segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Quando, também na escola, se dialoga sobre as religiões


(Imagem: Divulgação) (Imagem: Divulgação)








Temos percebido uma crescente preocupação acerca do papel social da escola e da educação que acontece neste espaço-tempo.
Numa perspectiva de sociedade apassivada pelos grandes meios de comunicação social, seria mais fácil imaginar a escolarização como processo de adaptação ou preparação a um modelo de convivência sem autorias, sem decisões, sem questionamentos…
Usa-se, até, a pretensa possibilidade de neutralidade para o conhecimento científico como ideal a ser buscado por todos os que atuam com as novas gerações, ao longo da Educação Básica.
Contudo, além de todo conhecimento humano ser marcado pelos tempos, culturas, crenças e possibilidades reais, – por exemplo, o geocentrismo baseado nas empíricas observações da humanidade durante a maior parte da história – reconhece-se, explicitamente, este conhecimento como precário, sujeito a revisões, relativo às condições de determinado momento científico, cultural e, inclusive, ideológico.
No que toca tão intimamente a vida das pessoas como as suas crenças religiosas – significados últimos de seu existir, seus valores mais profundos, suas convicções e sentido do viver – lidamos com um cenário ainda mais complexo.  Seria mais fácil vincular a escola e sua função pública com uma obrigação de não se tratar ali assuntos relacionados às convicções pessoais e familiares. Aos que advogam uma interpretação restrita à ideia da laicidade da escola, especialmente a escola mantida diretamente pelos órgãos federativos, parece fácil justificar a ausência das discussões sobre religião, sobre as tradições religiosas e o necessário diálogo entre elas.
O discurso de muitos reduz a questão das religiões ao foro íntimo das pessoas, defendendo que as construções culturais que chamamos de tradições religiosas não tivessem nenhum papel na sociedade e na real possibilidade/urgência de vivermos em paz.
Meu posicionamento como educador, tanto na questão geral da falaciosa neutralidade do conhecimento quanto na pretendida ausência das questões religiosas, é claro e transparente: a escola, mantida diretamente pelo Estado ou por outras entidades da sociedade, deve ser espaço-tempo de troca, de diálogo, de construção de conhecimentos, de abertura ao diverso, de discussão, de debate, de ampliação de horizontes. Será sempre, por seus professores, alunos, especialistas em educação, pessoal de apoio, famílias e comunidade do território, instância social apropriada para a discussão, para a respeitosa convivência da diferença, para a desafiadora tarefa de aprender e dialogar com o novo.
FONTE: *Artigo escrito por Ascânio João Sedrez (Chico), Diretor do Colégio Marista Glória, da Rede de Colégios do Grupo Marista. O Grupo Marista é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no BLOG EDUCAÇÂO E MÍDIA.

A EDUCAÇÃO EM "PONTO MORTO " ?


(Foto: Divulgação)(Foto: Divulgação)








Não houve avanços na qualidade da educação básica brasileira, segundo o resultado da avaliação realizada com 70 países, que posicionou o Brasil na constrangedora 65ª posição. Estamos à frente apenas da Argélia, Tunísia, República Dominicana e de duas ex-repúblicas da antiga Iugoslávia, Macedônia e Kosovo.
Os dados são do Pisa, realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia, a cada três anos, o que sabem os adolescentes entre 15 e 16 anos, no que diz respeito à leitura, matemática e às ciências.
Essa revelação envergonha e preocupa. Mais de 70% dos estudantes brasileiros não atingiram o nível 2 de ensino, numa escala que vai de 0 a 6. A pesquisa mostra mais uma vez como o país não está fazendo o dever de casa, ao deixar de priorizar a educação, maior alavanca do desenvolvimento humano e, por conseguinte, econômico e social.
Os números negativos, se devidamente mapeados, podem ajudar a lançar luzes sobre como podemos virar o jogo e ainda servir como bússola orientadora do caminho a ser percorrido. Simples? Nem um pouco, dada a nossa dimensão geográfica de proporções continentais, retalhada por toda a sorte de desigualdades. Mas, não há dúvidas que podemos fazer melhor.
Essa guinada necessita de um movimento da nação que promova um diálogo sério e comprometido com a implementação de mudanças, no menor espaço de tempo possível, envolvendo profissionais da educação e instâncias governamentais de todas as esferas.
Está cada vez mais claro que o professor em sala de aula precisa aperfeiçoar metodologias de ensino para assegurar o direto de aprender. Deve ser capaz de fazer qualquer aluno aprender, potencializando os conhecimentos anteriores e paralelos em favor da construção de sentido e significado para o que se pretende ensinar de novo. Mas, como identificar os espaços de melhoria da atuação docente?
O Programa Descoberta, inspirado em uma iniciativa da Fundação Bill & Melinda Gates que contou com a participação direta de pesquisadores das mais renomadas universidades norte-americanas, como Harvard, Chicago, Stanford, no Brasil capitaneado pelo Grupo Positivo, é uma das inciativas desenhadas para esse fim.
Os professores são avaliados em plena sala de aula por outros professores e pelos próprios alunos. O programa mostra uma relação direta entre a performance dos professores e o rendimento dos estudantes acerca do que se pretende que os alunos aprendam com a intervenção pedagógica.
Os alunos também precisam fazer a sua parte. Precisam se assumir na profissão de estudante. No Brasil, quando se pergunta para dona de casa e estudante, qual a sua profissão, normalmente a resposta é: eu não trabalho! Essa mentalidade atrapalha o empenho e a seriedade que essas funções desempenham na sociedade. As políticas públicas também têm papel fundamental nesse salto qualitativo que precisamos empreender. Revisar a base curricular nacional, sua coerência e coesão com nosso tempo, aproximando o que se pretende ensinar ao dia a dia desse estudante, a fim de que se amplie os horizontes de atuação desses jovens no mundo.
O gosto pela investigação, a curiosidade, são características humanas que devem fertilizar as estratégias para aprender, além de serem cultivadas pelo professor pelo fato de ser a base do pensamento criativo, tão exigido no mundo do trabalho. Não faltam meios para isso, desde o olhar atento do professor à participação de cada um em sala de aula até o incremento de linguagens contemporâneas oferecidas pela tecnologia que aproxima o mundo do estudante ao mundo da escola, fazendo com que ele se sinta considerado no planejamento das aulas.
Para aprender é necessário querer. Mais do que isso, é necessário ter coragem! O que move o corpo, antes aquece o coração. O professor, precisa, portanto, tocar esse aluno, entendendo que seu trabalho está a serviço da formação de cidadãos críticos e inovadores. Gente humanizada que pensa e age, integrando conhecimentos em favor de soluções sustentáveis para um mundo melhor.
Sem levar em conta essas premissas, o Pisa parece indicar um cenário desolador, de poucas perspectivas. Mas ainda bem que não é só isso. Como ressaltamos, já existem ações testadas que podem ajudar a mudar o panorama. É um equívoco descartar todas as contribuições que os diferentes tempos da educação nos proporcionaram. Mas, os tempos são outros e exige de todos velocidade, direção e objetivos claros, a partir de diagnósticos como esse.
O desafio começa acreditando que não se pode continuar ensinando da forma como os professores aprenderam. O novo mundo suscita novas formas de interação humana. Isso envolve o engajamento da sala de aula com a era tecnológica, mudanças no cenário educacional, por meio da revisão da base curricular e novas posturas de atuação de professores e estudantes.
É preciso trabalhar sob a seguinte constatação: é preciso reinventar a forma de ensinar para que não se perca o desejo de aprender, sempre mais e melhor sobre o mundo que nos cerca. E, certamente, o ensino tradicional com foco na exposição verbal, lista de exercícios, repetição e memorização, não dará conta de garantir a relevância da escola no cenário atual.

FONTE: *Acedriana Vicente é diretora pedagógica da Editora Positivo. O Positivo é associado ao Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR), colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.