![Algumas marcas foram acusadas de usar a imagem de meninas como objetos sexuais no Chile - Getty Images](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/86/2020/02/15/algumas-marcas-foram-acusadas-de-usar-a-imagem-de-meninas-como-objetos-sexuais-no-chile-1581783879696_v2_900x506.jpg)
O caso da Monarch não é isolado: em meio a um intenso debate nas redes sociais surgiram mais fotografias usadas em propagandas escolares de outras marcas, como Mota ou C/Moran, e que geraram discussões sobre uma possível erotização infantil no Chile. Meninas expondo a roupa de baixo enquanto olham para a câmera com as mãos na cintura ou adolescentes que mostram as pernas em posições sensuais em propagandas de sapatos são algumas das imagens que ganharam o centro da polêmica.
"Não se deve tolerar"
Autoridades políticas e coletivos feministas apontaram que, em muitas situações, publicitários expõem as imagens das meninas como "objetos sexuais". "As pessoas não devem ser retratadas como objetos sexuais e casos como esse estão no limite", disse a uma rádio local a ministra do Desenvolvimento Social e Familiar, Carol Bown. "É impressionante que as empresas não tenham notado", acrescentou.
Por sua vez, a diretora da defensoria da infância do Chile, Patricia Muñoz, disse que esse tipo de publicidade "não deve ser tolerado" para garantir a proteção efetiva dos direitos das crianças e adolescentes envolvidos nas campanhas. O órgão liderado por Muñoz enviou uma denúncia ao Conselho de Auto-Regulação e Ética em Publicidade contra as marcas envolvidas. O debate também abriu as portas para a discussão sobre a eficácia da "auto-regulação" da indústria do marketing. Para alguns, como a deputada Camila Vallejo, a aprovação de projetos para resguardar menores de idade seria cada vez mais importante.
"A indústria da publicidade e a mídia devem entender que o sexismo e a hipersexualização das crianças não são OK!", disse a deputada pelo Twitter, A pressão sobre as marcas cresceu tanto nos últimos dias que a empresa Monarch anunciou que retirará a polêmica fotografia da garota de todas as suas lojas. "De forma nenhuma, o objetivo desta imagem foi provocar o que foi interpretado e lamentamos o que aconteceu. Isso não representa nosso pensamento como empresa e, portanto, estamos tomando medidas imediatas nesse sentido, começando pela revisão dos protocolos com as agências envolvidas", disse a companhia. O mesmo aconteceu com a empresa C / Moran, que pediu desculpas e removeu as fotografias que expunham meninas ou adolescentes.
"Pedofilia corporativa"
Para além da controvérsia no Chile, a que se refere especificamente o conceito de "hipersexualização infantil"? O que as marcas buscam com este recurso e quais podem ser suas consequências? Nas últimas duas décadas, várias instituições em todo o mundo abordaram esse problema, tentando explicar como ele se tornou uma tendência comum em materiais de publicidade e marketing.
![Através da publicidade, muitas meninas são impostas padrões adultos e, em seguida, desejam usar roupas ou maquiagem inapropriadas para suas idades - Getty Images](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/70/2020/02/15/atraves-da-publicidade-muitas-meninas-sao-impostas-padroes-adultos-e-em-seguida-desejam-usar-roupas-ou-maquiagem-inapropriadas-para-suas-idades-1581783971905_v2_750x1.jpg)
Através da publicidade, muitas meninas são impostas padrões adultos e, em seguida,
desejam usar roupas ou maquiagem inapropriadas para suas idades
Imagem: Getty Images.
O conceito - definido como a sexualização de expressões, posturas e roupas para fazer uma criança parecer mais velha do que realmente é - também foi descrito como "pedofilia corporativa". De acordo com a psicóloga infantil Susana Saravia, o que as marcas procuram é "transmitir um caráter sexual por meio de um comportamento, conduta ou atitude de uma criança que não seja adequado à sua idade, quando ela deveria estar brincando ou se divertindo com os amigos".
"Assim, as crianças são impostas a uma sexualidade adulta que é prejudicial, porque não estão preparadas nem física, nem emocionalmente para isso", disse Saravia à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC. As consequências podem ser complexas, explica a psicóloga. Por exemplo, ao reforçar atributos físicos, as crianças podem desenvolver distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia, ou insegurança.
"A mídia e as redes sociais há muito tempo transmitem um estereótipo de beleza associado ao físico, à magreza, e essas informações chegam aos adolescentes em um período em que estão passando por mudanças físicas muito importantes", diz ela.
![Ao reforçar o valor do físico nas campanhas publicitárias, as crianças podem desenvolver distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia. - Getty Images](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/53/2020/02/15/ao-reforcar-o-valor-do-fisico-nas-campanhas-publicitarias-as-criancas-podem-desenvolver-disturbios-alimentares-como-anorexia-e-bulimia-1581784114679_v2_750x1.jpg)
Ao reforçar o valor do físico nas campanhas publicitárias, as crianças podem
desenvolver distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia.
Imagem: Getty Images.
No caso do Chile, a especialista diz que as mulheres são as mais afetadas.
"Estamos em uma sociedade que reforça o valor do físico principalmente nas mulheres: como elas devem fisicamente para que sejam bem-sucedidas. Parte disso está relacionado a estereótipos que estão sendo construídos socialmente", diz ela. Susana Saravia acredita que seja necessário regular a publicidade. Para ela, o episódio polêmico mostra que marcas "usam a imagem de garotas para vender, conquistar seguidores e atrair clientes" sem considerar os efeitos negativos que isso pode trazer para a população.
FONTE:https://educacao.uol.com.br/noticias/bbc/2020/02/15/pedofilia-publicidade-com-meninas-hipersexualizadas-gera-polemica-no-chile.htm
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