microsoft. “Os finalistas foram selecionados baseados em um conjunto rigorosos de critérios, incluindo a eficácia comprovada em motivar o estudantes e ajudá-los a aprender", afirmou ele.
O vencedor será anunciado em Dubai, nos Emirados Árabes, no dia 18 de março. O prêmio de 1 milhão de dólares é concedido pela Varkey Foundation, com sede no Reino Unido.
Diego concorrerá com professores de Turquia, África do Sul, Colômbia, Filipinas, Estados Unidos, Bélgica, Austrália, Reino Unido e Noruega.




Não faça o teste “Qual Seria A Sua Aparência Se Você Fosse Do Gênero Oposto?”

Foto de banco de imagens aplicada a teste do Kueez.

Importante lembrete da Tatiana Dias :



não custa lembrar: toda vez que você faz um desses testes obscuros no facebook você concorda em ceder pra sempre suas infos pessoais, lista de amigos, contatos, TODAS as suas fotos, etc etc pra uma empresa sobre a qual você nunca ouviu falar.
podem estar fazendo um grande banco de imagens com fins de vigilância digno das piores distopias, podem estar só criando um enorme mailing pra encher o nosso saco de spam depois. em qualquer um dos cenários: melhor não.
Nos últimos anos, o Facebook diminuiu um pouco o alcance do que apps podem fazer com os dados dos usuários, mas ele ainda entrega bastante informação — suficiente para dissuadir qualquer um bem informado de se submeter a testes como esses testes de personalidade e outros conteúdos interativos. Coisas como nome, endereço de e-mail, data de aniversário e fotos ainda podem ser obtidas pelos apps que usam o Facebook para autenticação.
Especificamente sobre o “Qual Seria A Sua Aparência Se Você Fosse Do Gênero Oposto?”, o Olhar Digital analisou a política de privacidade do site Kueez, responsável pelo aplicativo. Sem surpresa, é bastante invasiva. Ele se apropria de informações pessoais, de todas as suas fotos e traz trechos orwellianos, como:
Nós podemos compartilhar suas informações pessoais parcial ou integralmente com nossas subsidiárias, outros sites operados por nós, joint ventures e outros afiliados confiáveis que nós temos ou possamos vir a ter no futuro.
De acordo com o nosso Termo de Serviços, podemos usar o conteúdo enviado por você (incluindo suas fotos e de outras pessoas vinculadas à sua conta no Facebook) para aparecer como parte integral de partes dos serviços que oferecemos (por exemplo, sua foto pode aparecer em alguns quizzes ou games até mesmo para pessoas que você não conheça).
Se a curiosidade for muito grande, e entendo que ela possa ser, minimize o estrago usando o aplicativo de quem o site Kueez empresta a tecnologia para processar as imagens. É o FaceApp, que embora não seja um pilar da privacidade, pelo menos não vincula o uso ao Facebook e obtém dados de lá.

Por que postar fotos dos filhos com uniforme escolar é perigoso


A época de volta às aulas é sempre marcada por fotos em que crianças e adolescentes retratam a alegria de reencontrar amigos, mostrar o uniforme novo ou contar sobre a nova escola. É nessa época também que os pais, orgulhosos do novo momento,  também postam nas redes sociais imagens dos filhos, principalmente quando os alunos estão iniciando a vida escolar. Mas a prática esconde um aspecto negativo e perigoso: na internet, a informação acaba virando farto material para pessoas mal intencionadas.
“Virou um hábito as pessoas registrarem cada passo, marcando lugares, datas e pessoas com quem convivem”, reforça o delegado Demétrius Gonzaga de Oliveira, do Nuciber (Núcleo de Combate aos Cibercrimes), da Polícia Civil do Paraná. No caso das fotos com uniforme escolar, o delegado diz que os criminosos podem detectar a região onde o colégio está, e pelas fotos,  identificar quem é o estudante. “Evidentemente existe um risco muito grande nisso, porque assim como pessoas de bem estão vendo as postagens, os criminosos também têm acesso”.
“Da foto com o uniforme ou um check-in nas proximidades do colégio, um bandido já sabe parte da rotina de um jovem e até como encontrar a criança nos horários de saída. Em alguns casos, eles seguem o carro que busca o estudante, e aí ficam sabendo onde a família mora.”, diz Demétrius Gonzaga de Oliveira, delegado do Núcleo de Combate aos Cibercrimes.

O delegado comenta que, em geral, as pessoas não prestam atenção nisso, e que um criminoso consegue facilmente acessar as informações nas redes sociais, e rapidamente tem material pra analisar a rotina dos alvos. “Da foto com o uniformeou um check-in nas proximidades do colégio, um bandido já sabe parte da rotina de um jovem e até encontrar a criança nos horários de saída. Em alguns casos, eles seguem o carro que busca o estudante, e aí ficam sabendo onde a família mora”, explica.
Embora no Paraná estes casos não sejam tão comuns, o Nuciber trabalha na prevenção deste tipo de crime principalmente com palestras aos pais. “O cuidado principal depende da conscientização dos pais. É preciso ter mais campanhas mostrando os perigos e danos pelo acesso à internet sem controle. Não basta largar a tecnologia na mão e não orientar, porque o mundo virtual é um local onde bandidos conseguem coletar dados de qualquer natureza”, completa.
Privacidade
Uma maneira de tentar preservar as imagens é modificar as configurações de privacidade ao postar no Facebook, por exemplo. Na hora de postar, ajustar a publicação apenas para amigos e nunca público. O problema é que até entre os amigos da rede social pode ter uma pessoa que não é tão conhecida e acaba tendo acesso a dados da rotina da criança sem que os pais saibam.
Se registrar – e compartilhar – esse momento é importante para a família, o ideal é deixar as fotos entre as pessoas próximas, escolhendo modo privado de compartilhamento, como em grupos do Whatsapp, por exemplo, em que se tem certeza de quem participa. E ter sempre em mente que publicar fotos nas redes sociais é um risco iminente. Não há como controlar.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

E se o governo simplesmente deixasse de gastar com educação?

Se você pudesse estudar em Princeton sem ter um diploma ou ter um diploma sem nunca ir a Princeton, o que escolheria? 
 | Albari RosaGazeta do Povo


A pergunta é uma das provocações feitas em um livro recém-lançado que tem movimentado o debate sobre os sistemas de ensino. 
O argumento central de “Against Education – Why the Education System is a Waste of Time and Money” (em tradução livre “Contra a Educação – Por que o Sistema Educacional é um Desperdício de Tempo e Dinheiro”) é o de que o efeito da educação formal é fortemente superestimado: os alunos aprendem muito menos do que o sistema pressupõe, e melhor seria se eles se dedicassem a cursos mais úteis do que história da arte ou estudos sociais. 
Para Caplan, um libertário que dá aula de Economia na Georse Mason University, nos arredores de Washington, o governo não deveria sequer aplicar recursos na educação. 
A pergunta que incomodava o pesquisador era: por que pessoas com mais diplomas ganham mais dinheiro e são claramente privilegiadas pelo mercado, se na prática grande parte do conteúdo ensinado na escola e na faculdade tem pouca ou nenhuma aplicação prática no mercado de trabalho? 
A resposta: o fenômeno conhecido como “signaling” (sinalização). Não é que você tenha ficado muito mais inteligente por ter feito faculdade: é que, com o diploma, você comprova aos empregadores ter algumas características como a capacidade de lidar com assuntos chatos, cumprir tarefas e ir até o fim em projetos. São habilidades relevantes no mercado de trabalho, mas que poderiam ser aferidas de formas muito mais simples, em menos tempo (e dinheiro). 
O “signaling” já havia sido diagnosticado por outros economistas. Mas, para Caplan, o alcance dele é muito mais amplo do que se achava: ele acredita que até 80% da diferença salarial entre diplomados e não-diplomados é explicada por esse fenômeno. Os outros 20% poderiam ser atribuídos ao conteúdo aprendido em sala de aula.
Acreditar que a educação formal é o principal diferencial no aprendizado de alguém, diz ele, é acreditar ser possível se tornar um profissional de futebol apenas por treinar. É preciso ter habilidades, diz Caplan, e essas já existem independentemente da escola e da universidade. 
O autor acredita que as famílias e entidades beneficentes seriam capazes de sustentar um sistema educacional mais enxuto, racional e eficiente, sem os desperdícios e distorções típicos da burocracia estatal.
Caplan propõe, além do corte de recursos públicos, a substituição do modelo atual pela educação vocacional: os alunos devem aprender profissões práticas, de acordo com suas habilidades, em vez de estudar espanhol ou fórmulas matemáticas que serão esquecidas em pouco tempo – e jamais teriam aplicação prática na vida da maioria dos estudantes. 
De volta à pergunta original: se você pudesse frequentar Princeton por quatro anos sem ter um diploma ou ter um diploma sem nunca ir a Princeton, o que escolheria? 
Se o mercado de trabalho premiasse o conhecimento aprendido na faculdade, as pessoas deveriam escolher a primeira opção sem titubear. Mas certamente não é o caso. 
Existem muito mais pessoas que fraudam diplomas do que estudantes frequentando aulas de universidades secretamente, sem estarem matriculados, para obterem o conhecimento sem conquistarem um histórico escolar.  
Essa constatação corrobora, ao menos em parte às provocações de Caplan. E, embora sejam voltadas para o sistema educacional dos EUA, merecem ser levadas a sério também no Brasil.



Cinco formas pouco convencionais de aprender

A tecnologia e o acesso crescente à informação têm permitido uma variedade cada vez maior nas formas de aprender. Embora a escola tradicional não dê sinais de que vá ser substituída tão cedo, método alternativos ou complementares nunca foram tão acessíveis.

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Aplicativos e até games vêm sendo utilizados como alternativas para estimular a vontade de aprender.  A reportagem da Gazeta do Povo pesquisou métodos não tradicionais e iniciativas de aprendizagem criativa e soluções tecnológicas de ensino que estão ganhando a atenção no universo da educação. Conheça algumas delas.

1) YouTube EDU

O YouTube Edu é uma parceria da Fundação Lemann com o Google. A plataforma reúne conteúdos educacionais voltados a alunos dos Ensinos Fundamental e Médio, englobando as disciplinas: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências (Química, Física e Biologia), História, Geografia, Língua Espanhola e Língua Inglesa. 
Mais de 200 professores já ensinam alunos e inspiram outros educadores pelo YouTube Edu. Educadores utilizam uma linguagem divertida para estabelecer comunicação com os jovens e trazem exemplos que fazem parte do cotidiano dos alunos, como textos publicados nas redes sociais. 

2)Método de Estudo das Quatro Etapas

Formando em Filosofia e Direito, e especialista em desenvolvimento da autonomia no aprendizado, o professor Fábio Ribeiro Mendes desenvolveu o Método de Estudo das Quatro Etapas. As quatro etapas de estudo são a leitura panorâmica, a seleção e marcação de trechos relevantes, as anotações e a prática exercícios. 
O método foge das tradicionais aulas e conteúdos combinados com exercícios, provas e recuperação. Os estudantes precisam ser os protagonistas na aprendizagem, explica o educador. Segundo ele, o método é simples, intuitivo e pode ser aplicado em qualquer disciplina. Não há custos e o método pode ser facilmente aplicado nas escolas. 

3) Unschooling

Uma espécie mais radical de homeschooling. O unschooling é um método em substitução à escola, em que as crianças aprendem de acordo com suas aptidões. Uma das prioridades é valorizar os assuntos e as áreas de interesses das crianças. Ele é diferente do homeschooling porque, em vez de emular em casa o método de enisno escolar, permite que as crianças aprendam mais livremente, com base na experiência cotidiana e sem um currículo a ser seguido.

4) Hyper Island

Destoando do modelo tradicional acadêmico, sem aulas e provas, a filosofia desta escola é a de que o aluno deve “aprender fazendo”. Nos programas e cursos disponibilizados de mestrado e de extensão, que duram de um a dois anos, e cursos executivos, de apenas três dias, todos os projetos são realizados em grupos para valorizar a liderança e a capacidade de trabalhar em equipe. Os cursos estão disponíveis em vários lugares do mundo e, no Brasil, as opções estão em São Paulo

5) Programa!

Esta plataforma oferece planos de ensino aos professores interessados em incluir a programação no currículo dos alunos. De forma descomplicada, a proposta é mostrar aos jovens que qualquer um pode aprender a língua dos computadores para que possam criar um software ou aplicativo sem estudo formal em uma faculdade especializada. Todas as aulas são gratuitas, em português e não exigem nenhum conhecimento prévio em programação.

Violência (ao menos simbólica) nas escolas também pode partir de professor

"Violência faz parte do cotidiano da escola e pode estar presente em qualquer relação 
ou interação na comunidade escolar"

Violência faz parte do cotidiano da escola e pode estar presente em qualquer relação ou interação na comunidade escolar | Pexels.

Casos de violência já fazem parte do cotidiano escolar – agressões de estudantes contra professores ou colegas, depredação das escolas ou uso de armas na sala de aula são exemplos recorrentes. Um estudo realizado na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), porém, indica que a violência também está presente na escola de formas mais sutis, como por meio do abuso de autoridade de professores contra alunos. 

pesquisa realizada por Rachel Fernanda Matos dos Santos, do Programa de Pós Graduação em Serviço Social, analisou o que se denomina violência simbólica, ou violência institucional – atos abusivos de autoridade por parte dos professores e da escola. 
“A violência explícita são casos extremos em que o professor se aproveita de sua autoridade. Já a implícita é mais corriqueira: ela acontece quando o professor exerce seu poder de autoridade com punições excessivas, ameaças, formas de constrangimento, humilhações, que podem colocar o aluno na condição de vítima”, diz Andrea Ramal, doutora em Educação pela PUC-Rio. 
A violência simbólica é mais comum justamente por ser baseada em algum tipo de poder que faz parte do cotidiano e, por ser mais sutil, não acaba noticiada. 
“É velado, ‘invisível’ aos nossos olhos, pois o tipo de dominação que nele está envolvido é tido como parte da cultura, é legitimado pela sociedade, normalmente em relações hierárquicas, tais como professor-aluno ou direção-professor”, explica Dhayana I. Veiga, doutora em Psicologia e professora e pesquisadora da Universidade Positivo (UP). 
Segundo Dhayana, esse tipo de violência faz parte do cotidiano da escola e pode estar presente em qualquer relação ou interação na comunidade escolar. “Quaisquer situações em que alguém se vê obrigado a seguir ordens sem receber instruções adicionais, sem poder fazer perguntas ou emitir sua opinião pode estar diante de uma situação de violência”, exemplifica. 

Abuso de poder 

No estudo sobre o abuso de autoridade dos professores, Rachel investigou o cotidiano de estudantes do 2º ano do ensino médio em escolas de diferentes contextos sociais. A análise constatou que a maioria dos incidentes de violência nas escolas é atribuída aos alunos, o que faz com que a violência escolar seja associada à conduta dos alunos. 
Alguns dos mecanismos usados por docentes para agir com violência simbólica contra os alunos são o abuso da sua posição de poder e o uso de avaliações que buscam desqualificar os alunos e fazer com que eles se sintam incapazes ou inadequados. 
“Quantos de nós não tivemos que seguir regras impostas por um professor que nem mesmo ele era capaz de segui-las? Quantos não se sentiram injustiçados ao perceber que alguns de nossos colegas receberam privilégios, enquanto que outros, mesmo atuando de forma semelhante (ou até de maneira mais eficiente), jamais tiveram acesso a tais privilégios?”, diz Dhayana. 
De acordo com o estudo, professores se tornam violentos quando não conseguem se posicionar como uma autoridade positiva. A resposta dos alunos a essa autoridade negativa é uma resistência por meio de indisciplina e comportamento inadequado. 
Assim, o uso da violência simbólica pelos professores e pela escola pode levar a uma reprodução de comportamento violento pelos alunos. “A violência simbólica gera exclusão, descrença nas leis e na democracia, sentimentos de incapacidade, de fracasso e revolta e, consequentemente, mais violência”, explica Dhayane. 
Além disso, o desconforto causado nos alunos pode trazer consequências que afetam o desempenho dos estudantes e levá-los a abandonar a escola. “Em determinado estágio, essa violência simbólica pode até provocar a evasão escolar. Porque o aluno, quando constrangido ou humilhado, acaba deixando de frequentar as aulas”, aponta Andrea Ramal. “Pode prejudicar também a aprendizagem no sentido de motivação. O aluno pode acabar estudando e aprendendo menos”, completa. 
O comportamento violento pode ser evitado pelos professores com uma visão crítica das suas atitudes, segundo Dhayana. “É fundamental que o professor analise criticamente o impacto de suas próprias ações na equipe escolar, em sala de aula e que ele mantenha-se sempre informado sobre os direitos de seus alunos e de sua própria cidadania. Conheça seu aluno.” 
O combate à violência entre os alunos também é uma estratégia para os professores. Segundo Andrea, é papel do educador proporcionar a formação de valores e construir um conceito de tranquilidade e paz na sala de aula. “Quando vê uma agressão de aluno para aluno, o professor não deveria tolerar isso. A melhor maneira é interromper a aula e discutir o que aconteceu, trazer todo o tipo de informação voltada para a tolerância, respeito às diferenças e um clima de qualidade.”