Ideia era que estudantes da rede municipal pudessem levar disciplinas para o ano seguinte para não ter de repetir série
Um dos pontos mais polêmicos do plano Mais Educação, série de medidas apresentadas pela Prefeitura de São Paulo para melhorar o ensino nas escolas da rede municipal, deve ser deixado de lado após o programa ficar aberto a consulta pública. A ideia que “converge” para ser descartada é a que possibilitaria o estudante do ensino fundamental de ficar de dependência de algumas disciplinas no ano seguinte sem precisar passar pela repetência.
O consenso surgiu após a Secretaria Municipal de Educação analisar, nos últimos 15 dias, as opiniões e críticas que recebeu sobre o Mais Educação. “Seria muito difícil viabilizar a dependência e foi quase unânime (na consulta pública) que seria inútil também carregar uma disciplina para o ano seguinte. Na opinião das pessoas, se algo tiver que ser resolvido em relação a alguma deficiência do aluno, que isto seja solucionado naquele ano mesmo, que o estudante não tenha que carregar nada para o ano seguinte. (...) Todas as opiniões (no governo) convergem para isso”, disse o secretário de educação, Cesar Callegari, ao iG .
Fabiana Carvalho/MEC
César Callegari vai deixar a Secretaria de Educação Básica do
Ministério da Educação até o fim do ano
Na reorganização do ensino fundamental que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, anunciou em agosto, a secretaria de Educação vai alterar os ciclos e aumentar a possibilidade de repetência. Atualmente, os alunos podem ficar retidos apenas no 5º ano e no 9º ano. Na nova configuração, haverá três ciclos: de alfabetização (1º ao 3º ano), interdisciplinar (4º ao 6º ano) e autoral (7º ao 9º ano). Ao final do primeiro, segundo e na 7ª, 8ª e 9ª série do terceiro ciclo, aqueles que não aprenderam o mínimo que deveriam podem repetir de ano.
Embora o número de anos em que pode haver retenção tenha sido ampliado de dois para cinco, Callegari respondeu de maneira otimista quando perguntado sobre a possibilidade dos números de reprovados aumentarem depois que o Mais Educação começar a valer. “Não vai ter reprovação, vocês vão ver”, respondeu de forma bem-humorada. As novas diretrizes serão implementadas na rede a partir do ano que vem. Essa é a mais profunda transformação no modelo educacional da cidade desde que o sistema de progressão continuada foi implementado, há 21 anos.
Os três ciclos
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, objetivo do primeiro ciclo (1º ao 3º ano) é garantir que todas as crianças estejam alfabetizadas até os 8 anos de idade, meta estabelecida também pelo Ministério da Educação através do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.
No segundo (4º ao 6º ano), o aluno passa a ter mais disciplinas, com um professor âncora até o sexto ano, não mais só até o quinto, e outros docentes que orientarão o desenvolvimento de projetos. Segundo Haddad, isso deve diluir o choque da mudança entre o universo do “único professor para o universo de vários professores”, que normalmente ocorre no quinto ano. E, no último (7º ao 9º ano), o aluno passa ater docentes especialistas para todas as disciplinas.
Além de mudanças na organização curricular e de avaliação, o plano Mais Educação inclui promessas de construção de creches , escolas de ensino infantil e 20 novos CEUs (Centro de Educação Unificado), que também se transformarão em polos da Universidade Aberta do Brasil (UAB) para oferecer cursos de graduação, especialização e mestrado a distância para professores .
Dados da Pnad mostram redução lenta no número de analfabetos. Ministério da
Educação comemora evolução nas matrículas escolares
O cumprimento das metas para o fim do analfabetismo no país exigirá esforços
extras. A redução
em 0,3 ponto percentual na taxa de analfabetos com mais de 15 anos – de 10%
em 2008 para 9,7% em 2009 –, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísca (IBGE), não é suficiente para cumprir a projeção acordada
pelo Brasil em 2000, na Conferência Mundial de Educação, em Dacar.
“O Brasil deve chegar, em 2015, a um índice de analfabetismo de 6,7%, segundo
acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco). Neste ritmo, chegaremos lá em 7,9%", diz Mozart Neves Ramos,
membro do conselho do movimento Todos pela Educação.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, admite as dificuldades, mas ainda
acredita que o acordo será cumprido. “Esta não é uma tarefa qualquer e terá de
ser feito um esforço adicional. Teremos de envolver todos os prefeitos nisso,
porque essas pessoas estão dispersas no País”, observa.
O ministro ressaltou que a média de idade do analfabeto brasileiro é de 56
anos, mora na área rural e no Nordeste brasileiro. “Na área urbana, a taxa de
analfabetismo entre a população de 15 a 49 anos é de 3,67%. Na área rural, entre
quem tem mais de 60 anos, o índice sobre para 51,28%. Estes analfabetos estão
dispersos e são economicamente ativos. Então, têm pouco tempo disponível para
estudar”, opina.
Ramos, que já foi secretário da Educação em Pernambuco, concorda que o
problema é concentrado entre os que estão nas faixas etárias mais altas das
áreas rurais do Nordeste, e sugere algumas mudanças nas políticas públicas para
a alfabetização de jovens e adultos. Primeiro, acredita que deve ser criado um
indicador nacional para medir a alfabetização dos brasileiros com mais de 18
anos, a partir do qual os gestores podem ser responsabilizados pelos resultados.
“O não cumprimento das metas deve ter consequências legais, como corte de
repasses aos municípios, por exemplo”, explica Ramos.
O movimento Todos Pela Educação ainda chama a atenção para o alto índice de
brasileiros que são analfabetos funcionais, aqueles que conseguem ler uma frase,
mas não interpretam um texto. A soma deles aos clássicos resulta em uma parcela
de 30% da população com algum tipo de problema de alfabetização. “Este dado é
muito grave para um país que quer diminuir as desigualdades sociais”, afirma
Ramos.
Para Haddad, o resultado do Censo Demográfico de 2010 será útil para definir
as próximas políticas públicas para a área. Os números mais exatos ajudarão a
encontrar essas pessoas e darão uma noção mais exata de quantas elas são, diz o
ministro.
Foto: Arte/iG
Nordeste concentra as maiores taxas de analfabetismo do País
Boas notícias
Na contrapartida dos números referentes à alfabetização, as boas notícias da
Pnad sobre a educação aparecem na evolução das taxas de escolarização. Haddad
comemora, principalmente, o crescimento
de matrículas entre a população de 4 e 5 anos e de 15 a 17 anos. Para ele, o
IBGE mostra que a meta de incluir todas as crianças e adolescentes nessa faixa
etária nas escolas do País até 2016 é “factível” e “será cumprida”.
Até o ano passado, a oferta de ensino público era obrigatória apenas para os
estudantes entre 6 e 14 anos. No fim de 2009, a Emenda Constitucional nº 59
tornou a garantia de acesso à escola obrigatória para todas as crianças e
adolescentes com idade entre 4 e 17 anos.
Os dados da Pnad revelam que, no último ano, a taxa de escolarização –
proporção entre a população total em uma faixa etária e a frequencia escolar
delas – das crianças com idade entre 4 e 5 anos aumentou 2 pontos percentuais.
Entre os adolescentes, subiu 1,1 ponto percentual.
“Houve um crescimento em todas as faixas etárias, e a escolarização tem um
impacto direto na renda das pessoas", diz Ramos, do Todos pela Educação. "Neste
quesito, as políticas públicas estão funcionando", avalia.
Ao todo, 3.630.000 ainda precisarão ser matriculados nos colégios
brasileiros. São muitos, mas o ministro acredita que o desafio será cumprido nos
próximos cinco anos. Para ele, a tarefa mais difícil será cumprir as metas de
inclusão de estudantes na faixa etária dos 15 aos 17 anos. A primeira
justificativa é o próprio nível de inclusão. “É mais fácil subir do patamar de
75% do que de 85%, como é o caso dos adolescentes. Neste caso, o desafio não é
só garantir o acesso, construir espaços físicos”, analisa o ministro.
Segundo Haddad, há problemas socioeconômicos que precisam ser solucionados
para que os jovens permaneçam na escola. “As políticas para isso são mais
complexas. Um terço das meninas de 15 a 17 anos que estão fora da escola, por
exemplo, é mãe. Há problemas socioeconômicos que precisam ser resolvidos”,
afirma.
Fortalecer a Educação de Jovens e Adultos (EJA), antigo supletivo, tornando
os currículos mais atraentes, inclusive com a oferta de formação profissional, é
uma das alternativas para manter esse jovem na escola, de acordo com Haddad. Ele
acredita que a profissionalização é uma das grandes demandas da sociedade a
partir de agora.
Estes dados precisam ser atualizados, sabemos que não houve muitas mudanças...
Estudo realizado pela UFMG com 41 mil crianças mostra que reprovados não
aprenderam mais no ano seguinte
Estudar a mesma série duas vezes seguidas não contribui em nada para a
aprendizagem das crianças com dificuldades. Essa é a conclusão de um estudo
realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Três pesquisadoras
analisaram o desempenho de 41 mil estudantes em dois anos seguidos. Elas
garantem que os alunos que ficaram para trás continuaram sem aprender o que
deveriam.
As pesquisadoras Vania Candida da Silva, doutoranda em Demografia pelo Centro
de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar), Juliana de Lucena
Ruas Riani, da Faculdade de Itaúna, e Tufi Machado Soares, da Universidade
Federal de Juiz de Fora, dizem que se não houver projetos específicos para
ajudar essas crianças, a repetência só aumenta os traumas e a desmotivação.
“A repetência por si só não é benéfica para o aluno que não consegue adquirir
habilidades adequadas ao longo do ano. Se ele não tiver acompanhamento
diferenciado, de nada adianta. A reprovação deve ser indicada apenas em casos
extremos. Se o método não mudar, esse aluno que não aprendeu vai continuar sem
aprender, com a auto-estima baixa e desmotivado”, afirma Juliana.
Durante a pesquisa “Repetir ou progredir? Uma análise da eficiência da
repetência nas escolas públicas de Minas Gerais”, Vania, Juliana e Tufi
avaliaram os resultados de 41 mil alunos que participaram do Programa de
Avaliação do Ciclo Inicial de Alfabetização (Proalfa) de 2008 e 2009. Criado em
2005, o exame pretende medir o desempenho de alunos das séries iniciais das
escolas públicas municipais e estaduais de Minas Gerais.
O Proalfa avalia, anualmente, conhecimentos de leitura e escrita de
estudantes do 3º ano do ensino fundamental. Aqueles que não obtêm bons
resultados repetem a avaliação no ano seguinte, independentemente da série que
estejam cursando. As 41.635 crianças analisadas no estudo apresentaram baixo
desempenho em 2009. Do total, 5.483 eram repetentes.
Segundo Juliana, entre os estudantes que apresentaram baixo desempenho em
2008, os que foram aprovados mostraram evolução maior na avaliação do que os
repetentes na prova aplicada em 2009. “O que só prova que não adianta repetir
sem oferecer acompanhamento adequado ao aluno para que ele supere as
deficiências. As séries iniciais são a chave de todo o ensino, por isso
escolhemos essa fase para estudar”, diz.
Complicadores
As pesquisadoras ressaltam que, na rede pública mineira, existe uma
orientação para que as crianças não sejam reprovadas no ciclo de alfabetização
(três primeiras séries do ensino fundamental) e entre os 4º e 5º anos do
fundamental. Apesar disso, muitos estudantes continuam sendo reprovados. A rede
estadual registrou 9,84% de repetência no 3º ano e a municipal, 14,69%.
No País, o índice de reprovação em 2008 – últimos dados divulgados pelo
Ministério da Educação – chegou a 13,5% no 3º ano do fundamental. A porcentagem
representa pouco mais de meio milhão de estudantes: 526 mil crianças. Para o
Conselho Nacional de Educação (CNE), de acordo com o parecer 04/2008, os alunos
que cursam as séries iniciais do ensino fundamental, nas quais ainda estão
aprendendo a ler e a escrever, não poderiam ser punidos de forma tão severa.
A pesquisa desenvolvida pela UFMG revela ainda que os meninos representam a
maior parte dos estudantes repetentes (57%) e, nesse perfil das crianças que são
reprovadas, a maioria não frequentou a pré-escola. Chama a atenção outra
característica, talvez a mais perversa: a minoria dos que repetiram em 2009
passavam por isso pela primeira vez (453). Quase 4 mil crianças que participaram
do Proalfa já haviam repetido uma ou até três vezes alguma série do ensino
fundamental.
O estudo relaciona o desempenho dos estudantes diretamente à qualidade da
escola. Os dados analisados pelas pesquisadoras mostram que a proficiência das
crianças repetentes é menor quando elas estudam em colégios que também têm
desempenho ruim. “Decidimos estudar o tema por causa da falta de consenso entre
especialistas sobre o impacto da repetência na vida escolar da criança e porque
a base de dados do Proalfa permite o acompanhamento do desempenho dos mesmos
estudantes em dois ou mais anos”, destaca Juliana.
Precisamos atualizar estes dados, apesar de sabermos que não houve muitas mudanças...
Ministério da Educação elabora base curricular comum para cada etapa e que deverá ser seguida por todo o País
A criação de um currículo mínimo – e igual – para todos os estudantes brasileiros levanta polêmica entre pesquisadores, pedagogos e gestores há anos e, agora, preocupa o Ministério da Educação. Apesar de o país possuir documentos que orientam a organização das etapas de ensino, o MEC recrutou especialistas para elaborar uma nova base curricular comum.
Futura Press
Base curricular para alunos divide os especialistas
Para o secretário de Educação Básica do MEC, Romeu Caputo, esse é um processo “natural” depois de as Diretrizes Curriculares Nacionais terem sido aprovadas. Nos últimos 15 anos, integrantes do Conselho Nacional de Educação (CNE) debateram o assunto e elaboraram as orientações para cada etapa de ensino. Mas a avaliação é de que elas são insuficientes.
“Não teríamos como discutir essa base comum, cuja criação está determinada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sem as diretrizes. Esse é um segundo passo, que vem de uma constatação a partir do diálogo do governo com sociedade e a academia: a de que nós poderíamos e deveríamos detalhar mais as orientações curriculares”, afirma Caputo.
A constatação do secretário foi repetida por diferentes participantes de congresso educacional promovido na última semana pelo movimento Todos pela Educação em Brasília. Nos debates, que não eram sobre o tema, a organização curricular foi bastante citada. “Hoje, o discurso em educação já é mais coeso em torno do professor, dos currículos, da avaliação”, acredita Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.
Paula Louzano, pedagoga e doutora em Política Educacional pela Universidade de Harvard, resume a argumentação de quem defende o estabelecimento de currículos mínimos mais detalhados. “É uma garantia de direitos. Todos precisam aprender a mesma coisa, mas hoje o menino da periferia aprende menos. Essa diversidade está gerando desigualdade”, critica.
Para a pesquisadora, estabelecer o que todo estudante brasileiro, de qualquer canto do país, tem de aprender não restringe o trabalho da escola. A perda de autonomia do professor e o receio de desvalorização do conhecimento regional são os argumentos de quem critica a definição de uma base curricular nacional.
“Temos de quebrar o paradigma. Esse discurso (de que padrão é desnecessário) é conservador, porque mantém o status quo. E ninguém nega que o professor tem de ter liberdade para ensinar. Mas ele precisa saber o quê”, afirma Paulo, que é professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Ela ressalta que as orientações atuais são vagas.
Além de orientar o trabalho dos docentes, a base curricular comum ajudará a definir políticas públicas. A análise, feita pelo secretário Romeu Caputo, se baseia nos programas conduzidos pelo MEC de formação de professores, aquisição de livros didáticos, avaliação nacional. Para Paula, é incoerente o país ter criado avaliações antes do currículo. “É uma inversão”, diz.
“A base não será uma camisa de força para os sistemas locais, mas ela deve ser suficientemente detalhada para orientar as políticas nacionais do MEC. O nível de detalhe é o que estamos discutindo nesse grupo de trabalho, que reúne gestores, especialistas, pesquisadores”, conta Caputo. O documento não tem data para ficar pronto.
As diretrizes atuais falam do tipo de educação que o Brasil deseja – para a inovação, valorizando a cidadania, os direitos humanos, contemplando o direito à entrada na universidade e no mundo do trabalho e valorizando a interdisciplinaridade de conhecimentos – mas não especifica, por exemplo, quais conteúdos ajudariam a alcançar esses objetivos.
O secretário acredita que, mais importante do que o documento, será debater essa ideia com os educadores. Os especialistas reconhecem que esse é um tema difícil, porque choca diferentes interesses. “Em minha trajetória como secretário de educação, nunca vi esse debate convergir. É um assunto espinhoso, que sempre teve resistência”, conta Binho Marques.
Marques foi secretário municipal e estadual de educação, governador do Acre e, agora, atua como secretário de Articulação com os Sistemas de Ensino do MEC. Para ele, a educação brasileira crescerá em qualidade quando os sistemas de ensino – municipais, estaduais e federal – se alinharem em currículos, formação de professores e avaliação. “Nessa ordem.”
“A escola tem de ter autonomia, mas não pode fazer o que quiser. O que o país pensa e quer para os seus filhos precisa ser contemplado em uma base curricular comum”, defende.
Discórdia na nomenclatura
No Ministério da Educação, os debates evitam falar em currículo nacional para não criar mais polêmica. Ainda há muitas discussões entre gestores e especialistas por causa da diversa nomenclatura utilizada por cada um: base nacional comum, padrão, currículo mínimo, orientações curriculares, diretrizes.
“Autonomia sem ancoragem é abandono. Um professor não pode fechar a porta da sala de aula e fazer o que quiser lá dentro, mas também não faremos uma sociedade transformadora sem autonomia da sala de aula, de professor e alunos. Não se deve confundir isso”, opina o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques.
O conselheiro do CNE Francisco Córdão, que elaborou muitas das diretrizes acredita que o país não precisa de mais documentos, mas reconhece que o currículo é tema pouco debatido na sala de aula. “As orientações precisam ser colocadas em prática e o currículo escolar é fundamental para ajudar o professor”, diz.
Caputo garante que as novas propostas não mudarão por completo a estrutura dos currículos atuais. Houve muita especulação, por conta de declarações do ministro Aloizio Mercadante, de que uma reforma curricular radical seria realizada. “O que estamos induzindo é o que já acontece no ensino médio inovador, por exemplo, baseados nas diretrizes atuais”, conta.
As experiências de escolas que aderiram ao projeto inovador coordenado pelo MEC são de escolas em tempo integral, que promovem integração de disciplinas, valorizam artes, esportes, preparação para o trabalho. “Não vamos impor currículo, mas promover mudanças e soluções”, afirma Caputo.
Superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária critica a falta de políticas específicas para esses alunos
Divulgação
Anna Helena Altenfelder, Superintendente do
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitária
Nos últimos anos, as políticas e os programas de governos estaduais, municipais ou o federal se concentram na educação infantil, no ciclo da alfabetização ou no ensino médio. Mas a trajetória escolar que os une – os quatro últimos anos do ensino fundamental, chamados de anos finais ou fundamental II – tem sido constantemente esquecida.
Esse “esquecimento”, lembra a pedagoga Anna Helena Altenfelder, pode custar caro. Todo o investimento feito nas etapas iniciais pode se perder. “Se não encararmos o desafio de repensar o fundamental II, vamos perder esforços”, ela diz, categórica. Para ela, o país age como se a qualidade dos anos iniciais fosse naturalmente chegar aos anos finais.
Segundo ela, que é doutora em psicologia e superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), essa lógica está equivocada. “Os indicadores mostram o contrário, estamos perdendo as conquistas”, pondera.
A pesquisadora, que atua também como formadora de professores, conversou com o iG sobre o tema no Congresso “Educação: agenda de todos, prioridade nacional”, organizado pelo movimento Todos pela Educação.
Confira os principais trechos da entrevista:
iG: Como você avalia os anos finais do ensino fundamental no Brasil? Anna Helena: Essa fase é conhecida como “o ciclo esquecido”. Um dos fatores é que ele está dividido entre as redes municipais e estaduais. Além disso, existem poucas pesquisas focadas no que chamamos de ensino fundamental II. O próprio Plano Nacional de Educação pouco se refere a metas específicas. Essa fase não é considerada nas suas especificidades, nem nas políticas nem nas pesquisas. iG: Por que isso acontece? Anna Helena: Talvez porque, no Brasil, historicamente, houve um esforço em olhar o início da trajetória e depois o ensino médio. Como se a qualidade dos anos finais do fundamental fosse uma decorrência de um bom início. Mas o que a gente observa nos indicadores é justamente o contrário: temos avanços nos anos iniciais e os perdemos nos finais. É difícil dizer por que isso acontece. Essa divisão entre as redes, que ainda não têm um sistema articulado, atrapalha. As redes municipais acabam focando os anos iniciais do fundamental e as estaduais, o ensino médio. O fundamental II não se torna prioridade de nenhuma. Além disso, essa é uma fase muito específica, que traz uma grande mudança na organização da escola. Os alunos deixam de ter um professor, uma referência única, uma rotina, e passam a ter cinco professores ou mais, muitas vezes sem nenhum tipo de orientação. Não é um problema só da rede pública. Essas especificidades não são consideradas. iG: Se o país não encontrar saídas para solucionar essas dificuldades vai perder as melhorias de aprendizagem que conseguiu com essa geração? Anna Helena: Eu não tenho dúvida disso. Se não encararmos o desafio de repensar o fundamental II, vamos perder esforços. Não adianta pensar no ensino médio. Há uma evasão muito grande nessa fase, o índice de distorção idade-série é alto, há muitos meninos atrasados e nós sabemos que o aluno em atraso hoje é o que vai abandonar a escola amanhã, porque ele se desmotiva. Há um número enorme de meninos que não chega ao ensino médio. iG: Quais problemas, além do estranhamento da mudança, marcam essa fase? Anna Helena: É preciso entender a especificidade dessa faixa etária. É uma fase de transição, em que os alunos começam a procurar mais autonomia, querem protagonismo, sentem que não são mais crianças e precisam ser reconhecidos assim. É um desafio para a escola entender como dialogar com esse jovem, que está inserido num mundo com as novas tecnologias, que tem outro ritmo e, certamente, outras formas de aprender. A escola tem de estabelecer um diálogo com a cultura, o interesse e as necessidades deles. É um grande desafio, mas a gente precisa pensar numa revisão curricular, na reorganização dos tempos e espaços da escola, que são marcados por aulas de 50 minutos, em que um professor entra e outro sai da sala, muda o assunto, não tem conversa. Isso não responde mais às necessidades deles. iG: Existem soluções possíveis, de curto prazo, para resolver esses problemas? Anna Helena: A polivalência de professores é uma medida fácil de ser tomada, que eu vejo com bons olhos. Seria o aluno ter o mesmo professor por mais tempo no 6º e no 7º anos e depois ir aumentando a quantidade de docentes. Mas isso demanda assessoria a esse professor, um projeto pedagógico bem feito. Outra coisa seria repensar a organização dos tempos e dos espaços, buscar a interdisciplinaridade por meio de projetos que possam dar um sentido mais comum e articulado. Essa é também uma fase em que os pais se distanciam da escola e a escola não tem o empenho para chamá-los. Pensar uma política para trazer as famílias para perto também é boa. Outra possibilidade é criar maneiras de usar as novas tecnologias como canal de vinculação com o mundo deles, que é de cultura digital. iG: As avaliações e os processos seletivos têm influenciado de maneira negativa os anos finais do fundamental? Anna Helena: Tenho observado empiricamente que a preocupação com o vestibular chega cada vez mais cedo. Acho que, no país, acontece uma inversão: nós pautamos o currículo pela avaliação. É um evento perverso, porque deveria ser o contrário. O exame deveria ser feito a partir do currículo que é comum para todos. Isso acaba atrapalhando oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento de habilidades e competências que seriam importantes, como descobrir novas coisas para atuar melhor no mundo e não para passar num exame. iG: Como temos de lidar com o tema da reprovação, sempre tão controverso, nessa fase? É preciso reprovar nessa etapa? Anna Helena: Há uma discussão que é anterior a reprovar ou não, que não é feita. De nada adianta você reprovar um aluno se você não acompanha o processo de aprendizagem dele e não toma medidas efetivas para que ele aprenda o que não conseguiu. Do mesmo jeito de que de nada adianta aprovar se também não é feito esse monitoramento da aprendizagem. A reprovação não é um instrumento que possibilite aprendizagem, nem nessa fase nem em nenhuma outra. É importante que eles continuem no curso da escola desde que haja planejamento e ações efetivas para ajudá-lo a aprender o que precisa.
Empreendedores conseguiram os primeiros trocados antes dos 18 anos
Após
ver a firma do pai quebrar, o adolescente Kauê Linden decidiu
empreender por conta própria. Foi emancipado aos 17 anos para abrir sua
empresa, reformou o quarto de empregada de casa e fundou ali a Hostnet,
uma provedora de serviços de internet, hoje com 40 mil clientes e uma
sede instalada no Rio de Janeiro.
Aos 14 anos, antes
mesmo de ser um empresário precoce, ele já ganhava uns trocados
trabalhando com o pai, arrumando computadores e organizando eventos
esportivos na web. Aos 18, Linden bancava as próprias despesas e, um
ano depois, saiu de casa. Foi quando começou a ajudar os pais
financeiramente, além do auto sustento. “Como todo jovem, tive um
impulso consumista quando comecei a ganhar dinheiro. Gastei bastante
com viagens, passeei de helicóptero e ainda pagava aluguel”, conta. Em
pouco tempo, porém, ele percebeu que deveria se educar financeiramente
e começar a acumular patrimônio.
O jovem abriu uma empresa de publicidade
com um sócio, diversificou o capital em fundos imobiliários e investiu
em uma carteira de ações com 20 companhias. Hoje, aos 30 anos, tem um
imóvel quitado e não possui dívidas.
Se
tivesse seguido uma carreira corporativa, Linden acredita que não teria
conquistado esse patrimônio tão rápido. “Carteira de trabalho é
sinônimo de escravidão. Você só consegue antecipar a liberdade
financeira se empreender”, diz ele, que iniciou seu negócio antes de a
bolha da internet estourar, nos anos 2000.
O caminho da emancipação
Pelo
exemplo de Linden, empreender pode ser uma das vias mais curtas rumo à
independência financeira. Ao contrário da chamada “geração canguru” –
adultos que vivem sob as asas dos pais – ele está na contramão de
estatísticas que apontam uma tendência de emancipação cada vez mais
tardia.
Existem 3 milhões de famílias no Brasil, das
classes média e alta, sustentando filhos acima de 30 anos, das classes
média e alta, de acordo com o último levantamento do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgado em 2012.
O
jovem se torna independente quando é capaz de cobrir seus gastos fixos,
semifixos e variáveis, explica a consultora financeira Suyen Miranda.
“Significa que a pessoa não depende mais de terceiros para pagar as
contas”.
Aluguel, condomínio e prestações de
financiamentos entram na planilha das despesas fixas, enquanto contas
de energia, telefone e água, por exemplo, ficam mais caras ou baratas
conforme o uso. Já os gastos variáveis incluem lazer, alimentação e
transporte (abaixo, veja como fazer a simulação de seus gastos).
Fabricando o próprio dinheiro
A
veia empreendedora também foi o caminho para Matt Montenegro tornar-se
independente ainda cedo. Ele ingressou no grupo de 1,5 milhão de
empresários entre 16 e 24 anos existentes no Brasil, segundo o Data
Popular. Aos 18 anos, ele gerava todo o dinheiro que precisava para
viver e ajudava os pais nas despesas de casa.
Matt Montenegro: faturava R$ 100 por dia com a venda de balas para colegas da escola
Fundador do beved.com.br – um
marketplace de aulas presenciais e online –, Montenegro começou a
empreender ainda na escola, em 2003, vendando os pedaços de pizza Hut
que sobravam da refeição dos pais no domingo à noite.
Montenegro
ampliou a venda de balas e doces nos intervalos da aula, até que seus
pais foram chamados pela diretoria. A concorrência do filho estava
incomodando os donos da lanchonete da escola. Propôs um acordo para
vender produtos diferentes dos da cantina, e seguiu com o negócio.
Chegou a faturar R$ 100 por dia e contratou um colega para ajudar nas
vendas.
Ao fim do colégio, abriu uma loja de
camisetas e trabalhou em startups, onde teve inspiração para atuar no
ramo de tecnologia. Entre 2008 e 2009, Montenegro abriu um site com
ofertas de aluguel de apartamentos, similar ao AirBnb.
O
rapaz mudou o foco do negócio para a área de educação, quando lançou o
beved.com.br em julho de 2012, com a ideia de possibilitar o ensino por
demanda. Em janeiro, o site entrou no azul com 13 mil usuários
cadastrados e gerou faturamento de R$ 90 mil, em sete meses, apenas
para um professor de design que oferece suas aulas na plataforma.
Para
Montenegro, o apoio dos pais para empreender foi fundamental para
conquistar a independência ainda cedo. “Começou mais como um desafio
cheio de adrenalina e satisfação do que uma lista de obrigações, somado
ao instinto de sobrevivência”, conta.
Como incentivar a independência
Os
pais podem incentivar a emancipação precoce dos filhos ainda no berço.
Um dos caminhos é investir em previdência privada ou montar uma
poupança desde o nascimento, segundo a consultora Suyen. “Ao longo de
18 anos, valores mensais de R$ 50 podem resultar em um bom patrimônio”.
O
dinheiro da previdência costuma ser usado para presentear a prole com
um carro ou casa, além de pagar a universidade ou um curso no exterior.
Mas se o objetivo for fazer o filho fabricar o próprio dinheiro,
observa a especialista, a dica é usar essa capital para a abertura da
empresa do jovem.
Alguns possuem propensão natural
para a independência, que costuma despertar por volta dos 12 anos. “A
criança ou adolescente pode oferecer serviços que saiba fazer bem, como
aulas de reforço, lavagem de carros, informática ou venda de
bijuterias”, exemplifica.
Os pais têm condições de
ajudar nesse processo, explica Suyen, orientando o jovem sobre quanto
cobrar pelo serviço e como conseguir clientela.
Na
opinião da especialista, a emancipação tardia de jovens adultos é mais
um traço cultural do brasileiro do que financeiro. “Muitos pais não
querem que os filhos sejam independentes. Nossa cultura não estimula o
jovem a viver sozinho”.
Na ponta do lápis
Para
descobrir se é o momento ideal de tornar-se independente dos pais ou
tutores, faça uma simulação da soma de todas as despesas que você teria
se saísse hoje de casa, conforme o padrão de vida escolhido:
Gastos fixos
Aluguel, condomínio, dívidas, assinatura de TV a cabo, internet e prestações de financiamento.
Gastos variáveis
Conta de luz, telefone, água, gás.
Gastos variáveis
Cinema, restaurantes, roupas, transporte, educação e outros.